Sociedade da neve contra a barbárie. A história do acidente aéreo de 1972 nos Andes

29 novembro 2016 às 15h52

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O autor do excelente livro “A Sociedade da Neve — Os Dezesseis Sobreviventes da Tragédia dos Andes Contam Toda a História Pela Primeira Vez” (Companhia das Letras, 400 páginas, tradução de Bernardo Ajzenberg), do escritor uruguaio Pablo Vierci, adotou uma forma criativa ao relatar a história que comoveu o mundo. Num capítulo, conta a história; o capítulo seguinte apresenta o depoimento de um sobrevivente. Segue assim até concluir a obra, com os depoimentos comoventes e que surpreendem pela crueza e sinceridade.
O acidente aconteceu em 1972, na Cordilheira dos Andes, no Chile, e as vítimas foram recolhidas 72 dias depois, famélicas, magras e desesperadas.
O livro pode ser lido de três ou mais formas, como se fosse o romance “O Jogo da Amarelinha”, do argentino Julio Cortázar. A primeira leitura é a tradicional — da primeira à última página. Outra opção é leitura apenas do texto de Pablo Vierci. A terceira opção é a leitura exclusiva dos depoimentos, ou seja, a história contada a partir de 16 pontos de vista diferentes, mas não excludentes.

Os sobreviventes comeram carne humana, depois de relutarem durante alguns dias, mas o que o livro demonstra é que, apesar disso, não regrediram à barbárie. Pelo contrário, fizeram e cumpriram um pacto de solidariedade que foi decisivo para que 16 sobrevivessem. Alguns (como Numa Turcatti) morreram porque foram extremamente sensíveis e solidários, cavando a neve para retirar sobreviventes, quando houve uma avalanche, quase tão destrutiva quanto o acidente do avião, ou se desgastando na tentativa de sair da montanha gelada.

Outro aspecto do livro são as histórias dos sobreviventes depois do acidente. Todos, em menor ou maior proporção, permanecem ligados ao que aconteceu na Cordilheira dos Andes. Continuam amigos, alguns visitam a cordilheira, onde alguns corpos e pedaços de corpos continuam enterrados.
[Texto publicado no Jornal Opção em junho de 2010]