Ricardo Molina, perito da Unicamp, afirma que irmãos de PC Farias contribuíram para atrapalhar a investigação sobre as mortes de PC Farias e Suzana Marcolino

Suzana Marcolino e Paulo César Farias foram mortos em Alagoas, numa casa de praia, e tudo indica que os assassinos remontaram a cena do crime e contaram com o apoio de pessoas importantes para dificultar sua apuração | Foto: Divulgação
Suzana Marcolino e Paulo César Farias foram mortos em Alagoas, numa casa de praia, e tudo indica que os assassinos remontaram a cena do crime e contaram com o apoio de pessoas importantes para dificultar sua apuração | Foto: Divulgação

“O Brasil na Fita — De Collor a Dilma, do Caso Magri à Lava Jato, o Que Vi e Ouvi em Mais de Vinte Anos” (Record, 403 páginas), de Ricardo Molina, perito da Unicamp, contém várias histórias instigantes. Se nos laudos o autor é seco, dada a necessária objetividade, no livro é bem humorado e não se furta a opinar com firmeza e vezo irônico. Conta, por exemplo, que o ex-ministro do Trabalho Antônio Rogério Magri, pai do neologismo imexível, recebeu 30 mil dólares como suborno. Sim, um verdadeiro pixuleco. A sociedade “suportava” o governo de Fernando Collor, o do confisco da poupança e, claro, do PC Farias. Houve mesmo compra de votos de parlamentares para a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Prova-se o conluio de Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda para saber quem tinha votado pela cassação do senador Luiz Estevão. Fala-se das “travessuras” de Anthony Garotinho. Relata-se a história de Joaquim Roriz, quando governador do Distrito Federal, e suas relações com grileiros. Há indícios de que estava sob “controle” de Eri Varella, rival de Pedro Passos. Resgata-se a relação conflituosa de Carlos Cachoeira e Waldomiro Diniz. Textos registram o mensalão, a CPI dos Correios e a morte de Celso Daniel, o prefeito de Santo André. Examina-se as razões do acidente de avião que matou os integrantes do conjunto Mamonas Assassinas. Equívocos da Polícia Federal e da imprensa são apontados. Pelé e uma amante são citados. Menciona-se que a cantora Elizeth Cardoso foi “garfada” por produtores do filme “Orfeu do Carnaval” (ou “Orfeu Negro”), do diretor francês Marcel Camus. As relações de Nelson Tanure, Daniel Dantas e Ricardo Boechat são esmiuçadas. José Sarney votou mesmo em Aécio Neves em 2014. A história de Gil Rugai, que teria assassinado o pai, é revista de maneira surpreendente. Não há nenhuma ilegalidade no grampo telefônico de Lula da Silva. Ilegítima é a grita do petismo contra o juiz Sergio Moro.

Uma das histórias examinadas de modo amplo é a do assassinato de Paulo César Farias, o PC, e de sua namorada, Suzana Marcolino. O crime ocorreu há quase 20 anos — em 23 de junho de 1996, em Alagoas —, mas persiste nebuloso. De fato, a perícia sugere que eles foram mortos. Mas por quem e por quê? Não se sabe, e nem Ricardo Molina tem como explicar, porque escapa à alçada da perícia.

Tentou-se provar que Suzana Marcolino teria matado PC Farias — por ciúme, ele estaria se envolvendo com a socialite Cláudia Dantas — e, em seguida, se suicidado. A tese não tem nenhuma base na realidade, frisa Ricardo Molina. O perito estranha o fato de que a família de PC Farias “comprou” a tese e não se interessou por nenhuma investigação mais detida.
Ricardo Molina começa sua revisão do caso PC Farias-Suzana Marcolino pelo resgate de um telefonema. A garota liga para o dentista Fernando Colleoni, que estava em Santo André, e diz: “Eu liguei pra você, é Suzana, pra dizer que nunca vou esquecer você, tenho certeza que eu vou lhe encontrar… em algum lugar… te adoro, beijo”. Uma voz masculina, possivelmente no quarto em que ela e PC Farias (este, talvez já morto) estavam, admoesta-a: “Que cê tá fazendo…? Te arruma!” Ela responde: “Se arrumo”.

