Francisco Braga, um dos nomes mais notáveis da música erudita brasileira

18 setembro 2024 às 11h16

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Francisco Braga, destacado compositor brasileiro, soube alinhar modernidade técnica a um senso profundo de identidade nacional em suas obras. Nascido no Rio de Janeiro, em 15 de abril de 1868, Braga iniciou sua formação musical em circunstâncias adversas, no Asilo dos Meninos Desvalidos, e rapidamente despontou como um talento promissor.
Posteriormente sua carreira foi marcada não apenas por uma sólida formação brasileira e europeia, destacando-se seus estudos com Jules Massenet em Paris, mas também por seu profundo comprometimento com a música brasileira e seu papel como regente e pedagogo de referência no país.

Apesar de sua vasta produção, que inclui hinos patrióticos como o famoso “Hino à Bandeira”, com letra de Olavo Bilac, e poemas sinfônicos como Marabá e Insônia, Braga também nos legou obras de câmara que merecem uma atenção especial. Entre elas, destaca-se o Trio para violino, violoncelo e piano, composto em 1930, um exemplo de como o compositor conseguiu conciliar influências europeias com um espírito genuinamente nacionalista.
Este Trio, em particular, exibe um trabalho de grande sofisticação no tratamento dos instrumentos, equilibrando o lirismo das cordas com a densidade expressiva do piano. O terceiro movimento, intitulado Lundu, é uma clara manifestação do interesse de Braga pelo folclore e pelos ritmos populares brasileiros, conferindo à peça uma assinatura nacionalista sem abrir mão de sua linguagem moderna. Essa obra é, sem dúvida, um testemunho do cuidado de Braga em criar algo que fosse agradável aos intérpretes e, ao mesmo tempo, inovador.
Francisco Braga também ousou em formações instrumentais incomuns, o que reflete seu constante desejo de explorar novos timbres e combinações sonoras. A “Cantilena Nupcial para fagote e quarteto de cordas” e o “Diálogo Sonoro ao Luar” para saxofone alto e bombardino são exemplos de sua ousadia na instrumentação. O uso do saxofone, ainda uma novidade no meio erudito de sua época, demonstra o olhar visionário do compositor.
Ao revisitar o Trio para violino, violoncelo e piano, nos deparamos não apenas com uma das peças mais significativas de seu repertório, mas também com uma obra que dialoga diretamente com as questões estéticas de seu tempo. Braga não foi apenas um compositor atento às inovações musicais europeias, mas também um artista comprometido em criar uma linguagem que pudesse traduzir as nuances de sua terra natal.

Ouviremos o Trio para piano, violino e violoncelo de Francisco Braga com o saudoso “Trio Brasileiro” – Gilberto Tinetti, piano; Erich Lehninger, violino e Watson Clis, violoncelo.
Observe que esse Trio carrega em si o espírito brasileiro, misturado ao refinamento técnico de uma tradição que Braga soube incorporar de maneira única.
Resta-nos, portanto, reconhecer o grande legado de Francisco Braga não só como um mestre da música sinfônica e cívica, mas como um compositor de câmara que explorou as infinitas possibilidades de sua arte, sempre com um pé em sua brasilidade e o outro na modernidade musical de seu tempo.