O espanhol é a língua da maioria dos países da América Latina, é a terceira mais usada na comunicação via internet e é a mais procurada no Enem

Alessandra Araújo e Cleidimar Mendonça 

O que é o movimento Fica Espanhol? Trata-se de um movimento que começou no Rio Grande do Sul com a aprovação de uma proposta de emenda constitucional estadual e que assegurou a oferta obrigatória da língua espanhola nas escolas regulares do Estado. Na Paraíba e em Rondônia, por meio de um projeto de lei, também foi garantida a oferta do idioma. Em Goiás, o movimento começou em agosto de 2018, com uma reunião na Universidade Federal de Goiás, única instituição a formar presencialmente professores de espanhol no Estado.

Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa: os escritores da Colômbia e do Peru, autores de romances em espanhol, ganharam o Prêmio Nobel de Literatura

De 1998 a 2018, 268 profissionais se graduaram em Letras-Espanhol, nas modalidades de licenciatura dupla e simples, na UFG. Além disso, a universidade oferece: 1) cursos de formação continuada que contemplam os egressos de espanhol: 1.1) lato sensu (três especializações em “Linguística Aplicada” (Cepae/FL), uma especialização em andamento em “ensino de línguas estrangeiras” (FL) e 1.2) stricto sensu (mestrado profissional no Cepae) e mestrado e doutorado no Programa de Letras e Linguística da Faculdade de Letras; 2) cursos de espanhol no Centro de Línguas, ação de extensão aberta a toda a comunidade, e no Nucli (Núcleos de Línguas) do IsF (Idiomas sem Fronteiras) e 3) inúmeras oportunidades de intercâmbios com bolsas de estudos para universidades da Espanha e da América Latina (DRI — Diretoria de Relações Internacionais).

A licenciatura em Letras-Espanhol é fruto do sonho de um chileno visionário, o professor de latim e espanhol Fernando Plaza Mallea, que  chegou ao Brasil em 1956, aos 25 anos. Em 1991, com a criação do Mercosul, ele viu uma oportunidade para a UFG formar professores de língua espanhola, com a justificativa de os estudantes do ensino médio terem um diferencial, a aprendizagem de uma segunda língua estrangeira, tal como previa a LDB (1996).

O professor Fernando Plaza foi o fundador da Associação de Professores de Espanhol de Goiás (Asproego), em 1989, reunindo professores, hispanistas e amigos da língua espanhola. Foi, também, responsável pela vinda dos primeiros estudantes espanhóis para um intercâmbio cultural na UFG, nos anos de 1995 e 1998, por meio de uma parceria com a Embaixada da Espanha. Hoje, tal parceria se reflete na presença de professores leitores espanhóis que podem ficar até três anos em nossa instituição.

Em nível nacional, desde 1942, com a reforma do ministro Gustavo Capanema, até 2005, com a promulgação da Lei 11.161, a língua espanhola tem experimentado momentos de ausência e presença nos currículos da educação brasileira. Contudo, em 2017, a Lei 13.415 revoga a chamada Lei do Espanhol e, entre outras finalidades, altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Assim, a Lei 13.415, em seu artigo 35-A, assevera que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação e define no § 4o que:

[o]s currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino (grifos nossos).

Nesse sentido, o movimento Fica Espanhol tem se propagado Brasil afora e Goiás a ele se junta ratificando a importância do estudo linguístico e sociocultural do idioma de forma sistemática, a partir da seguinte exposição de motivos:

– está presente nos cinco continentes;

– é a língua oficial de 21 países;

– é língua oficial do Mercado Comum Europeu, do Mercosul, da Unasul;

– é a língua da maioria dos países da América Latina, continente com o qual compartilhamos processos históricos, geográficos, socioculturais e identitários;

– é a língua de quase todos os nossos vizinhos da América do Sul (exceto Suriname e Guiana);

– é uma língua que enriquece a pluralidade linguística e cultural do Brasil;

– é uma língua muito usada na veiculação de publicações científicas internacionais;

– é a terceira língua mais usada na comunicação via internet.