Fernando Colleoni trocou uns beijos com Suzana Marcolino — e só. Por que a garota ligou para o dentista, não se sabe.

No dia das mortes, PC Farias comeu e bebeu muito. Misturou champanhe, vinho e uísque (Johnny Walker Blue Label). Suas companhias eram Suzana Marcolino, dois irmãos, Augusto e Cláudio, estes, respectivamente, com a namorada e a mulher. De manhã, o ex-tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor em 1989 e a namorada estavam mortos — “cada um com um tiro”.

Não se sabe por quê, mas destruíram a cena do crime rapidamente. “O colchão e os lençóis foram queimados, e o piso meticulosamente lavado com detergente”, anota Ricardo Molina. “Qual o motivo da pressa?” Por certo, impor a tese de assassinato de PC Farias e suicídio de Suzana Marcolino.

O legista Gérson Odilon, desconfiado de história armada, passou as fotografias dos mortos dentro do quarto para o perito George Sanguinetti. Ricardo Molina conta que, ameaçado pelo secretário de Segurança Pública, o coronel Amaral, Gérson Odilon foi obrigado a assinar o laudo oficial e calou-se. “Sanguinetti, com base nas fotos, concluiu que a trajetória do projétil interno que atingiu PC Farias só seria possível se o atirador estivesse flutuando sobre a cama.” O perito da Unicamp admite: “Fazia sentido”. “Tudo indicava que não apenas as peças principais foram eliminadas como também os corpos foram manipulados, de modo a tentar compatibilizar as imagens com a versão de homicídio seguido de suicídio.”

Já “o exame residuográfico nas mãos de Suzana não encontrou vestígios de pólvora”. Quer dizer, ela não atirou nenhuma vez. Outro problema “era a altura da entrada do projétil na parede, depois de atravessar o corpo de Suzana. Ela teria de estar em movimento, levantando-se, para que a marca na parede fosse compatível, o que, obviamente, é impossível — ninguém se mata com um tiro no peito e se levanta ao mesmo tempo. Mais estranho ainda era o fato de os seguranças particulares não terem ouvido dois disparos desferidos a poucos metros de onde estavam”. As paredes da casa eram finas, sem isolamento acústico.

Altura de Suzana

A Unicamp foi convocada pelo ministro da Justiça, Nelson Jobim, e pelo governo de Alagoas para produzir alguma “lógica”. De cara, Ricardo Molina ficou intrigado com a voz da pessoa que estava no quarto com Suzana Marcolino e foi captada na conversa com o dentista de Santo André. Tudo indica que não era de PC Farias. Maria Teresa Pacheco, especialista em medicina legal, descobriu que não havia “vestígio de alimento” no estômago de Suzana Marcolino. “Já PC tinha pedaços inteiros de camarões e arroz no aparelho digestivo.” Como jantaram juntos, a informação sugere que PC Farias foi morto “horas antes de Suzana, pouco tempo depois do jantar. O horário mais provável era entre 1h20 e 2h da manhã. Mas se PC morreu nesse horário, quem falava com Suzana às 3h54?” Mesmo com evidências em contrário, o laudo oficial apontou que os dois foram mortos às 4h.

Ao voltar da Alemanha, Ricardo Molina foi informado da exumação dos corpos de PC Farias e Suzana Marcolino. O legista era Fortunato Badan Palhares, da Unicamp. O perito critica acidamente: “A exumação é uma aberração e já foi praticamente banida nos países mais desenvolvidos, só sendo realizada em casos excepcionais. Enterrar um corpo para depois de um mês desenterrá-lo, já em decomposição, sendo que se teve a oportunidade de realizar um exame logo após a morte, é um atestado de incompetência, uma estupidez. A prática nos países do Primeiro Mundo é preservar o corpo no necrotério e só enterrá-lo após a definição da causa mortis”.

