O cantor Fagner ganha biografia escrita por Regina Echeverria

21 fevereiro 2019 às 15h34

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Poesia, quando transformada em música, ganha um ar de aula de Moral e Cívica. Com Fagner, a poesia ganha uma força extra
Raimundo Fagner Cândido Lopes (70 anos em outubro deste ano), para resumir, é uma força da natureza. Sua voz, se não remove, deveria remover montanhas. Sua voz, se não quebra copos e janelas, deveria. O cantor tem uma voz que, se soa como grito, é afinada, com tons firmes. Fica-se com a impressão de que, ao menos no banheiro, canta música lírica. Porque, como cantor dito tradicional — se a palavra tradicional cabe aí, por que se trata de um artista único —, impressiona pelo timbre, pela força vocal. Observe que poesia, quando levada para a música, ganha um ar de declamação, quase sempre solene (parece aula de Moral e Cívica e pregação de Jair Bolsonaro). Fagner, ao transformar poesia em música — Cecília Meireles ou Florbela Espanca —, conecta as duas artes, enriquecendo-as, mas sem retirar a autonomia de cada uma.
https://www.youtube.com/watch?v=xe6U0re4TUE
Fagner é esplendor, o que parece, à primeira vista, excesso. O esplendor esconde sua contenção, que é fato. Por se envolver em quizílias com artistas, como Belchior e Caetano Veloso, seu nome às vezes não é mencionado nas listas de grandes cantores patropis. O que é injusto. Falta (ou faltava) no mercado editorial uma biografia decente — e mesmo indecente — de Fagner. A jornalista Regina Echeverria, biógrafa de Elis Regina e Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, lança “Raimundo Fagner — Quem Me Levará Sou Eu” (Agir, 400 páginas), em março. Desde já, entra para a minha lista penelopiana.