Estácio Torres nasceu em Marte, há 200 anos, mora no Brasil há dez anos e é viciado na programação da TV Globo e da GloboNews. Por opção, nunca assistiu outros canais de televisão, como Record, SBT e Band. Na semana retrasada, ao receber a visita do filho Estácio Torres Junior, que mora na Lua, conversaram sobre muitas coisas, inclusive sobre a morte do “desconhecido” Silvio Santos.

ET Jr., plugado na GloboNews e na Globo, disse ao pai: “Parece que morreu o homem mais importante do país”. Estupefato, Estácio Torres sênior respondeu, entre constrangido e  confrangido: “Nunca ouvi falar de Silvio Santos. Não conheço essa pessoa”.

A mãe de ET Jr., Estacioneia Torres, corroborou: “Sim, não sabíamos de sua existência”. Estacioneia sabe tudo a respeito das novelas e telejornais da Globo, porém nada pode falar sobre Seu Silvio (por sinal, sem acento).

De fato, quem assistiu à programação da Globo, nos últimos 59 anos, não viu nem ouviu falar em Silvio Santos. O nome do apresentador e dono do SBT parecia figurar no índex da maior rede de comunicação do país. É como se não existisse, apesar de ter vivido 93 anos.

Como a morte transforma todos em seres de altas qualidades, do bem e de bem, a história da vida de Silvio Santos, como apresentador de televisão e empresário bilionário, começou a ser apresentada, como se fosse uma novela de capítulos repetidos, pela Globo e pela GloboNews — mãe e filha.

A Globo e a GloboNews repetiram tanto as informações sobre Silvio Santos, sem acrescentar nada novo, que a exposição intensa acabou por se tornar obscena, ainda que não do ponto de vista sensual e sexual.

Por que um homem que não existia passou a existir tanto de uma hora para outra? Porque, evidentemente, está morto e não incomoda mais. Os mortos, mesmo se um dia foram concorrentes do Grupo Globo, podem ser exibidos, até com extrema intensidade.

Ao expor Silvio Santos, superando até o SBT, o que, realmente, queria a Globo? Talvez audiência. Talvez penitenciar-se de nunca, com o apresentador-empresário vivo, ter lhe dado o mínimo destaque.

Há outra questão: a cobertura da Globo e da GloboNews entra para o capítulo das mais acríticas da história da televisão no Brasil. Talvez por isso ET Jr. tenha perguntado a ET sênior: “Silvio Santos era uma espécie de deus para os terráqueos?” Antecipando-se ao marido, Estacioneia respondeu: “É o que parece, meu filho. E é uma pena que a gente, eu e seu pai, não tenha conhecido ele vivo”.

E-mail: [email protected]

Saiba sobre Roberto Marinho e Adolpho Bloch