Ao lado de Pelé, Tostão, Gérson e Jairzinho, Rivellino brilhou na Copa de 1970, transformou o Fluminense na Máquina Tricolor e encantou até os torcedores da Arábia Saudita

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Biografia revela que, além de jogar um bolão no México, Roberto Rivellino transou com a mulher mais bonita, uma morena escultural, que circulava no hotel em que os jogadores da seleção brasileira estavam hospedados

À Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1970 só faltou Garrincha. Hoje, quando joga sem Neymar, a palavra “seleção” deveria ser trocada por “time” — tal a falta de inspiração dos jogadores (ainda que constrangida, a mídia finge que Willian é um Neymar mignon). No México, há 45 anos, a lista de craques incontestáveis incluía pelo menos sete: Carlos Alberto, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Pelé, Roberto Rivellino e Tostão. Gérson era de uma inteligência extraordinária e sua percepção do jogo, o que facultava-lhe lançamentos perfeitos, era a de um deus dos gramados. Tostão era habilidoso, jogava para si e para o time. Era tão inteligente quanto Gérson e Pelé. (A inteligência em campo é mais intuitiva, imaginativa e imediata do que racional, porque não dá tempo para pensar muito.) Pelé era Pelé, quer dizer, hors concours. O único que merece, em todos os tempos, o título de Rei — e com “R” maiúsculo. Clodoaldo, o Corró, e Carlos Alberto eram excelentes carregadores de piano e, quando o momento exigia, eram decisivos. Eram dotados de uma energia extraordinária. Jairzinho era veloz, habilidoso e produtivo. Rivellino, a Patada Atômica, era um fenômeno. A bola parecia colar-se aos pés. Há quem acredite ter ouvido a bola chamar, em voz alta, os pés de Rivellino de “mãe” (o canhoto), “pai” (o direito) e, heresia, “deus” (os dois, como se fossem um só).

Em 1970, enquanto meu pai, Raul de França Belém, lia a revista “Veja”, eu, aos 9 anos, devorava a recém-lançada “Placar” (pregava os pôsteres dos times na parede de meu quarto). Vi a copa num televisor preto e branco — com os chuviscos confundindo-se com a bola e os jogadores — na casa do cartorário João Borges (a residência se tornou uma espécie de estádio, com dezenas de torcedores amontoados). Estava acostumado a acompanhar jogos de futebol pelo rádio, com narradores do balacobaco como Jorge Curi, Waldir Amaral, Antônio Porto (o goiano era amigo de Riva) e, depois, José Carlos Araújo. Os comentários de arbitragem de Mário Vianna — “com dois enes”, frisava — eram imperdíveis. O domínio da Rádio Globo era tal que eu passava ao largo das prestigiosas narrações de Fiori Gigliotti. Meninos e adolescentes acompanhavam a copa com um fervor que não se vê hoje. A pátria efetivamente calçava chuteiras e ia para a guerra (pacífica, felizmente). Todos falavam de Pelé, mas o assunto logo se esgotava, pois os deuses estão acima do bem e mal. Os mais velhos falavam muito das qualidades de Gérson, um lançador insuperável, e de Tostão. Clodoaldo e Carlos Alberto, o Capita, eram enaltecidos pela energia que, às vezes, parecia inesgotável. O goleiro Félix e os zagueiros Brito e Piazza mereciam elogios. O primeiro pela segurança que dava ao elenco; os outros, pela firmeza. Eram xerifes implacáveis. Mas crianças e os adolescentes falavam mesmo era de Rivellino e Jairzinho.

Aos 3 anos de idade, Roberto Rivellino já mostrava que era hábil com a canhota. O ex-jogador diz que “o estilo de bater na bola é o mesmo que mostraria como profissional”
Aos 3 anos de idade, Roberto Rivellino já mostrava que era hábil com a canhota. O ex-jogador diz que “o estilo de bater na bola é o mesmo que mostraria como profissional”

