Nascida em São João da Boa Vista, cidade do interior do Estado de São Paulo, em 28 de fevereiro de 1894, a pianista Guiomar Novaes (1895 – 1979)  se tornou uma das maiores celebridades da música dentro e fora do Brasil.

Guiomar Novaes teve uma trajetória espetacular. Ainda menina inspirou o escritor Monteiro Lobato (1882 – 1948), a criar a personagem Narizinho, do clássico Sítio do Pica-Pau Amarelo. Lobato era vizinho do professor de piano da menina Guiomar. Ao notar a talentosa criança que corporificava a música pelas mãos, olhos e o nariz arrebitado, criou a personagem.

Narizinho de Monteiro Lobato

Considerada um dos maiores fenômenos do século XX na arte do piano, seu aprendizado musical, no Brasil, ficou a cargo do italiano radicado em São Paulo Luigi Chiaffarelli (1856 – 1923).

Luigi Chiaffarelli (1856 – 1923)

Com apenas 13 anos de idade, acompanhada da mãe, embarcou para Paris, em busca de uma das duas vagas destinadas a estrangeiros no Conservatório Nacional de Paris. Examinada por músicos do porte de Claude Debussy (1862 – 1918), Gabriel Fauré (1845 – 1924), Moritz Moszkowski (1854 – 1925) e Lazare Lévy (1882 – 1964), ela obteve o primeiro lugar entre os quase 400 candidatos oriundos de diversas regiões do mundo.

Uma carta enviada por Debussy ao maestro Andre Caplet (1878-1925)l, descoberta em seus arquivos nos anos 1950, traz narrativa preciosa desse exame:

“A ironia habitual das coisas quis que a pessoa mais artística desse grupo fosse uma brasileira de 13 anos. Ela não é bela, mas tem os olhos ébrios de música, e esta capacidade de se isolar de tudo o que está à sua volta, marca característica, ainda que rara, do artista”
Claude Debussy
Paris, 25 de novembro de 1909

O mundo se rendeu ao talento de Novaes, que fez sucesso em turnês pela Europa e Estados Unidos. Sempre acompanhada da mãe, e depois do marido, o compositor /arquiteto Octavio Pinto (1890 – 1950), com quem e se casou em 1922.

Casamento de Guiomar e Octavio

“Miss Novaes é quieta, modesta e séria, não tem compositor nem pianista favorito, e é conservadora em tudo, a não ser no estudo do piano: ‘ toco o que o meu capricho do momento pede – às vezes Bach, Beethoven e Brahms, às vezes a música ligeira de Schumann e Chopin. Não sou clássica nem romântica nos meus gostos musicais, ou talvez seja ambos’ (…) Se outros deixassem o piano se expressar por eles, como ela faz, também devessem falar menos”.
New York Herald
20 de Fevereiro de 1916

Em entrevista para Dean Elder assim relata Guiomar sobre a busca da técnica em suas interpretações:
“Naturalmente preparo tudo, mas quando estou em público, jamais penso na técnica. Apenas toco da maneira que sinto como acho que devo tocar, sem nenhuma preocupação com isso ou aquilo. Simplesmente me permito tocar e ofereço meu humor do momento, o que acho muito melhor do que calcular. Temos que ser generosos ao oferecer o que estamos sentindo e fazendo. Inspiração e intuição são as qualidades mais importantes do artista”.
Guiomar Novaes, 1970

Para Guiomar foram dedicadas obras de grandes compositores, como os “6 Estudos Transcendentais”, de Francisco Mignone (1897 – 1986), o “Concerto No.1 para piano e orquestra”, o “Ponteio No.9” e a “Toccata”, de Camargo Guarnieri (1907 – 1993).

Guiomar Novaes

Em 1938, a imprensa americana a reconheceu como a melhor pianista do mundo. No ano seguinte, foi condecorada pelo governo francês com a Legião de Honra, e, em 1951, escolhida para ser a solista nos eventos que marcaram o concerto de número 5 mil da Orquestra Filarmônica de Nova York.

Em 1965, foi eleita pelo Le Monde como uma das dez melhores concertistas de todos os tempos, e, em 1967, realizou um recital histórico na inauguração do Queen Elizabeth Hall, em Londres, sendo ovacionada durante quinze minutos ininterruptos por onze mil pessoas que exigiram quatro bis ao final.

Sua última apresentação pública ocorreu em 15 de julho de 1973, no Festival Internacional de Música de Campos do Jordão. Em janeiro de 1979, a pianista sofreu um acidente vascular cerebral falecendo em 7 de março de 1979, aos 85 anos.

Ouviremos a grande pianista brasileira interpretando Chopin (1810 – 1849) – Ballade nº 4 em fá menor, opus 52.

Observe a interpretação magistral de Guiomar Novaes que a torna única e incrivelmente espetacular.