A “Veja”, que publicou reportagem exclusiva com as fotos da exumação, bancou a tese de “crime passional”, possivelmente equivocada. Tanto que a revista, segundo Ricardo Molina, “nunca mais se empenhou em defender abertamente a tese de crime passional no caso PC Farias”. A publicação da Editora Abril cometeu uma falha que, no jargão jornalístico, é apontada como “barriga”.

A “exumação não trouxe nenhuma novidade. O que gerou polêmica foi o que deixou de ser feito. O vídeo da necropsia em nenhum momento mostra a aferição da altura de Suzana Marcolino, algo que também não consta, por incrível que pareça, no laudo de Badan Palhares”. Verbalmente, segundo Ricardo Molina, o legista “afirmava que Suzana teria 1,68m”. O médico-legista Genival Veloso de França disse à “Folha de S. Paulo”, depois de ver o vídeo, que não foi feita medição durante a autópsia.

Novo laudo, de 1997, encomendado pela Justiça de Alagoas aos legistas Genival Veloso de França e Daniel Romero Muñoz, ao especialista em balística Domingos Tochetto e ao perito Nicholas Soares Passos, estimou, com a segunda exumação, a altura de Suzana Marconi em 1,57m. Até Badan Palhares admitiu que saber a altura da jovem alagoana era essencial. “A altura de Suzana é fundamental. Estando errada, estará errado o resto — a começar pela trajetória do tiro e por sua projeção em relação à parede trespassada pela bala”, disse o legista numa carta publicada na “Folha de S. Paulo”.

Mário Magalhães, na época (1999) repórter da “Folha de S. Paulo”, solicitou à Unicamp uma análise técnica da verdadeira altura de Suzana Marcolino. A equipe de Ricardo Molina examinou fotografias de Suzana Marcolino, de sua irmã, Ana Luiza, de 1,67m, e de PC Farias, de 1,63m. “Mesmo usando saltos altíssimos”, Suzana Marcolino “sempre aparece nas fotos com altura menor do que PC e sua irmã. (…) Após todos os exames, pudemos concluir com segurança que a altura de Suzana, obrigatoriamente, ficaria na faixa entre 1,53m e 1,57m, altura bem abaixo da assumida na versão oficial que foi de 1,67m”.

A discussão é questiúncula de especialistas? Não é, segundo Ricardo Molina. “A tese de suicídio só se sustentaria se Suzana tivesse mais de 1,65m. O orifício de entrada do projétil na parede não seria compatível com uma pessoa muito baixa. Se Suzana tinha cerca de 1,55m, ela precisaria estar se levantando no momento em que recebeu o disparo. Mas ninguém consegue se matar com um tiro no peito, segurando a arma com as duas mãos, ao mesmo tempo que se levanta”, explica o perito.

“O que ocorreu foi que alguém colocado ao pé da cama apontou e disparou contra o peito de Suzana. Num movimento de autodefesa, ela se levantava quando foi atingida. Só assim faria sentido a trajetória do projétil que transfixou o corpo e a parede de madeira do quarto. Foi homicídio, não suicídio”, postula Ricardo Molina.

O legista Genival França disse, antes de Ricardo Molina, em 1997: “Não existe suicídio com alguém em movimento e Suzana se erguia num instinto de defesa”. O legista Daniel Muñoz, da USP, corrobora: “No momento em que Suzana foi atingida, sua postura era dinâmica, a posição era instável, ela não tinha equilíbrio”.

Ricardo Molina assinala que o trabalho da equipe da Unicamp “provou, de forma incontestável, que Suzana era muito baixa e que a altura de 1,67m assumida no laudo oficial era um imperdoável equívoco. (…) O fato é que a baixa altura de Suzana exclui a tese de suicídio”.
Depois da perícia da Unicamp, o legista Genival França disse, em maio de 1999: “As únicas dúvidas restantes são relativas às autorias. As provas são evidentes de duplo homicídio”.
Como PC Farias estava morto quando Suzana Marcolino falava ao telefone com o dentista de Santo André, a voz que disse “que cê tá fazendo…? Te arruma!” era, “provavelmente”, de “seu algoz”, sugere Ricardo Molina.

