Nas suas colunas, publicadas na “Folha de S. Paulo” e, depois, no “Estadão”, Paulo Francis escrevia a coluna “Diário da Corte”. O jornalista indicava que falava da metrópole, os Estados Unidos, para a colônia, o Brasil. As notas (na verdade, artigos) eram divertidas, polêmicas e, por vezes, idiossincráticas.

Os Estados Unidos são o país mais rico do mundo e, por isso, a TV Globo mantém dez correspondentes em Washington e Nova York. Por sinal, uma equipe de repórteres e comentaristas de primeira linha: André Galinho, Candice Carvalho, Carolina Cimenti, Felipe Santana, Felippe Goaglio, Guga Chacra, Ismar Madeira, Jorge Pontual, Raquel Krahenbuhl e Sandra Coutinho.

Carolina Cimenti: correspondente da Globo nos Estados Unidos | Foto: Reprodução

As coberturas e análises (Jorge Pontual e Guga Chacra conhecem bem a política americana) são de qualidade. É uma pena que a cobertura europeia, africana e asiática não seja do mesmo nível. A Globo investe um pouco na Ásia, sobretudo na China e no Japão, mas os demais países são, no geral, esquecidos. A África, apesar de suas ligações umbilicais com o Brasil, nunca é lembrada — exceto quando notícias, quase sempre ruins, reverberam nos Estados Unidos e na Europa. Aí chegam à terra de Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles — como noticiário de segunda mão.

Fica-se com a impressão de que a Globo, seus dirigentes, gostaria que o Brasil fosse, diria Chico Buarque, um imenso Estados Unidos. Então, ao mostrar o país de Joyce Carol Oates, ao exibi-lo à quase colônia, é como se dissesse: “Nós podemos ser assim, gigantes”. A ideia (sonho) de Brasil Potência não é só dos militares. Está enraizada na cachola dos brasileiros, inclusive dos jornalistas.

Guga Chacra: um dos mais atentos comentaristas da Globo | Foto: Reprodução

Quando chegar novembro, a Globo (com a GloboNews) vai montar uma ampla estrutura, nos Estados Unidos, para reportar e dissecar a disputa eleitoral entre os candidatos a presidente Donald Trump, do Partido Republicano, e Kamala Harris, do Partido Democrata. A Globo está equivocada? Não. O mundo estará de olho na disputa americana. Porque muito do que ocorre nos demais países, mesmo nas potências, depende das decisões da nação da notável escritora Toni Morrison.

Uma vitória de Donald Trump fortalecerá a direita e, sobretudo, a extrema-direita brasileira. O ex-presidente Jair Bolsonaro e seguidores terão um aliado externo. O mais importante deles. Se Kamala Harris vencer, ganham, de alguma maneira, o centro e, mesmo, a esquerda. O presidente Lula da Silva é de esquerda e muito próximo do centro.

Kamala Harris e Donald Trump: a guerra da democrata contra o republicano | Fotos: Reproduções

Quem ganha e quem perde? A esquerda e parte do centro torcem por Kamala Harris. A direita e a extrema-direita alinham-se com Trump.

Jorge Pontual, sempre preciso nas análises, tem sugerido que, ao contrário do que pensam alguns, o republicano é forte. Não está sugerindo que a democrata é fraca. O que pontua é que, em termos de colégios eleitorais, o postulante da direita permanece forte. A possibilidade de derrotar a vice do presidente Joe Biden não é pequena. Nos seus comentários, o jornalista tem alertado sobre isto. Mas, claro, Kamala Harris também é forte.

Globo terá exército de repórteres nos Estados Unidos

A eleição dos Estados Unidos ocorre em novembro. Por isso a Globo escalou três âncoras para apresentar os telejornais, de manhã e no início e fim da noite. Todos falarão diretamente da terra da extraordinária poeta Emily Dickinson.

O “Estúdio I” será apresentado, nos Estados Unidos, por Andréia Sadi. William Bonner será o apresentador do “Jornal Nacional”, mas não de estúdio, e sim das ruas de Nova York (a cidade mais importante do país). Renata lo Prete será a apresentadora do “Jornal da Globo” (Renata lo Prete, além de ancorar com precisão, é uma analista de política do primeiro time). O diretor-geral de Jornalismo, Ricardo Vilela, vai coordenar a equipe nos Steites.

Além dos dez jornalistas que já moram nos Estados Unidos, a Globo terá mais 20 profissionais informando a respeito das eleições americanas. Informa-se que será a maior cobertura da rede brasileira no exterior. Em Nova York, os jornalistas, os que não estiverem nas ruas, terão um estúdio panorâmico à disposição.

Além de ficar mais próximos dos fatos — e das pessoas —, os jornalistas da Globo ganharão experiência internacional a respeito de uma eleição altamente profissional como a do país da poeta Marianne Moore. A cobertura poderá servir de modelo para a disputa eleitoral brasileira de 2026 — quando direita e esquerda estarão, no palco, peleando mais uma vez.

Tomara que a Globo não se concentre apenas em Washington Post e Nova York, as cidades, digamos, mais “visíveis”. Enviar repórteres para Texas e Califórnia, para citar dois Estados grandes e diferentes, inclusive em termos ideológicos, seria uma maneira de apresentar a diversidade política, econômica e cultural do país de Eudora Welty.