Doutor em Letras, João Cezar de Castro Rocha publica na terça-feira, 12, “Gerra Cultural e Retórica do Ódio: crônicas de um Brasil pós-político” pela goiana Editora Caminhos

Pesquisa do professor de Literatura Comparada da UERJ sobre a retórica da guerra cultural bolsonarista se transformou no livro “Guerra Cultural e Retórica do Ódio: crônicas de um Brasl pós-político”, que será lançado na terça-feira, 12, pela Editora Caminhos, de Goiânia| Foto: Divulgação

No início de março de 2020, o doutor em Letras e professor titular de Literatura Comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), João Cezar de Castro Rocha, alertou em entrevista ao Jornal Opção: “As pessoas não levam a sério a guerra cultural bolsonarista”. Dez meses depois, o presidente dos Estados Unidos, modelo da retórica autoritária do brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido), tentou um golpe de Estado ao incitar supremacistas brancos a invadirem o Capitólio, prédio do Congresso norte-americano, para tentar impedir a sessão que reconheceu a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020.

Após aquela entrevista, João Cezar aprofundou sua pesquisa sobre a retórica bolsonarista da guerra cultural inspirada no “Orvil” – livro de trás para frente -, publicação das Forças Armadas que revisita a história da ditadura militar com mentiras e narrativas deturpadas, amplificada pelo discurso conspiracionista do astrólogo Olavo de Carvalho. O resultado é o livro “Guerra Cultural e Retórica do Ódio: crônicas de um Brasil pós-político”, que será lançado na terça-feira, 12, em evento virtual pela Editora Caminhos.

Imagem: Divulgação/Editora Caminhos

Na live promovida pela Associação dos Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC), o autor João Cezar de Castro Rocha lançará o livro ao lado do coordenador nacional da ADJC, o ex-deputado constituinte Aldo Arantes (PCdoB), e de Boaventura de Sousa Santos, professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, distinguished legal scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e global legal scholar da Universidade de Warwick.

Invenções olavistas

Quando a entrevista com João Cezar foi publicada pelo Jornal Opção em março, Olavo de Carvalho foi para o YouTube dizer que as respostas eram uma obra feita a várias mãos, que seria uma invenção do veículo. Assim como seus seguidores, o filósofo que mora no Estado da Virgínia (Estados Unidos), demonstra que entende pouco de realidade e de jornalismo, mesmo com histórico como jornalista não formado pelo Diário do Comércio, que representa as Associações Comerciais do Estado de São Paulo. A ojeriza de Olavo pelo jornalismo é tanta que ele se nega a ser reconhecido como jornalista, mas se autointitula filósofo.

Se você quer entender melhor o estudo do professor João Cezar sobre a retórica bolsonarista, pautada pela guerra cultural da ditadura militar e de Olavo de Carvalho contra a democracia, acompanhe o lançamento do livro “Gerra Cultural e Retórica do Ódio: crônicas de um Brasil pós-político”. O evento será realizado ao vivo pelo YouTube da ADJC na terça-feira, 12, às 15 horas (clique aqui).

Lançamento em e-book

O livro estará disponível em breve para venda em formato e-book pelo site da Editora Caminhos (clique aqui). A versão digital da obra custará R$ 35, com preço promocional de lançamento de R$ 29,90. Já a edição impressa, que deve ser lançada em fevereiro, sairá pelo valor promocional de R$ 65, depois fixado em R$ 75.

A publicação tem 456 páginas e é dividida em nove partes: Apresentação – O paradoxo e sua ruína; Introdução – A riqueza dos mosaicos; Capítulo 1 – A ascensão da direita e o sistema de crenças Olavo de Carvalho; Capítulo 2 – A guerra cultural bolsonarista; Capítulo 3 – Doutrina de Segurança Nacional/Orvil; Capítulo 4 – Rumo à Estação Brasília; Conclusão – Dissonância cognitiva e verdade factual; Post-scriptum – 2021: o que será o amanhã?; Posfácio (por Cláudio Ribeiro) – “Da urgência do agora à caracterização da ágora”: o momento etnográfico de João Cezar de Castro Rocha.

Antes da publicação do livro, João Cezar de Castro Rocha conversou duas vezes sobre a pesquisa que embasou a obra, o momento político e a situação social vividos pelo Brasil. Clique nos links abaixo e leia as entrevistas que o Jornal Opção fez com o professor da UERJ em 2020.

