Uma das vozes mais lúcidas do debate progressista nas redes nacionais não é político, nem cientista social, sindicalista, ativista estudantil. Na verdade, nem poderia ser considerado da esquerda tradicional. Para ter ideia da “não adesão”, ele nem mesmo saiu de casa para votar no segundo turno de 2018.

E foi justamente movido pela própria omissão naquela eleição que levou Jair Bolsonaro ao poder que Maurício Ricardo mudou sua posição. Durante todo o mandato do ex-presidente, notadamente a partir da crise da pandemia, colocou-se em posição crítica ao governo de uma forma ainda mais legítima justamente por ter se abstido de votar. “Parabéns aos profissionais de saúde”, dizia ele sempre ao fim de seus vídeos no canal Fala MR, no YouTube, enquanto a Covid-19 esteve em sua fase mais aguda e letal.

A partir das tentativas golpistas de 2021, Maurício entendeu que não seria apenas necessário tirar Bolsonaro do poder: era preciso um esforço conjunto da sociedade para fortalecer as instituições democráticas. E, juntando seus conhecimentos acerca do mundo digital – ele é sócio de sua mulher, Danielle Akemi, em uma escola de tecnologia, a Techers –, ele passou a usar o canal também para alertar didaticamente sobre o perigo de tanta informação concentrada em cinco megaempresas globais.

Maurício Ricardo faz um movimento no mínimo inusitado: usa as próprias redes sociais para criticar o comportamento predatório das redes sociais. Em alguns vídeos abordando o tema, utilizando-se de situações episódicas, como a votação do PL das Fake News, ele apresenta como as plataformas trabalham para ganhar dinheiro de todas as formas possíveis sem ter de basicamente se submeter a regramento algum.

É algo inusitado, mas necessário: encontrar alguém que, em vez de “clickbaits”, usa seu canal e sua reputação para tentar melhorar o mundo virtual pelo menos para seus seguidores é algo raro na internet.