Na manhã serena de Roma, no último 23 de março, o mundo da música clássica ficou mais silencioso, as teclas do piano choram a partida de um de seus mais brilhantes intérpretes: Maurizio Pollini. O adeus do virtuoso italiano reverenciado por sua maestria em Chopin e Beethoven ressoa como um vazio acorde final após uma sinfonia.

Ao anunciar a triste notícia, a prestigiada sala de ópera La Scala expressou seu pesar, declarando:

“Maurizio Pollini foi um dos grandes pianistas do nosso tempo e um ponto de referência fundamental na vida artística do teatro durante mais de cinquenta anos”

IV Concurso Chopin em Varsóvia, na Polônia | Foto: Reprodução

Nascido em Milão, em 05 de janeiro de 1942, em uma família de artistas onde seu pai era arquiteto e músico amador, Pollini fez sua entrada triunfal no mundo da música clássica em março de 1960, ao conquistar o primeiro prêmio no Concurso Chopin de Varsóvia, na Polônia, tornando-se, aos 18 anos, o mais jovem inscrito. O júri, composto por nomes como Nadia Boulanger e Arthur Rubinstein, não poupou elogios ao jovem músico, com Rubinstein proclamando:

Ele já toca melhor do que qualquer um de nós!”.

Após sua vitória, em vez de seguir uma agenda de concertos, Pollini optou por expandir seu repertório, estudando com o renomado Arturo Benedetti Michelangeli.

Para além da música, Pollini se engajava em movimentos políticos, tocava gratuitamente em fábricas e realizava recitais para a elite de Nova York no Carnegie Hall.

Nas décadas de 1970, 1980 e 1990, realizou uma série de gravações premiadas com a Deutsche Grammophon, incluindo a gravação das “Variações Diabelli” de Beethoven, que lhe rendeu o “Diapason d’Or” em 2011, e sua interpretação dos “Concertos para piano nº 1 e nº 2” de Bartók, que lhe valeu um Grammy.

Em uma entrevista para o “The New York Times” em 1993, Pierre Boulez tentou definir a personalidade de Pollini:

“Ele não fala quase nada, mas pensa bastante”.

Rotulado de “pianista chopiniano” na juventude, Pollini afirmou-se na maturidade interpretando obras de Beethoven, Schumann, Schubert e Brahms, sendo aclamado pela crítica.

Maurizio Pollini
Foto: Reprodução

Seu legado em Chopin é monumental, destacando-se sua interpretação dos “Noturnos” em 2004, considerada uma das melhores já ouvidas.

Mas Pollini era mais do que um mero guardião do passado; ele era um visionário, abraçando as vanguardas musicais e desafiando fronteiras estilísticas. Sua colaboração com compositores contemporâneos e sua exploração do repertório de Schoenberg demonstram sua inquietude artística e sua vontade de expandir os limites do possível.

Com uma carreira internacional sólida, Pollini presenteou o mundo com uma combinação única de rigor técnico e beleza, extraindo o frescor de um som limpo, fundamentado em suas articulações engenhosas.

Assim se pronunciou a pianista portuguesa, Maria Joao Pires, pelas redes sociais:

“Maurizio Pollini deixou-nos… Deixou-nos mais pobres de música, de sobriedade e de conhecimento. Mais pobres daquela música que não é nunca para agradar a todos os públicos, mas sempre para expressar algo de muito verdadeiro”

Enquanto nos despedimos de Maurizio Pollini, lamentamos não apenas a perda de um ícone da música de concerto, mas também celebramos sua vida e seu legado, enriquecendo-nos com sua música, sobriedade e interpretações magistrais.

Ouviremos, Maurizio Pollini, conhecido como o “pianista chopiniano”, aos seus meros 18 anos, emergir como vitorioso do IV Concurso Chopin em Varsóvia, na Polônia, em 1960. No vídeo em questão, ele nos envolve com sua interpretação magistral do Prelúdio em ré menor, Opus 28, nº 24, e do Improviso em Sol bemol maior, Opus 51.

Observe! Desde tenra idade, Pollini exibia uma combinação impressionante de rigor técnico e frescor, refletindo-se em sua execução clara e límpida, resplandecendo em beleza e vitalidade.