A primavera é uma das quatro estações do ano. Ela ocorre após o inverno e antes do verão. No hemisfério sul, onde está localizado o Brasil, a primavera tem início em 23 de setembro e termina no dia 21 de dezembro.

Uma das estações mais aguardadas no Cerrado brasileiro, especialmente em Goiás, a primavera do cerrado traz consigo um espetáculo único. Enquanto no calendário oficial a primavera se inicia em setembro e termina em dezembro, aqui, a natureza tem seu próprio ritmo.

No cerrado, a chegada dessa esperada estação, não é marcada apenas pelo aparecimento das flores, mas também pelo retorno das tão ansiadas chuvas. Por aqui, a  primavera inicia-se meses antes do calendário tradicional, em um ajuste perfeito da natureza. A partir de maio, boa parte das árvores e das espécies que povoam os campos começa a desabrochar. Esse florescimento antecipado é estrategicamente planejado pela natureza, preparando-se para o vento forte que caracteriza julho e agosto na região.

O vento que sopra nesses meses tem um papel crucial, pois é quando as sementes estão prontas para serem levadas pelo ar e espalhadas pelo solo. Assim, quando finalmente chegam as chuvas, tudo está perfeitamente preparado para a germinação, assegurando a continuidade dessa peculiar vegetação  presenteando  a natureza com “tantas lindas flores, mil aromas no jardim”…

A chegada da primavera no cerrado  é muito mais do que uma mudança de estação; é um testemunho da sabedoria e beleza da natureza, uma celebração da vida que nos lembra da importância de preservar e proteger esse ecossistema único que temos a sorte de pertencer.

O renomado compositor brasileiro Henrique de Curitiba (1934-2008), que tinha certa predileção pela música coral, anunciava a chegada da primavera em uma obra escrita para coro intitulada “Vem chegando a primavera”, composta em 1994 e revista pelo autor em 1998.

Henrique de Curitiba (1934 – 2008)

Já Vem a Primavera

Primavera!…

E quando a primavera

Vem chegando

Com mil aromas de jasmim…

Primavera, enfim!

Com novas flores,

Tantas lindas flores,

Mil aromas no jardim…

Primavera em flor,

Nascido em uma família de artistas, tanto ele quanto os irmãos Norton e Milena Morozowicz são nomes consagrados internacionalmente. A avó Natalia Morozowicz foi atriz na Polônia, a mãe, Wanda Lechowski, era pianista amadora, e, o pai, Tadeu Morozowicz, bailarino e coreógrafo formado no Teatro Nacional de Varsóvia e na Escola Imperial de Ballet de Saint Petersburg, na Rússia. Professor Tadeu foi o criador do primeiro curso de ballet do Paraná, na Sociedade Thalia, em Curitiba.

Wanda, Milena, Tadeu e Henrique Morozowicz

Vivendo a maior parte de sua vida na capital paranaense, passou por diversas cidades e países, inclusive Goiânia, onde morou por alguns anos. Compôs, ao longo de sua vida, mais de 150 obras. Com uma produção consistente, é considerado: “um de nossos melhores compositores neoclássicos”.

A última obra escrita por Curitiba antes de sua morte foi uma obra coral, O Verão, parte do esboço para a Suíte Coral – Quatro Estações.

Em conversa informal, em janeiro de 2008 em Curitiba, Henrique contou que a Suíte das Estações estava sendo concluída e seria integrada por Já vem a Primavera (1994), Outono Dolente (2007) e O Verão (2008).

Curiosamente, o inverno era estação que Henrique não apreciava.  Sua partida em fevereiro de 2008, impossibilitou a composição da obra Inverno. A Suíte das Estações findou no Outono Dolente.

Henrique e a avó Natalia Morozowicz na Polônia

O Maestro  Samuel Kerr (1935 – 2023), disse:

“Sempre, encarando o coro como um organismo vivo e sempre abrindo espaço para a criatividade, Henrique de Curitiba agiu como homem de seu tempo, sensível às transformações e preocupando em criar uma música que fosse amada pelo executante e fruída pelo ouvinte”

 “Já vem a Primavera”, anuncia de forma magistral a estação que ora se inicia.

Ouviremos a versão do coro estadunidense “San Francisco Chamber Choir” sob a regência do maestro Johua Habermann com edição do Maestro Norton Morozowicz.

Observe a beleza da sonoridade da obra  e o refinamento desta interpretação.