Esquisitices

Depois de apresentar sua perícia, Ricardo Molina arrola histórias que aponta como “esquisitices”. No velório de Suzana Marcolino, a caseira da residência na qual aconteceu os assassinato teria dito, como se estivesse “conversando” com a morta, “que um segurança sabia de tudo o que tinha acontecido”. A história, contada pela irmã mais velha de Suzana Marcolino ao Ministério Público, teria sido ouvida por uma prima dela. A caseira teria se queimado com “água fervente, por volta das 7h da manhã do dia do crime”, ao ouvir o barulho de um tiro. “O [tiro] que teria matado Suzana?”, pergunta o perito. À “Folha de S. Paulo”, a caseira contrapôs que não havia ido aos velórios e que não ouvira tiro ou tiros.

Não restou provado que PC Faria tinha um caso com a socialite Cláudia Dantas. Também não se comprovou que o ex-tesoureiro de Fernando Collor pretendia terminar o namoro com Suzana Marcolino.

O delegado Cícero Torres “não convocou nenhum parente próximo de Suzana para depor”. O secretário de Segurança Pública, José Amaral, impediu que o delegado de Cruz das Almas, distrito responsável pela praia de Guaxuma, entrasse na casa onde ocorreram os assassinatos. Cícero Torres teria trabalhado para uma empresa de Augusto Farias, irmão de PC Farias.

A esquisitice mais esquisita, assinala Ricardo Molina, é a “defesa inabalável que a família de PC fazia do laudo oficial. Dois dos irmãos, o deputado Augusto Farias e o médico Luiz Romero, insistiam que havia ‘provas cabais’ de que Suzana havia matado PC e cometera suicídio logo em seguida”. O juiz Alberto Jorge Correia, acatando um pedido da promotora Failde Mendonça, encomendou uma “manifestação técnica” ao legista George Sanguinetti. Augusto Farias vociferou: “Esse juiz não poderia ter aceitado o pedido dessa louca”. O perito da Unicamp estranha: “A postura do irmão de PC contraria a lógica: a família sempre quer que se investigue até o fim. Augusto Farias aceitou muito rapidamente uma versão definitiva para um caso com tantas questões não esclarecidas”.

Outra esquisitice é a morte de Elma Farias, que estava sugerindo que PC Farias colocasse a boca no trombone e revelasse o nome do chefe (ou chefes) de seus esquemas financeiros. “A mulher de PC morreu de embolia pulmonar. A questão é que uma simples injeção intravenosa de 20 mililitros de ar pode causar esse tipo de morte sem deixar rastros. E, para deixar essa história ainda mais misteriosa, o corpo dela foi cremado — o que não era costume na família”, afirma Ricardo Molina.

O sargento da Polícia Militar Rinaldo Lima, que fazia a segurança da casa onde PC Farias foi morto, foi assassinado no início de 1999. José Miguel Dantas e sua mulher foram assassinados, em 1999. Eram pais de Cláudia Dantas, suposta namorada de PC Farias. Por que foram mortos? Não se sabe. O fato é que foram assassinados “quando as investigações estavam sendo retomadas”. Os “crimes até hoje não foram devidamente elucidados”. Parecem crimes cometidos pela Máfia.

Em abril de 1999, ao assumir o caso, os delegados Carlos de Azevedo Lessa e Alcides Andrade de Alencar ficaram surpresos com as “pontas soltas” da investigação ou não-investigação. De cara, descartaram a hipótese de que Suzana tivesse cometido suicídio. “Não conseguimos entender por que esse inquérito foi enviado à Justiça sem indiciar ninguém. Se os tiros tinham que ser ouvidos, se havia outras pessoas no quarto, se o revólver não tinha digitais, os seguranças, o caseiro e o vigia tinham de se explicar melhor”, disse Alcides Andrade.

Por que o telefone celular de Suzana Marcolino desapareceu? Por que não havia sangue na arma? Por que não fizeram a medição da altura da jovem? Por que não realizaram o exame residuográfico nas pessoas que estavam na casa? As perguntas não foram respondidas pela investigação policial.