– é a segunda língua de comunicação nos EUA, em torno de 58 milhões de hispânicos vivem naquele país (El País);

– é a língua mais procurada no Enem, em torno de 60% dos candidatos optam pelo Espanhol;

– é uma língua que promove importantes intercâmbios internacionais com bolsas de estudo tanto para a Espanha quanto para países da América Latina;

– é uma língua que possibilita uma formação mais qualificada para o mercado de trabalho; para o exercício da cidadania; para a inserção internacional do Estado de Goiás no âmbito económico;

– é uma língua estratégica para Goiás. Goiânia está a 209 Km de Brasília, local de muitas embaixadas de países falantes de espanhol. Além disso, a capital poderá, com a construção da ponte sobre o rio Paraguai, em Porto Murtinho, com destino à cidade paraguaia de Carmelo Peralta, ser ponto logístico para hispânicos. Quem vem de Brasília, passando por Goiânia para ir a Campo Grande, terá acesso ao Paraguai;

– é uma língua que pode fomentar a economia do Estado, pois este é polo industrial de importação e exportação de produtos agropecuários (leite, carne, soja) com estreita conexão com o Mercosul (exemplo: porto seco de Anápolis).

– é uma língua para difundir os setores turísticos em Goiás: cultural, econômico, ecológico e religioso, pois há um importante fluxo de falantes de espanhol em nosso estado, especialmente os vizinhos latino-americanos.

– é “preferencialmente” a segunda língua indicada nas diretrizes curriculares do ensino médio, aprovadas pelo Conselho Estadual de Educação em 2018, a ser ofertada;

– é uma língua que continua presente na oferta curricular da Seduce e em várias escolas particulares e centros de idiomas do Estado.

Em face do exposto, salientamos a importância do ensino sistemático da Língua Espanhola e das culturas hispânicas em Goiás, pois o estudo do Espanhol pelos brasileiros abre um vasto leque de oportunidades culturais e de trabalho, uma vez que a riqueza e a diversidade do mundo hispânico se estendem pelo mundo das artes, literatura, cinema, esportes e turismo, entre outros. Portanto, #Fica Espanhol GO.

Referências

BRASIL. Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942. Lei orgânica do ensino secundário. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, DOU, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 abr. 1942.

_______. Decreto nº 350, de 21 de novembro de 1991. Promulga o Tratado para a Constituição de um Mercado Comum entre a República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai (TRATADO MERCOSUL). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, DOU, Poder Executivo, Brasília, DF, 22 nov. 1991.

_______. Lei nº 9394, de 20 dez. 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, DOU, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 dez. 1996.

_______. Lei nº 11.161, de 05 ago. 2005. Dispõe sobre o ensino da língua espanhola. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, DOU, Poder Executivo, Brasília, DF, 08 ago. 2005.

_______. Lei nº 13.415, de 16 fev. 2017. Altera as Leis nos 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e [..]. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, DOU, Poder Executivo, Brasília, DF, 17 fev. 2017.

_______. Lei nº 11.161, de 05 de agosto de 2005. Dispõe sobre o Ensino da língua espanhola. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, DOU, Poder Executivo, Brasília, DF, 08 ago. 2005.

_______. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

_______. Parâmetros curriculares nacionais ensino médio. Parte II: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (PCNEM). 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf>. Acesso em: 08 jan. 2019.

Alessandra Araújo (Licenciada em Português e Espanhol – UFG; Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino – UNIVERSO; Mestra em Desenvolvimento e Planejamento Territorial – PUC Goiás; acadêmica de Arquitetura e Urbanismo – FARA. Desde 2000 é servidora efetiva da Secretaria Municipal de Educação, porém desenvolvendo suas atividades na Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação desde o ano de 2006).

Cleidimar Mendonça é professora adjunto IV da Universidade Federal de Goiás, doutora em Letras e Linguística pela UFG.