Rivellino, com seus dribles elásticos — a bola parecia uma extensão de seus pés —, e Jairzinho, devido à sua explosão e capacidade de fazer gols (sete em toda a copa), pareciam incontroláveis. Retirado o Rei Pelé, eram os verdadeiros príncipes da seleção — ao menos para crianças e adolescentes. Jairzinho, o meu preferido, era um gigante em campo. Beques e laterais tentavam mas não conseguiam pará-lo. Numa seleção de craques, brilhava intensamente. Não à toa era chamado de Furacão, a palavra justa para dimensioná-lo. Driblava com eficiência (sempre para a frente) — com uma rapidez impressionante, a dos velocistas —, pois era um jogador produtivo, pouco dado a firulas. Parecia incansável. Pode-se sugerir que Pelé, Tostão, Rivellino e Gérson pensavam e, por vezes, Jairzinho executava. Dizer isto não é o mesmo que sublinhar que não era inteligente. Jogar ao lado dos cerebrais Pelé, Tostão, Rivellino e Gérson exigia jogadores perspicazes, e Jairzinho o era. Não era um mero trator. Trator, se existia um, era Dario, o Dadá Maravilha, reserva na seleção de 70.

Unanimidade inteligente

Jairzinho, o artista da camisa 7 da seleção, ainda não ganhou uma biografia decente (ou mesmo indecente). Mas o Reizinho do Parque acaba de ser examinado no livro “Rivellino” (Contexto, 205 páginas), do jornalista Maurício Noriega, comentarista e apresentador do SporTV. Não se trata de uma biografia exaustiva, contrastiva com outras versões, mas, ainda assim, é ótima, de extrema leveza.

Ouvido por Maurício Noriega, Pelé assinala: “É claro que ele [Rivellino] está na lista dos cinco melhores jogadores da história do futebol! Até hoje eu cito o Riva em minhas entrevistas como um craque fora de série.”

O alemão Beckenbauer, ao perceber Pelé e Rivellino juntos, disse: “Estou ao lado do maior jogador branco e do maior jogador negro do mundo. Era como se um mágico estivesse jogando futebol. Rivellino era um artista, não era um jogador de futebol”.

Tostão segue pelo mesmo sendeiro: “Foi um dos maiores da história. Tinha extrema habilidade com a bola. Foi marcante para o futebol. O que ele fazia com a bola era incrível. Um grande craque, que jogava como se estivesse brincando quando era criança. Ele transportou essa coisa lúdica para dentro do jogo competitivo. Mas tinha eficiência. A rapidez do raciocínio, o jogo de pernas. Quando a bola chegava, ele já tocava. De curva, de lado, não perdia tempo. Todo mundo ficava impressionado com essa capacidade e tentava acompanhar. Chutava muito bem, tinha muita técnica, fantasia, mas também voltava para marcar”.

Zico, o cracaço do Flamengo, corrobora: “É um dos grandes de todos os tempos. O Riva era um jogador excepcional, decisivo. Organizava, passava e fazia gols. Tirar a bola dele era muito difícil. Tinha técnica, passe, visão de jogo, inteligência. Ele tinha todas as características de um segundo meia”.

Maradona pensa parecido: “Cresci como argentino e idolatrando um brasileiro que se chama Rivellino. Sempre me falavam de Pelé. Sim, tiro o chapéu para Pelé, é um fenômeno. Mas, para mim, quando entravam Pelé e Rivellino em campo, meus olhos iam para o lado em que estava Rivellino”. Os franceses Platini e Zidane também são fãs do jogador.

Morena escultural

“Quando era garoto, nunca pensei que seria jogador de futebol”, diz Rivellino. O menino Rivellino era, porém, excelente jogador e chutava forte. “Uma vez eu quebrei o braço de um menino com meu chute. Nunca ninguém me ensinou a chutar. O meu chute é dom, é natural; eu fui aprimorando jogando na rua, na várzea e depois nos clubes.”

Adolescente, o paulista Riva começou a brilhar no futebol de salão, no Banespa, e no futebol de campo, no Indiano. Apresentado por José Maria Marin — o ex-dirigente da Confederação Brasileira de Futebol que, mais tarde, foi preso na Suíça e, pelo FBI, nos Estados Unidos —, fez um teste no Palmeiras, mas não teria empolgado o técnico Mário Travaglini.

“Desprezado” no Palmeiras (time da família de origem italiana), Rivellino foi para o Corinthians. No Parque São Jorge, jogou ao lado do ponta-direita Sérgio Echigo (o Japonês), o inventor do drible elástico, que havia se inspirado em Garrincha e Pelé. Riva absorveu de tal maneira o drible que se tornou sua marca registrada (Ezra Pound e Harold Bloom diriam que, diluindo, se tornou mestre-inventor).

