Sabatina na Globo: vem aí o momento mais valioso para os presidenciáveis
21 agosto 2022 às 00h00
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O horário eleitoral só começa na TV e no rádio a partir de sexta-feira, 26, mas até lá a semana na telinha promete muitas emoções para as equipes dos principais candidatos ao Palácio do Planalto e seus militantes: é que a Rede Globo vai receber, sua já tradicional sabatina com os postulantes à corrida presidencial durante o Jornal Nacional e os dois mais bem colocados confirmaram presença para o confronto com William Bonner e Renata Vasconcellos.
As entrevistas ocorrerão ao longo de toda a semana, que já deve começar “quente” no estúdio do JN: na segunda-feira, 22, o convidado é Jair Bolsonaro (PL); no dia seguinte, é a vez de Ciro Gomes (PDT); dois dias depois, a temperatura deve subir novamente, com a sabatina de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); a série será concluída na sexta-feira, 26, com a senadora Simone Tebet (MDB). Há um dia vago, a quarta-feira, porque aquele que seria o quinto nome, o deputado federal André Janones (Avante-MG), retirou sua candidatura e se tornou um ativo militante do petista nas redes sociais, de onde conseguiu projeção, especialmente no Facebook, para chegar a até 3% das intenções de voto em algumas pesquisas.
Tanto Bolsonaro como Lula têm muitas restrições à TV Globo. No discurso do presidente, a emissora é um antro de propagação do “comunismo” e apoiadora do PT e de seus parceiros, por conta da política liberal da empresa em relação a pautas identitárias, como os direitos LGBTQIA+, a defesa das mulheres e a denúncia do racismo. Já para o petista, a Globo continua sendo o principal braço da direita e do empresariado para minar as pretensões da esquerda – Lula não perdoa o papel de líder que ela teve no jornalismo lavajatista que gerou a demonização do PT e colaborou em muito para sua condenação e prisão por 580 dias.
Apesar do feroz discurso anti-Globo, Bolsonaro intensifica os trabalhos nas redes sociais para incrementar a audiência do JN no dia de sua sabatina. Seria um sinal da força de sua militância que reforçaria o que ele chama de “DataPovo” – uma versão virtual do que sua campanha vende pela adesão numerosa em seus eventos de promoção pessoal e, agora eleitoral. É bom lembrar que, primeiramente, o presidente se recusou a fazer parte da sabatina; depois, condicionou sua participação a que ela se desse no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente; por fim, depois de a própria Globo anunciar que ele não estaria na sabatina, Bolsonaro aceitou ir até os estúdios da emissora, no Rio.
Em 2018, Bolsonaro foi uma “atração à parte” da sabatina no Jornal Nacional: fez ataques à política salarial da emissora que o recebia, questionando, para Renata, a diferença entre sua remuneração e a de Bonner; polemizou a respeito da adesão de Roberto Marinho, falecido proprietário da Globo, com o golpe de 1964 e a ditadura militar; e, passagem mais memorável, à revelia das regras da sabatina, mostrou um livro sobre educação sexual de origem francesa – e que, no Brasil, fora adquirido ou recomendado apenas por escolas da rede privada de ensino – como sendo material do aludido “kit gay” distribuído durante as gestões do PT, uma das maiores fake news da campanha daquele ano.
Este ano, a sabatina terá 40 minutos. São 13 minutos a mais em relação ao tempo de quatro anos atrás. Quem tem noção de quanto vale um minuto na TV em horário nobre na Rede Globo sabe que a duração da exposição é, ao mesmo tempo, uma eternidade e uma fortuna. Para os candidatos, será uma maratona para iniciar o horário eleitoral.
A expectativa, obviamente, é maior pelas presenças de Lula e Bolsonaro, mas tanto Ciro Gomes como Simone Tebet não encontrarão, até o fim do período eleitoral, espaço e tempo mais generosos do que esse para expor individualmente suas ideias e projetos e tentar o que já se tem como um milagre: a quebra da forte polarização entre os dois líderes das pesquisas.