Insistência do Sintego em reviver nesta greve práticas e discursos que objetivam a manutenção do servilismo ao Paço afasta-o ainda mais da categoria

Orley José da Silva

Especial para o Jornal Opção

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, em entrevista ao Jornal Opção, edição 2075, do dia 17, classificou de “enfrentamento político” a atual greve dos professores e administrativos de escolas e cmeis do município de Goiânia. Esta seria uma afirmação coerente se o Sintego ainda contasse com a simpatia e o respaldo de pelo menos um grupo razoável desses trabalhadores. Durante a entrevista, ela reduziu a pauta original das reivindicações da categoria a um único item: o quinquênio. Ela ignorou as reais motivações que levaram 213 unidades educacionais, até agora, a suspenderem suas atividades. Um número expressivo para uma greve que se inicia com pequena estrutura logística e de comunicação. Porém, com um grau elevado de consciência trabalhista e responsabilidade política.

Durante a semana, peças publicitárias com o mesmo conteúdo da entrevista foram veiculadas pelo Sintego em emissoras de rádio e televisão da cidade, nos mais diferentes horários. O sindicato também distribuiu panfletos em escolas, cmeis e na última Assembleia Geral da categoria, em que arvora para si a posição de protagonista na construção da pauta de reivindicações e da negociação em nome dos trabalhadores. É de se imaginar a soma em dinheiro gasta com esse esforço publicitário, em momento de escassez de recursos, e sua utilidade para o enfraquecimento do movimento grevista.

Não é difícil conjecturar sobre as razões que levam o Sintego, a todo custo, querer se colocar como personagem no cenário da atual greve. Em outras vezes, sua entrada extemporânea nas greves resultaram na domesticação delas para atender os seus interesses. Certamente ele tem dificuldade para aceitar que esses servidores educacionais não confiam mais em sua mediação para as questões trabalhistas. E isto lhe causa prejuízo porque, embora seja representante oficial dos educadores de Goiás, o apoio cativo do município de Goiânia ao longo dos anos foi importante para a consolidação do seu patrimônio, credibilidade pública e obtenção de dividendos políticos.

Um grupo como este de educadores municipais, que é geograficamente próximo e mais coeso na sua organização, tem muito valor no tabuleiro das negociações políticas. Isto porque pode ser levado a apoiar determinados nomes para a política e também engrossar fileiras com militantes de partidos políticos. E quem acompanha a política goiana sabe que o Sintego valeu-se muito bem dessa prerrogativa enquanto dominou as ações do grupo.

A simples observação da trajetória política de alguns diretores e ex-diretores do Sintego referendam esta tese. Eles alcançaram posições de destaque nas administrações públicas municipal, estadual e federal. Também ocuparam cargos nos conselhos de educação e se elegeram para casas legislativas. Alguns deles foram guindados aos cargos de diretoria em partidos políticos e central sindical. Essa mesma generosidade foi estendida aos políticos aliados que sempre encheram suas urnas de votos no curral eleitoral do sindicato.

Pode-se considerar que o desencanto dessa categoria de trabalhadores se iniciou com o alinhamento incondicional do Sintego à política educacional do prefeito Pedro Wilson (2001/2004). O ápice da insatisfação, no entanto, ocorreu pela mesma postura de alinhamento com a primeira administração de Paulo Garcia, durante a greve de 2010. Nesta greve nasceu o grupo independente Comando de Luta que depois veio a se chamar SIMSED (Sindicato Municipal dos Servidores em Educação de Goiânia).

O novo sindicato, aos poucos ganhou a confiança da classe de educadores que hoje o reconhece como seu representante de fato. A consolidação dessa confiança se deu na greve de 2014 quando assumiu a liderança das negociações com a Prefeitura de Goiânia e preencheu de vez o vácuo de representatividade deixado pelo sindicato oficial.

A insistência do Sintego em reviver nesta greve seus métodos, manipulações, práticas e discursos que objetivam a manutenção do servilismo ao Paço e a negação ou falseamento das reais demandas dos trabalhadores em educação do município de Goiânia, afasta-o ainda mais da categoria. Mesmo quem não participa da greve, além de reconhecer o discurso dúbio do sindicato, entende que este é um momento de dificuldades e de incertezas para a simples manutenção de direitos conquistados pela categoria. Sim. Os únicos pedidos desta greve são: cumprimento das promessas assumidas em mesa de negociação trabalhista; manutenção de direitos adquiridos com possibilidade de serem extintos pela atual gestão municipal e melhoria das condições de trabalho.

Orley José da Silva é professor na Rede Municipal de Ensino de Goiânia e no Ensino Superior, mestre em Letras e Linguística (UFG) e mestrando em Estudos Teológicos (SPBRC).

[A pintura acima, “Pai do artista lendo”, é de Cézanne]