Em 1965, aos 19 anos, Rivellino começa a brilhar no elenco profissional do Corinthians. O treinador Oswaldo Brandão percebeu cedo que se tratava de um craque consumado e só precisava burilá-lo. Era, então, ponta de lança. No mesmo ano, fez seu primeiro jogo com a camisa da seleção. Ficou no banco e substituiu, no segundo tempo, Nair, da Portuguesa. Jogando na meia-esquerda, com a camisa 10, começa a brilhar. Santos e Vasco da Gama lutam pelo seu passe, mas o Corinthians decide mantê-lo.

De Garoto do Parque, Rivellino foi “promovido” pela torcida a Reizinho do Parque. Jogando de maneira brilhante, fazendo gols de falta e com chutes mortais de longa distância, além de dar passes estupendos para os atacantes, Riva acabou na seleção de João Saldanha, o técnico que classificou o time para a Copa do Mundo. Nas Eliminatórias, na vitória do Brasil sobre o Paraguai — por 1 a 0 —, 183.341 torcedores lotaram o Maracanã (consta que nem um fio dental passaria entre um e outro torcedor).

Quando Zagallo foi “nomeado” pela ditadura civil-militar para treinar a seleção, Riva teve uma conversa estranha (e profética) com o estupendo ponta-esquerda Edu, do Santos. “Estou ferrado, não vou jogar”, disse Edu. Rivellino rebateu: “Que é isso? Você joga com o Pelé no Santos e é titular da seleção”. Edu acertou na mosca: “Mas no esquema de que ele [Zagallo] gosta eu não me encaixo”. Maurício Noriega sublinha que “a desgraça tática de Edu, ironicamente, abriria caminho para Rivellino, até então reserva, na equipe titular”.

Zagallo deveria ganhar o Prêmio Nobel do Futebol por encaixar no mesmo time cinco camisas 10 geniais: Pelé, Rivellino, Jairzinho, Gérson e Tostão. Admildo Chirol, supervisor técnico da seleção, alertou: “Esteja pronto porque você vai jogar na ponta-esquerda”. Rivellino procurou o técnico e disse que, se jogasse fixo, “não conseguiria mostrar” seu “futebol”. “Zagallo disse que não tinha problema, que se eu ajudasse um pouco a fechar o meio-campo sem bola, teria essa liberdade. Ele queria um ataque com movimentação”, relata o jogador.

Num amistoso contra a Áustria, Rivellino entrou como titular e fez o gol da vitória por 1 a 0.
No México, aconteceu uma história que Riva conta pela primeira vez. Uma “morena monumental”, que circulava pelo hotel, era o assunto das rodas de jogadores e jornalistas. Deitado no quarto, o meia-esquerda escutou alguém batendo na porta e dizendo: “Psiu. Abre, por favor!” Era a jovem de corpo escultural. “Foi o primeiro gol de Rivellino” no México, escreve Maurício Noriega. “Entrei em campo mais leve”, admite Orelha (um de seus apelidos).
Numa “cobrança de falta poderosa”, Rivellino fez o primeiro gol do jogo de abertura contra a Tchecoslováquia. O Brasil estava perdendo e ganhou por 4 a 1. A torcida mexicana e a crônica esportiva passaram a chamá-lo de Patada Atômica.

Contra o Peru, na vitória por 4 a 2, Rivellino fez mais um gol. Na semifinal, contra o carrasco Uruguai, a seleção patropi começou perdendo. “O jogo foi tenso, mas houve uma grande sacada do Gérson. Ele enxergava muito o jogo e percebeu que os uruguaios estavam fazendo marcação individual sobre todos os nossos jogadores ofensivos. Como o Clodoaldo jogava mais atrás, ninguém prestava muita atenção nele. O Papagaio [apelido de Gérson] disse para o Corró para jogar na meia-esquerda que ele faria a cobertura como volante”, relata Riva.
O resultado é que, sem marcação individual, “Clodoaldo infiltrou-se pela defesa uruguaia, tabelou com Tostão e empatou o jogo” (o lance pode ser verificado no YouTube). Aos 31 minutos do segundo tempo, depois de uma triangulação entre Jairzinho, Tostão e Pelé, o Furacão fez o gol da virada. Rivellino, com bola ajeitada por Pelé, fez o terceiro gol.

