Conhecido por sua maestria, técnica e expressividade musical, José Eduardo Martins, conquistou o título de “pianista perfeito” pela crítica francesa. Além de sua atuação brilhante como pianista, ele também é reconhecido como professor, pesquisador e divulgador da música de concerto, principalmente do repertório “não frequentado”.

“(…)José Eduardo é um intérprete excecional, com uma discografia exemplar” (…) “Martins é perfeito”

François Servenière, compositor e crítico francês

O renomado pianista brasileiro se apresentou ao vivo pela última vez no Museu Nacional da Música, em Lisboa, na ultima semana, em um programa cuidadosamente selecionado devido à sua ligação afetiva com Portugal.

José Eduardo Martins | Foto: Reprodução

Esta última atuação ao vivo do pianista brasileiro ocorre quase 70 anos após sua estreia em 1953, em um recital em São Paulo. Nascido nessa cidade brasileira em 1938, José Eduardo Martins iniciou seus estudos de piano com o professor russo José Kliass (1895 – 1970).

Posteriormente,  passou anos trabalhando em Paris, no final da década de 1950, com renomados mestres do Conservatório da capital francesa como Marguerite Long, e Louis Saguer.

José Eduardo Martins e o Professor José Kliass | Reprodução

A influência de Louis Saguer no percurso de José Eduardo Martins foi fundamental, como destacou o próprio pianista:

“Saguer era crítico do virtuosismo vazio, da repetição de repertório e de programações sem interesse musical e social, mas também era um profundo conhecedor da música portuguesa, desde o Renascimento de Manuel Rodrigues Coelho até o século XX de Fernando Lopes-Graça, com quem mantinha amizade”.

Além de sua dedicação à música francesa, que inclui interpretações de Gabriel Fauré, Ravel, ciclos completos de Rameau e Claude Debussy, Martins também explorou obras de compositores como Mussorgsky, Alexander Scriabin e uma variedade de artistas brasileiros e portugueses, como Villa-Lobos, Cláudio Santoro, Gilberto Mendes e Jorge Peixinho, bem como expressões europeias contemporâneas incluindo os belgas Lucien Posman, Hans Cafmeyer, Frederick Devreese e Raoul De Smet.

O concerto, dedicado aos compositores de Portugal, Brasil e França, contou com obras de Henrique Oswald, Francisco Mignone, Gilberto Mendes, Carlos Seixas, Francisco de Lacerda, Fernando Lopes-Graça, Eurico Carrapatoso e Jean-Philippe Rameau.

O programa escolhido para esta despedida especial leva em consideração a conexão afetiva de José Eduardo Martins com Portugal. O pianista relembra momentos marcantes de sua carreira, como a apresentação das Sonatas de Carlos Seixas em seu primeiro recital em Lisboa, em 1959, na Academia de Amadores de Música, a convite do compositor português Fernando Lopes-Graça.

Ao longo de sua carreira, José Eduardo Martins gravou seis álbuns dedicados à música portuguesa, destacando-se pela sua dedicação em resgatar obras esquecidas e apresentá-las ao público internacional.

Entre suas notáveis realizações, destaca-se a gravação da integral de Francisco de Lacerda, incluindo a versão para piano das “Trente-six histoires pour amuser les enfants d’un artiste”. Além disso, o pianista realizou a primeira gravação completa de “Viagens na Minha Terra”, de Lopes-Graça, considerado um dos mais proeminentes músicos de seu tempo.

Martins também dedicou dois álbuns às Sonatas de Carlos Seixas, defendendo apaixonadamente que: “enquanto não estiver justamente conhecido e interpretado nas principais salas de concerto do mundo, uma falta irreparável estará a ser perpetrada”.

Sua carreira revelou também seu compromisso em preservar a herança musical brasileira, José Eduardo empreendeu o resgate da obra esquecida do compositor romântico Henrique Oswald. Gravou a integral de sua obra para violino e piano, violoncelo piano e Quarteto com piano, além de uma ampla seleção de obras para piano solo, como Valsas, Noturnos e a Sonata em Mi Maior.

A dedicação de Martins a Oswald também resultou na publicação do livro “Henrique Oswald – Músico de uma Saga Romântica”.

Curiosamente, durante todas essas décadas, Goiânia tornou-se um lugar especial para o “pianista perfeito” José Eduardo Martins assim se expressa sobre Goiânia:

“(…) ao longo desses anos tenho salientado meu afeto pela cidade de Goiânia, mormente graças às inúmeras amizades existentes desde 1970 e que, ao longo, só foram acrescidas por vínculos com gerações mais jovens”.

José Eduardo Martins em recital na cidade de Goiânia CCUFG, 2018 | Foto: Reprodução

Em suas visitas regulares a Goiânia, José Eduardo teve a oportunidade de compartilhar seu conhecimento e paixão pela música. As salas de aula e os Teatros da cidade testemunharam sua dedicação incansável ao ensino e a performance, inspirando gerações de pianistas a buscarem a excelência musical.

Possuidor de um rico acervo musical constituído de livros, revistas arbitradas e partituras, Martins escolheu a Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, para ser a beneficiária de  grande parte de seu material bibliográfico.

Vida longa a José Eduardo Martins! Goiânia sempre estará de braços abertos para o seu talento, seu carisma e sua dedicação à música.

Ouviremos o “Nocturne Op. 6 Nº 1” do compositor Henrique Oswald, gravado em 18 de junho de 2019 na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte.

Observe a interpretação magistral do pianista José Eduardo Martins, responsável pela redescoberta  do compositor romântico brasileiro.