“O verbo dominante nos vídeos dos intelectuais bolsonaristas é eliminar. E o substantivo é limpeza”

João Cezar de Castro Rocha: “Pela primeira vez, temos um governo que se baseia num movimento pautado pelo ódio, o bolsonarismo, cujo combustível é o ressentimento”

Material de divulgação

Leia abaixo o material de divulgação do livro “Gerra Cultural e Retórica do Ódio: crônicas de um Brasil pós-político”, de João Cezar de Castro Rocha:

“Guerra cultural e retórica do ódio é um ensaio escrito em prosa literária e que oferece uma
descrição inovadora do bolsonarismo, entendido em sua dinâmica própria. Um dos pontos altos do livro é a análise da escalada golpista nos meses de abril e maio de 2020, assim como a previsão de novas tentativas, intrínsecas ao projeto autoritário.

O bolsonarismo implica uma visão de mundo bélica, expressa numa linguagem específica, a retórica do ódio, e codificada numa estrutura de pensamento coesa, composta por labirínticas teorias conspiratórias. O livro desvenda cada um desses elementos.

A visão de mundo bélica supõe a atualização da Lei de Segurança Nacional (LSN) em tempos
democráticos – e são ameaçadoras as consequências desse gesto. Durante a formação do jovem militar Jair Messias Bolsonaro, estava vigente a LSN promulgada em 1969. Em seus 107 artigos, o substantivo morte aparece 32 vezes e 15 artigos prescreviam a pena de morte. O eixo dessa LSN era a identificação do inimigo interno e sua eliminação imediata. Eis aí o cerne da mentalidade bolsonarista.

No entanto, como identificar com segurança o inimigo? Orvil, o projeto secreto do Exército, concluído em 1988, esclarece: trata-se do comunismo, do “perigo vermelho” e sua incomum capacidade de infiltração por meio do aparelhamento das instituições. No século XXI, a receita teve acréscimos com a pauta reacionária dos costumes, corporificada na crítica à “ideologia de gênero”. Daí, o modelo desastroso de um governo enquanto arquitetura da destruição, pois é como se destruir instituições “aparelhadas” fosse mais importante do que governar.

Rumo à estação Brasília, o que faltava? Linguagem: a retórica do ódio; o idioma do sistema de crenças Olavo de Carvalho. A retórica do ódio é a mais completa tradução da LSN de 1969, limitando o outro ao papel de inimigo a ser destruído. É o reino desencantado do vale-tudo travestido de filosofices, xingamentos e desqualificações. O resultado: caos cognitivo, analfabetismo ideológico e a idiotia erudita: elementos que definem as massas digitais bolsonaristas, criadoras da pólis pós-política.

O livro propõe uma série de conceitos novos, a fim de criar linguagem para dar conta da
complexidade do agônico cenário contemporâneo. A produção da direita e da extrema-direita é analisada em detalhes, incluindo livros, artigos, textos de blogs, vídeos, documentários, postagens nas redes sociais, num esforço inédito para a caracterização da retórica extremista. O autor desenvolveu um método para lidar com esse material: a etnografia textual, com o objetivo de reconstruir a lógica própria a seus discursos. O olhar etnográfico se completa na proposta de uma ética do diálogo, que valoriza a diferença como fonte de enriquecimento.

O autor formula o paradoxo que anuncia um colapso: o êxito do bolsonarismo significa o fracasso do governo Bolsonaro. Sem guerra cultural, não se mantém as massas digitais mobilizadas em constante excitação; contudo, a guerra cultural, pela negação de dados objetivos, não permite que se administre a coisa pública.

Por fim, no post-scriptum o autor analisa a fracassada escalada golpista de Donald Trump, mostrando os limites dos “fatos alternativos” diante de um Judiciário independente; salvo engano, lição fundamental para o Brasil de Jair Messias Bolsonaro.

O livro conta ainda com um posfácio do jovem editor e historiador Cláudio Ribeiro intitulado “‘Da urgência do agora à caracterização da ágora’: o momento etnográfico de João Cezar de Castro Rocha”, apresentando uma reflexão acerca da metodologia inovadora do autor em relação às preocupações desenvolvidas desde seu primeiro livro, Literatura e cordialidade: o público e o privado na cultura brasileira (1998).

Guerra cultural e retórica do ódio é um livro que permitirá entender a cena brasileira atual com novos olhos: um ensaio urgente, no calor da hora.

João Cezar de Castro Rocha é Professor Titular de Literatura Comparada da UERJ e Pesquisador 1D do CNPq. Autor de 13 livros e organizador de quase 30 títulos, com traduções publicadas em inglês, alemão, mandarim, espanhol, francês e italiano”.