O dia em que Caio Prado Júnior se vingou do presidente da TFP, Plínio Correia de Oliveira

25 junho 2016 às 09h28

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“Caio Prado Júnior — Uma Biografia Política” (Boitempo, 485 páginas), de Luiz Bernardo Pericás, é um desses livros exemplares escritos por um acadêmico competente, mais interessado em entender do que em depreciar e enaltecer.
Trata-se de uma obra a favor, o que não significa hagiografia. Os acertos, muitos, e os erros, alguns, do historiador Caio Prado Júnior são escrupulosamente registrados.
Porém, como sugere o título, é uma “biografia política”, portanto com ligeira escavação da vida privada; escarafuncha-se, e com rara excelência, as ideias do homem pesquisado.
Suas obras, como “Formação do Brasil Contemporâneo”, quiçá a mais importante, são esquadrinhadas de maneira minuciosa, com a indicação de sua originalidade e, em certos casos, insuficiências.
A paixão do notável pesquisador pela União Soviética e por Cuba, com todos os seus problemas, como o totalitarismo, é apresentada detalhadamente. O biógrafo não a critica, mas a expõe, permitindo que o leitor tire suas conclusões.

Luiz Bernardo Pericás colhe boas histórias, mas uma delas é extremamente divertida, o que mostra que Caio Prado Júnior era um comunista dotado de humor e, diriam os ingleses, espírito. A história registrada pelo pesquisador lhe foi relatada por Florestan Fernandes Júnior, filho do sociólogo Florestan Fernandes (como não há índice de nomes, informou que está na página 271):
A história da TFP e de Caio Prado Júnior
“Certo dia, o jovem [Florestan Fernandes Júnior] foi com seu pai visitar Caio Prado Júnior, que tinha acabado de fazer corrida matinal. Muito suado, ele contou que, na porta de casa, havia sido parado por dois rapazes da TFP, que lhe entregaram alguns folhetos e alertaram para o perigo vermelho, sem saber que estavam diante de um comunista histórico.”
“A conversa correu desta forma: ‘Me diga uma coisa, vocês são de família importante?’, perguntou o intelectual. ‘Não!’, retrucaram. ‘Pois a minha família é muito importante, sou da família Prado. Vocês têm tradição?’ ‘Não!’, responderam os jovens. ‘Eu tenho, minha família é quatrocentona e temos até brasão. Vocês têm propriedades?’ ‘Não!’ ‘Eu tenho, estão vendo essa mansão? É minha.”
Me digam uma coisa, se vocês não são de família importante, não têm tradição e nem propriedades, por que perdem tempo nas ruas fazendo propaganda pra mim?’ Os dois arregalaram os olhos, baixaram a cabeça e foram embora.”
“Caio Prado Júnior deu uma gargalhada: ‘Florestan, me vinguei do Plínio Correia de Oliveira’, desabafou, referindo-se ao fundador da organização de direita Tradição, Família e Propriedade, que naquele dia deve ter perdido dois militantes!”
O livro registra uma passagem de Caio Prado Júnior por Goiás, mas en passant. O nome do goiano Domingos Vellasco (1899-1973) está grafado errado: “Domingues Velascos”.