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Marcelo Franco

O coração generoso da foto mais icônica de Pelé se mostrava quase real no exterior, onde o Rei era como um passaporte diplomático, daqueles de capa vermelha, para nós brasileiros: “Brazil? Oh, Pelé! Welcome, sir!”.

O mineiro de Três Corações está hoje na capa dos grandes jornais do mundo e em tuítes de presidentes e (outros) reis; porém, um jornal qualquer estampou, e depois apagou, a matéria de sua morte com a cena de um filme seu em que há suásticas ao fundo, assim como quem não quer nada (Pelé interpretou um prisioneiro aliado, aliás). Os culpados da tal polarização são sempre os outros, ao que parece, nunca quem se arvora em crítico dessa mesma polarização.

Como tem até garoto de 20 anos afirmando que o viu jogar, eu gostaria de também poder dizer que vi ao vivo os dribles espetaculares, as arrancadas como se foguete fosse, a percepção milimétrica de espaço, os saltos no ar com o punho estendido… Não vi, ai de mim. Por sorte, quase tudo está no YouTube ou no Footbalia, não somente os gols que fez mas também aqueles não feitos e que estão, merecidamente, entre os mais belos da história, como o gol que não marcou depois do drible sobre um goleiro uruguaio e a assistência generosa e perfeita para aquele outro gol — mais um foguete — de Carlos Alberto Torres, em 1970.

Aqui ficaremos, muitos de nós, maniqueístas, apontando defeitos como se fôssemos seres perfeitos. Quisera eu ter feito o que Pelé fez para remir os meus tantos pecados; quisera eu ser um brasileiro cuja história se confundiu com a própria ideia de brasilidade; quisera eu… Não há de ser nada, contudo: tive a sorte de viver parte da minha existência no mesmo momento de parte da existência dele, e por isso estufo o peito e bato continência: viva o Rei!

Rei do futebol