Anacleto de Medeiros, um dos mais influentes músicos brasileiros do século XIX, nasceu em 1866 na pitoresca Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro. Filho de uma escrava liberta, Anacleto demonstrou desde cedo um talento musical extraordinário, iniciando sua trajetória aos nove anos na Banda do Arsenal de Guerra. Este início humilde marcaria o começo de uma carreira brilhante que deixou uma marca na música brasileira.

Educado no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, onde se formou em 1886, Anacleto se destacou no domínio de vários instrumentos de sopro, com uma predileção especial pelo saxofone soprano. Sua habilidade e versatilidade o levaram a fundar e dirigir várias bandas de renome, incluindo a icônica Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Sob sua regência, essa banda ganhou fama nacional e participou das primeiras gravações musicais do Brasil a partir de 1902.

Anacleto de Medeiros (1866 – 1907) | Foto: Reprodução

A obra de Anacleto de Medeiros é vasta e diversa, abrangendo polcas, valsas, xotes e dobrados que se tornaram clássicos do repertório nacional. Uma de suas composições mais célebres, “Iara”, recebeu letra de Catulo da Paixão Cearense e foi renomeada para “Rasga o Coração”. Esta peça notável foi posteriormente incorporada por Villa-Lobos em seu “Choros nº 10” e trabalhada por Ronaldo Miranda em suas “Variações sérias sobre um tema de Anacleto de Medeiros”, disponíveis em versões para quinteto de sopros e piano a quatro mãos.

Anacleto também desempenhou um papel crucial na popularização das bandas de música no Brasil, organizando a Banda da Fábrica de Tecidos Bangu e a da Fábrica de Tecidos de Macacos. Sua influência perdurou muito além de sua morte precoce em 1907, inspirando gerações de músicos, incluindo figuras proeminentes como Radamés Gnattali e Villa-Lobos.

Além da importante publicação de André Diniz, recentemente, Alexandre Dias, do Instituto Piano Brasileiro, trouxe à tona a importância de Anacleto com uma matéria detalhada e uma recriação realística de sua imagem, feita por IA. Essa iniciativa não só reavivou o interesse pelo legado de Anacleto como também ressaltou a necessidade de preservar e difundir suas obras, muitas das quais permanecem inéditas em gravação.

Anacleto de Medeiros (1866 – 1907) | Foto: Reprodução

Anacleto de Medeiros escreveu inúmeras obras para piano solo. Embora muitas dessas versões ainda aguardem a descoberta completa por meio de gravações, o impacto de sua música permanece atravessando o tempo e  enriquecendo o patrimônio cultural brasileiro.

Ao celebrarmos os 158 anos de Anacleto de Medeiros, reconhecemos sua contribuição inestimável à música brasileira que continua a inspirar e encantar músicos e amantes da música.

Ouviremos “Iara” de Anacleto de Medeiros, interpretado pelo pianista brasileiro Hercules Gomes.

Observe que o tema de Iara, aparentemente singelo e melodioso, foi utilizado com maestria pelo compositor Ronaldo Miranda em suas “Variaçoes Sérias sobre o tema de Anacleto de Medeiros”, originalmente escrita para quinteto de sopros e posteriormente com versão para piano a quatro mãos.