Protesto por causa do aumento do preço do gás deixa mortos e feridos no Cazaquistão

07 janeiro 2022 às 11h33

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Fala-se em dezenas de mortos e centenas de feridos. 3 mil pessoas estão presas. Governo do Cazaquistão convocou a Rússia e outros países para ajudá-lo a debelar a revolta
O correspondente do jornal “Abc” em Moscou, Rafael M. Mañueco, publicou na sexta-feira, 7: “Em uma nova mensagem aos cidadãos, feita na televisão, o presidente do Cazaquistão, Kasim-Zhomart Tokáyev, ordenou que as forças de segurança disparem para matar os manifestantes. ‘Dei ordens para matar, sem aviso prévio’, afirmou o líder político e administrativo do país, uma ex-República da extinta União Soviética. Segundo ele, “‘20 mil terroristas estão atacando Almaty’, a velha capital e epicentro agora das desordens”.

Tokáyev advertiu que “não fará nenhuma negociação com terroristas”. Ele frisou que “os que não se entregarem de imediato serão aniquilados”. O presidente postula que, por trás da revolta, estão “figuras estrangeiras”.
O repórter do “Abc” sublinha que, “em Almatí, o principal centro econômico do país, a situação segue deteriorando-se. Não cessam os enfrentamentos e é possível escutar disparos de armas automáticas”.
“Durante todo o dia o país está sob estado de emergência [de sítio] e toque de recolher. Segundo dados fornecidos pelo Ministério do Interior, há 3 mil pessoas presas. O comunicado do governo informa a morte de 26 criminosos armados e 18 feridos”, a liberação de todos os centros oficiais que haviam sido tomados em Almatí e a instalação de 70 postos de controle ao longo de todo o país. Em uma nota anterior, “o governo revelou que 20 membros das forças de segurança foram mortos e 800 estavam feridos”, assinala o repórter Rafael M. Mañueco.
“Na noite passada [quinta-feira, 6], um grupo de manifestantes entrincheirou-se na sede da televisão MIR e, depois de duros enfrentamentos, a polícia conseguiu desalojá-los. O edifício agora está em chamas. Noutras localidades de Cazaquistão não cessam os conflitos. Somente em Nursultán (que era conhecida Astana), a capital, a situação é praticamente calma. Em que pese o inquietante panorama geral, Tokáyev considera que ‘a ordem constitucional está plenamente restabelecida em todas as regiões. Os órgãos locais têm a situação sob controle’”, divulga o “Abc”.

“Ontem [quinta-feira], chegaram ao país centro-asiático tropas ‘de paz’ russas, as mais numerosas, bielo-russas, armênias e tayikas. Hoje [sexta-feira, 7] o Parlamento de Quirguistão autorizou o envio de um pequeno contingente de forças para o país vizinho. Aliança deriva da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (ODKB na sigla em russo), bloco integrado por Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão. O Cazaquistão pediu ajuda para reprimir os protestos”, aponta o repórter.
O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, general Ígor Konaschenkov, disse que “75 aviões de transporte militar IL-76 e An-124 estão levando paraquedistas russos ao Kazaquistão”. O comando russo também transporta as forças bielorrussas, tayikos, quirguizes e armênias. Tais forças assumiram o controle do aeroporto de Almatí, que havia sido atacado e saqueado. O general russo Andréi Serdiukov comanda as tropas paraquedistas russas no país — consideradas como altamente preparadas e aguerridas. Mas, de acordo com o Kremlin, não estariam participando diretamente dos combates. A missão consiste em “proteger edifícios e instalações estatais e militares” e orientar as ações das autoridades locais.
“As mobilizações contra as autoridades do Cazaquistão começaram no domingo, 2, nas cidades de Aktáu e Zhanaozén, localizadas no extremo ocidental do país, em protesto pela alta do preço do gás licuado [líquido]. Logo se estenderam ao resto do Cazaquistão, sendo Almaty [maior cidade do país, com mais de 1 milhão de habitantes — fala-se em 1,1 milhão e também em 1,7 milhão; o país tem quase 18 milhões de habitantes e é o nono maior do mundo. É rico em petróleo], a antiga capital, a mais danificada pela revolta. A internet e os telefones celulares continuam sem funcionar, o que impede o envio de mensagens. A situação também está afetando, de forma intermitente, outras cidades”, afirma o jornal.
Os bancos fecharam a portas, o que tem provocado enormes filas nos caixas automáticos. São imensas as filas nos postos de combustíveis. A população está estocando alimentos. As conexões aéreas estão suspensas. Mas espera-se que, nesta sexta-feira, alguns voos sejam autorizados.
O fato é que o poder de fogo dos rebeldes (e a mobilização e dos vizinhos, inclusive da poderosa Rússia) sugere que o caso é mais grave do que um mero protesto contra o aumento do preço do gás. Há cheiro de golpe de Estado no ar?