Checagem da Agência Lupa mostra como Secretaria de Comunicação tem se utilizado de informações inconsistentes ou falsas para rebater quem governo não gosta

Com proximidade da premiação do Oscar, Secretaria de Governo começou a atacar em seus perfis institucionais a diretor brasileira Petra Costa, indicada à categoria de melhor documentário com "Democracia em Vertigem" | Foto: Reprodução/Instagram
Com proximidade da premiação do Oscar, Secretaria de Governo começou a atacar em seus perfis institucionais a diretor brasileira Petra Costa. Ela foi indicada à categoria de melhor documentário com “Democracia em Vertigem” | Foto: Reprodução/Instagram

A diretora de cinema Petra Costa virou o novo alvo da Secretaria de Comunicação do governo federal. Por mais que pareça absurdo, um órgão que deveria lidar com as informações da União de forma institucional se transformou em um bunker da ideologia Bolsonaro de gestão.

E foi na conta institucional da Secretaria de Comunicação no Twitter que os ataques contra a brasileira indicada a melhor documentário no Oscar começaram. A diretora de “Democracia em Vertigem” parece mesmo ter incomodado os bolsonaristas do governo.

Mas quando se fala de comunicação oficial de um governo, o mínimo que se espera é veracidade nas informações divulgadas. Só que, como mostra a Agência Lupa na última semana, duas frases usadas pela Secom para rebater declarações de Petra em uma entrevista contêm mentiras e imprecisões.

Falha na comunicação

Na primeira das frases, a Secretaria de Comunicação postou um vídeo com um deslize nos dados. O conteúdo informa que, em 2019, “o número de homicídios no país teve uma queda de 20%”. Só que todos os dados consolidados, próximos a 20%, vão de janeiro a setembro. Faltam três meses para fechar a conta que a Secom se apressou em concluir sem precisão.

Mas era verdade

Só que Petra tinha feito uma declaração que condiz com a realidade. “Desde que ele [Bolsonaro] foi eleito, a taxa de pessoas mortas por policiais no Rio [de Janeiro] cresceu 20%.” Os dados, inclusive, são do Instituto de Segurança Pública. Mas para uma comunicação institucional que opta pelo ataque a pessoas, basta uma imagem com cara de meme.

E a cineasta volta a dizer outra afirmação correta quando afirma: “O [Estado do] Rio tem mais pessoas mortas por policiais que o Estados Unidos inteiro”. Para responder, a Secom usa uma informação que não tem dados para a comprovar. “Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal reduziram o número de mortes em confronto em 2019”.

Nas estatísticas divulgadas pelas duas corporações, além de nove crimes com estatísticas disponíveis, é possível verificar dados sobre infrações e acidentes de trânsito. Mas não existe qualquer informações sobre a quantidade de policiais mortos ou pessoas que morreram em confrontos.

Outro acerto

Enquanto policiais do Rio mataram 1.810 pessoas em 2019, as forças de polícia dos Estados Unidos são responsáveis por 986 mortes no mesmo ano. Os dados são do Instituto de Segurança Pública e de levantamento do The Washington Post.

Petra comete um deslize quando fala da Amazônia. “[A Amazônia] Chegou a um ponto que pode virar uma savana a qualquer momento.” A Agência Lupa usa como referência os pesquisadores mais citados: Carlos Nobre e Thomas Lovejoy. Para os cientistas, o risco de a floresta virar uma savana viria com cerca de 40% de desmatamento.

Só que a área desmatada da Amazônia, de acordo com artigo de 2019 dos dois pesquisadores, a área devastada da floresta no Brasil e outros países seria de 17%. Assim, pelos estudos, a savanização do bioma amazônico não ocorreria “a qualquer momento”, como disse Petra Costa.

Equívocos

E aqui, as respostas da Secom são uma sequência de informações recentes, como a criação do Conselho da Amazônia, com distorções da realidade. Um dos casos é o discurso de Bolsonaro na ONU, no qual o presidente negou, inclusive, as queimadas na Amazônia.