Requintado e dono de um rico repertório cultural, Tom Jobim (1927-1994) foi muito mais do que uma unanimidade entre o restrito círculo dos decanos da crítica de jazz mundial

O carioca Antônio Carlos Jobim estudou música com grandes ícones da música de concerto. Entre seus mestres estão o alemão radicado no Brasil, Hans Joachim Koellreutter (1915 – 2005) e Lúcia Branco (1897– 1973), também professora do pianista Nelson Freire (1944 – 2021).  

Outra “grande escola” foi a partir de 1954, quando contratado pela gravadora Continental, começou fazer seus primeiros arranjos auxiliado pelo grande maestro Radamés Gnatalli (1906 – 1988).

Seu primeiro grande sucesso foi com a música “Teresa da Praia”, uma parceria com Billy Blanco, gravada em 1954 por Lúcio Alves e Dick Farney. Não por acaso, seu primeiro casamento (1949), foi com Teresa, paulista que conheceu na praia aos 15 anos, e com quem teve dois filhos.

O encontro de Tom Jobim e Vinícius de Moraes (1913 – 1980) se deu em 1956, quando Vinicius estava procurando um músico para trabalhar com sua peça “Orfeu da Conceição”. A obra já existia, Tom a harmonizou e orquestrou. Nascia aí uma das mais importantes parcerias da música popular brasileira. 

A música “Garota de Ipanema”, marca da parceria Tom e Vinicius, chegou a figurar entre as dez canções mais executadas em todo o mundo. Foi à obra que mais projetou o nome de Jobim no exterior. Garota de Ipanema foi gravada por grandes nomes da música, entre eles, Frank Sinatra (1915 – 1998).

Requintado e dono de um rico repertório cultural, Tom Jobim (1927-1994) foi muito mais do que uma unanimidade entre o restrito círculo dos decanos da crítica de jazz mundial. A influência de sua obra alcançou inúmeros músicos populares espalhados no Brasil e ao redor do mundo. 

Segundo Leonard Feather (1914-1994), um dos maiores críticos de jazz norte-americano:

Águas de Março, sem dúvida, é uma das cem maiores melodias do século 20. A sensibilidade de Jobim é algo único. Coisa de Mozart e Erik Satie”.

Amante da natureza e deslumbrado por pássaros, a ponto de compor poemas líricos a sabiás, matitaperês e urubus, Jobim foi um apaixonado pela vida. Morreu aos 67 anos, vítima de um câncer de bexiga, em dezembro de 1994. 

Ao completar 41 anos Tom Jobim foi entrevistado por Clarice Lispector (1920-1977) em matéria publicada pela revista Manchete em 21 de setembro de 1968. Indagado sobre o ato de compor, assim responde Tom Jobim à pergunta de Lispector: “Como é que você sente que vai nascer uma canção”? 

“As dores do parto são terríveis. Bater com a cabeça na parede, angústia, o desnecessário do necessário, são os sintomas de uma nova música nascendo. Eu gosto mais de uma música quanto menos eu mexo nela. Qualquer resquício de savoir faire me apavora”.

Em fevereiro de 2012 Tom Jobim foi homenageado na cerimônia do Grammy pelo conjunto de sua obra e foi o primeiro brasileiro a conquistar tal honraria. 

Ouviremos “Fantasia Tom Jobim” em concerto realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em Janeiro de 2014, tendo como solistas: Marcos Nimrichter, piano; Daniel Guedes, violino; Carmem Monarca, canto; com participação do Quinteto Villa-Lobos. A regência é do Maestro Norton Morozowicz com a orquestra Sinfonia Brasil. A obra executada foi especialmente arranjada por Rodrigo Morte

Observe a riqueza desta música. Viva a música brasileira!