O romance proibido de Coco Chanel e Igor Stravinsky

05 setembro 2023 às 15h57

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Com a chegada de um feriado no meio da semana trago sugestão de um filme onde música e moda se encontram. O longa, disponível nas plataformas digitais, foi baseado no livro de Chris Greenhalgh – “Coco Chanel & Igor Stravinsky”.
O enredo coloca em primeiro plano o romance proibido de duas personalidades extremadas: a estilista Gabrielle Coco Chanel (1883 – 1971) interpretada pela atriz francesa Ana Mouglalis e o compositor russo Igor Stravinsky (1882 – 1971) vivido pelo dinamarquês Mads Mikkelsen.

O filme retrata a frenética Paris do início do século 20, na estreia do balé “A sagração da primavera“, com música de Igor Stravinsky, coreografia e dança de Vaslav Nijinsky (1889 – 1950) e cenário arquitetado pelo artista plástico Nicholas Roerich (1874 – 1940).
A estreia da Sagração da Primavera foi uma noite emblemática, ocorrida em maio de 1913, provocando reações violentas do público no Teatro Champs-Elysées. Sobraram vaias para todos os lados, e o caos se instaurou na plateia. Diversos músicos e maestros se retiraram do teatro logo no começo da apresentação.

Nessa plateia, uma artista fora do comum – a estilista francesa Coco Chanel, que rompia parâmetros da moda e caminhava para tornar-se sinônimo de figurinos clássicos que ultrapassariam seu tempo. Segundo o filme, nascia também, naquela noite de 1913, a semente de um romance que só frutificaria sete anos depois, entre Coco e Stravinsky.
A célebre obra, que na época causou tanta polêmica ao embalar o balé em dois atos, é hoje considerada um ícone da música de concerto. Não foi ao acaso, Sagração da Primavera, subverteu a estética musical do século XX, dando origem ao Modernismo, revolucionando praticamente todas as principais características da música de então. O arcabouço do ritmo, a estrutura orquestral, o timbre, a forma, os aspectos harmônicos, a maneira como se utilizava as dissonâncias, e, o valor conferido à percussão que sobressai a melodia, algo impraticável até aquele momento histórico.
Além da música de Stravinsky causar tanto espanto, a coreografia de Nijinsky incluía muitos passos “anti-dançantes”. O figurino, desenhado por Nicholas Roerich, era muito grande e pesado, algo totalmente oposto ao figurino tradicional. Nada lembrava a elegância e a leveza de um balé tradicional.

Ainda hoje, a natureza subversiva de Sagração da Primavera deixa o público atônito. O teor provocativo e incivilizado no qual desfilam no palco cenas ancestrais e excêntricas despertam, em quem as assiste, emoções e aflições.
No vídeo abaixo, assistiremos a um trecho da primeira cena do filme “Coco Chanel & Igor Stravinsky” (France, Jan Kounen, 2009), que reconstitui de forma bastante acurada como deve ter sido a escandalosa estreia de “Sagração da Primavera”. Segundo relatos, todos os aspectos da performance são baseados em fontes históricas fidedignas.
Observe que a linguagem de Stravinsky centra-se principalmente no ritmo, totalmente destacado em sua estética. “Sagração da Primavera” é a renúncia ao universo da lógica e da objetividade, um reflexo do mundo moderno. Vale a pena ouvir a obra e assistir este filme memorável.