O especialista em balística Domingos Tochetto concluiu, num estudo encomendado pelos delegados Carlos Lessa e Alcides Andrade, “que, se Suzana tivesse dado pelo menos um tiro, haveria vestígios de chumbo, bário, antimônio, cobre ou zinco em uma de suas mãos”.

A Justiça mandou prender os quatro seguranças que trabalhavam para PC Farias, em junho de 1999. Advogados de Augusto Farias pediram a revogação da prisão temporária. “Novamente, o clã Farias, ao contrário do esperado, esforçava-se para evitar qualquer aprofundamento da investigação”, lamenta e estranha Ricardo Molina. O delegado Alcides Andrade comentou: “Não é comum que uma pessoa proteja aqueles que são suspeitos de matar seu próprio irmão”. O delegado Carlos Lessa frisou: “Com base em dados da perícia técnica e nas falhas que encontramos no laudo, descartamos qualquer hipótese de homicídio seguido de suicídio. Não há dúvida de que o deputado [Augusto Farias] comandou toda a operação”.

O procurador-geral da República Geraldo Brindeiro, em 2000, pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal para que a Polícia Federal investigasse se Augusto Farias — como deputado federal, tinha foro privilegiado — “teve alguma interferência no resultado do laudo oficial”. O procurador “acreditava haver indícios de participação do deputado na alteração da cena do crime”. Porém, em 2001, Brindeiro “recomendou ao STF o arquivamento do inquérito criminal que apurava a participação do parlamentar no assassinato de seu irmão PC Farias”.

Em maio de 2013, quase dezessete anos depois dos assassinatos, quatro seguranças de PC Farias foram julgados em júri popular. Prevaleceu a tese do Ministério Público: PC Farias e Suzana Marcolino foram assassinados. “Embora nenhum dos réus tenha sido condenado, mais por falta de provas do que por convicção, o importante nesse julgamento é a consolidação jurídica da tese de duplo homicídio. Para todos os efeitos, agora oficialmente, confirma-se o que já sabíamos desde o começo: PC e Suzana foram executados”, conclui Ricardo Molina.

PC Farias foi morto possivelmente como “queima de arquivo”. O empresário sabia demais e poderia, se falasse, comprometer pessoas poderosas — no Brasil e, quem sabe, no exterior (havia um esquema de grana na Europa, sobretudo na Suíça). Em 1989, o empresário havia sido tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor. Com as sobras financeiras de campanha e com negócios feitos nos gabinetes e porões do governo, teria amealhado uma fortuna considerável. Cadê o dinheiro? Há quem acredite que parte permanece no exterior e parte foi repatriada para o Brasil. Oficialmente, com dados provados, não se sabe quase nada, ou nada. Livros do jornalista Lucas Figueiredo e de Rosane Malta, ex-mulher de Fernando Collor, lançam alguma luz sobre os negócios de PC Farias na Europa. Mas não há esclarecimentos amplos e definitivos. Os assassinatos de PC Farias e Suzana Marcolino, de tão intrincados e nebulosos, certamente serão material para escritores de romances policiais. Espera-se que apareçam um Dashiell Hammett e um Raymond Chandler para iluminar, por meio da ficção, a realidade.

Suzana Marcolino foi assassinada, possivelmente, porque estava no local e momento errados. Ou melhor, sua presença no local foi um instrumento utilíssimo para criar e cristalizar a história de que matou PC Farias, por ciúme, e, em seguida, se matou. Morreu para “justificar” a morte do ex-tesoureiro de Fernando Collor.

As mortes de PC Farias e Suzana Marcolino podem ser incluídas na lista dos crimes perfeitos? Os autores, que sabiam matar — deram tiros econômicos e precisos —, forjaram um crime quase perfeito. Porém, se não tivessem contado com alguma ajuda — de policiais e, quem sabe, até de familiares de PC Farias —, poderiam ter deixado pistas mais significativas. Se falharam num ponto — a perícia constatou que não houve homicídio, de PC Farias, seguido de suicídio, de Suzana Marcolino —, foram bem-sucedidos noutra questão: até hoje, passados vinte anos, não se sabe quem matou e quem mandou matar o casal.

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