João Donato deixa um vazio no cenário musical brasileiro

Na madrugada desta segunda-feira, 17, o mundo da música brasileira perdeu uma de suas figuras mais brilhantes.  João Donato (1934 – 2023), pianista aclamado, acordeonista virtuoso, talentoso arranjador, cantor carismático e compositor genial, faleceu na cidade do Rio de Janeiro.

Nas redes sociais, artistas renomados e fãs consternados expressaram seu pesar diante da perda irreparável. Marcelo D2, conhecido cantor brasileiro, emocionado, compartilhou suas memórias afetuosas de Donato:

“João Donato foi um dos seres humanos mais incríveis que conheci nessa passagem, um brasileiro sensacional (…) me chamava de Marcelinho e isso enchia meu coração. Vou sentir muito sua falta, meu amigo, descanse em paz.”.

Hamilton de Holanda escreveu:

“ (…) Com sua simplicidade, desconcertante, criou um estilo próprio, rico e econômico, com muito swing e muita alegria. Vamos sentir sua falta, mas sua alegria estará sempre viva.”

A cantora Rosa Passos também lamentou a partida do pianista, expressando sua crença de que Donato agora estará tocando junto com outros ícones da música brasileira como Tom Jobim e João Gilberto.

João Donato nasceu em Rio Branco, no Acre,  em uma família musical, seu pai que era piloto de avião, nas horas vagas tocava bandolim. A mãe cantava e a irmã mais velha, Eneyda, pretendia ser pianista. O caçula, Lysias, pendeu para as letras e se tornou o principal parceiro nas composições com Donato.

João Donato de Oliveira mudou-se para o Rio de Janeiro aos 11 anos, em 1945. Foi na capital fluminense, ao tocar em festas escolares e participar de “jam sessions” que João se aproximou do jazz. Ele teve a oportunidade de se apresentar na sede do Sinatra-Farney Fan Club e na residência do cantor carioca Dick Farney, com quem trabalhou no hotel Copacabana Palace.

Em 1951, Donato abandona o acordeão da infância para se dedicar ao piano. Cinco anos depois, muda para São Paulo e integra o grupo “Os Copacabanas”  com quem gravou seu primeiro disco, o LP “Chá Dançante”, pela gravadora Odeon, com produção do maestro Antônio Carlos Jobim, um dos ícones da bossa nova.

Donato foi um dos pioneiros da bossa nova, atuando como pianista e compositor desde o início dos anos 1950. Sua abordagem moderna ao piano apresentava um toque único e inovador. Ele trabalhou com artistas renomados, como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Nelson Riddle e Wes Montgomery.

Após passar três anos nos Estados Unidos e excursionar pela primeira vez com João Gilberto, João Donato retornou ao Brasil no início dos anos 1970. Foi nessa época que ele gravou o álbum “Quem é Quem”, no qual ele, pela primeira vez, interpretou suas próprias canções.

Donato revelou, em entrevista,  que suas composições instrumentais ganhavam letras posteriormente, e muitas delas  a partir daí, recebia novos nomes. Dessa forma, suas músicas marcaram época e se tornaram clássicos, contando com parcerias de renomados artistas, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Martinho da Vila e Cazuza.

As composições de João Donato eram caracterizadas por uma frase rítmica que se repetia ao longo da música, demonstrando sua habilidade única nos arranjos. Seu talento e contribuições para a música brasileira lhe renderam reconhecimento ao longo de sua carreira. Em 2010, recebeu o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Latin Jazz” pelo disco “Sambolero”. Em 2016, o álbum “Donato Elétrico” foi indicado ao mesmo prêmio na categoria de “Melhor Instrumental” e foi considerado um dos  melhores álbuns brasileiros do ano pela revista Rolling Stone Brasil.

Donato é dono de diversas obras que se tornaram marcos da Música Popular Brasileira (MPB), entre elas: “A rã”, “Nasci para bailar”, “Até quem sabe?”,” Simples carinho”,  “Amazonas” e tantas outras.

Em 2021, o artista lançou o álbum “Síntese do lance”, fruto da parceria com Jards Macalé, onde  o acreano e o carioca misturam de maneira genial samba, bossa nova e jazz.

A partida de João Donato deixa um vazio no cenário musical brasileiro. Sua genialidade, talento e contribuições para a música serão lembrados e apreciados por muitas gerações. Seu legado perdurará através de suas composições atemporais e sua influência duradoura na música brasileira.

João Donato iria se apresentar ao lado de Martinho da Vila no Coala Festival, no dia 16 de setembro. O encontro considerado histórico seria uma apresentação inédita entre os dois músicos.

Ouviremos João Donato interpretando  “Nasci para bailar” (João Donato e Paulo André Barata)  em Show – Instrumental SESC Brasil, realizado em São Paulo em dezembro de 2010,  com João Donato – Piano; Robertinho Silva – Bateria; Luiz Alves – Contrabaixo acústico e  Ricardo Pontes – Saxofone

Observe a magia do piano de Donato. “piano sambista, educado em Debussy e doutorado em Stan Kenton”.

Descanse em paz, João Donato!