Capitalismo de sonho: o irlandês vence a primeira, o americano ganha a segunda e, com a trilogia, todos ficam felizes com milhões de dólares na conta bancária

Até o ringue sabe: Floyd Mayweather vai ganhar de Conor McGregor. Porque boxe é a especialidade do americano. O boxe do irlandês serelepe é muito bom — o queixo de José Aldo envidraçou-se depois de testá-lo —, mas não tão bom quanto o de Money-Flem Snopes.

O que pesa contra Mayweather é a idade, mas, nos últimos embates, lutou com extrema velocidade — o que sugere uma descoberta do elixir da juventude (consta que, no caso, é sexo). Em forma, Money é insuperável. Até agora. Em termos de motivação, o mais empolgado é Conor McGregor, que, mais jovem, precisa fazer o pé de meia. O MMA fornece camisa, mas o boxe oferece camisa, cueca, calça, terno e meias.

Porém, do ponto de vista do negócio, uma vitória de Mayweather machuca a lógica. Porque talvez impeça a revanche. No caso de vitória de McGregor-Leopold Bloom, a revanche estará garantida. O americano, bonito e exibido (as palavras cabem como uma luva no irlandês vaidoso e dionisíaco; é a versão branca de Money), nem precisa mais de tanto dinheiro, pois é multimilionário. Mas dinheiro, como não morde nem fala mal de ninguém, é aquilo que mais deseja o homem (dinheiro é sexo em forma de papel e, claro, um fetiche). Depois da segunda luta, que poderia ser vencida por Mayweather, seria feita a terceira luta. A famosa trilogia — “arte” (ou indústria) na qual tanto o boxe quanto o MMA são mestres.

Boxe é arte e MMA, luta. Sobretudo, Boxe e MMA são negócios, azeitados por mãos calejadas. O fato é que todos nós sabemos que a “guerra” entre Flem Snopes e Leopold Bloom (vende anúncios, como McGregor se vende muito bem) é um negócio extremamente rentável para os contendores, para os articuladores da peleja e para os canais que exibem lutas, como o Combate. A expressão “luta-exibição” talvez sintetize o encontro de Mayweather e McGregor. Mesmo sabendo que o negócio anda paralelo à luta, que será verdadeira, nós estaremos a postos para acompanhá-la, até mesmerizados pela energia dos guerreiros que, de alguma maneira, são personagens de James Joyce e William Faulkner que, desabusadamente, escaparam de seus romances e ganharam as ruas e os ringues.

Dana White, rei do MMA, e a turma do boxe — deliciosamente, mafiosa — têm consciência de que uma derrota vexatória de McGregor é muito ruim para o negócio. Portanto, alguém terá de convencer Flem Snopes, um negociante implacável, a pegar um pouco mais leve. Nocaute? Só após o oitavo round. Se McGregor perder por pontos, ou por nocaute a partir do décimo round, depois de uma luta equilibrada, e se Money resistir à revanche — há muitas namoradas à espera —, não tem problema: o pequeno notável Manny Pacquiao, como Paris (para Neymar, o rei), sempre estará à disposição para uma luta-exibição. As lutas de Pacman são mais empolgantes do que as de Mayweather: menos esquivas, mais enfrentamento e nocautes virulentos. Portanto, diria o expert em MMA Ricardinho Tavares, McGregor pode até perder, mas, perdendo, ganhará muito, e não apenas os milhões que o boxe rende. Ganhará, além de mais fama, a oportunidade de lutar, quiçá, contra Pacquiao. Oh!, a vida é bela.