Segundo Rivellino, “o grupo não era unido. Esse papo de que era uma família, isso não existe. Havia desavenças, tinha jogador que não se dava com outro jogador. O importante é que a amizade exista no campo; não é preciso ser amigo fora de campo”. Pelé e Fontana se detestavam. Ao sair do Brasil, a seleção estava desacreditada. Riva frisa que, quando venceram a Inglaterra, por 1 a 0, é que os jogadores e a comissão técnica perceberam que o Brasil poderia ser campeão. “Contra os ingleses, eu me machuquei sozinho, num lance com o Bobby Charlton. Voltei com uma bota de esparadrapo no segundo tempo. Naquele time, se você saísse, não voltava mais.”

O general Emilio Garrastazu Médici, então presidente da República, ligava para os jogadores da seleção. “Nos cinco jogos que fizemos em Guadalajara, em todos, depois que a gente voltou para a concentração, eu recebi telefonemas do Médici. Era aquele papo de sempre, ‘vamos ganhar’. Ele falava ‘parabéns’, aquele papo de torcedor mesmo”, revela Rivellino. “Não havia pressão por parte do governo”, acrescenta.

“Ganhar a Copa é a coisa mais linda do mundo”, afirma Riva. “Fui um jogador de seleção. Joguei mais na seleção do que nos clubes, no que se refere à qualidade.”
Qual o melhor time em que Orelha atuou? A seleção de 1970. “O Barcelona do Guardiola tinha muito do Brasil de 1970.”

Inteligentes e técnicos, Tostão e Rivellino se entendiam por música. Na Copa, Tostão apelidou o colega de Dorinha. “Sempre sentia uma dor, mas sempre jogava”, ressalta o craque que hoje brilha como colunista esportivo da “Folha de S. Paulo”.

Príncipe das Laranjeiras

Pelé e Rivellino: segundo o alemão Beckenbauer, são os dois grandes jogadores da história do futebol brasileiro
Pelé e Rivellino: segundo o alemão Beckenbauer, são os dois grandes jogadores da história do futebol brasileiro

Na Alemanha, em 1974, sem a espinha dorsal de 1970, a seleção ainda tinha Rivellino, Jairzinho, Piazza, Clodoaldo e Paulo César Caju. Riva era a estrela. Segundo ele, faltou harmonia. “Nosso time era muito bom, mas estava rachado entre o grupo dos jogadores que eram de São Paulo e os que eram do Rio. Houve… uma aposta em jogadores que não estavam bem.” O meia-esquerda jogou bem, fez três gols, mas a Alemanha Ocidental (e não a Oriental), a campeã, e a Holanda brilharam. Rivellino admite que não conhecia o craque holandês Johannes Cruyff. O Brasil ficou em quarto lugar.

Mesmo consagrado como Reizinho do Parque, Rivellino não conseguiu dar um título para o Corinthians, o que chateava sua imensa e exigente torcida. “Não se trata de choradeira, mas eu só peguei time ruim no Corinthians. Deus sabe o que fiz para ser campeão pelo Corinthians, mas não consegui.” Depois da copa, o time do Parque São Jorge perdeu o título paulista para o Palmeiras. “Fiquei tão atordoado depois daquele jogo” — o Palmeiras venceu por 1 a 0 — “que fui andando do Morumbi até minha casa, que ficava do outro lado do Rio Pinheiros, debaixo de chuva. Muita gente ficava olhando para mim na rua e não acreditava que era eu”. Na época (década de 1970), quando perdiam um campeonato, alguns jogadores ficavam com vergonha.

Antes de ser rebaixado de Reizinho para Plebeu do Parque, pela implacável torcida do Corinthians, Rivellino foi contratado pelo Fluminense, em 1975. Havia “sido praticamente escorraçado do clube” pelos torcedores. Francisco Horta, dirigente do time carioca, pagou 6,7 milhões de reais (valores atualizados) por seu passe. Para sair o mais rápido possível, o jogador abdicou dos 15% do passe. “Era o melhor e mais famoso jogador do Brasil naquele momento.”

Na estreia, com 40 mil torcedores no Maracanã, o Fluminense atropelou o Corinthians por 4 a 1, com três gols de Rivellino. Aos 28 anos, o jogador liderou a Máquina Tricolor e se tornou o Príncipe das Laranjeiras. Alguns jogadores resistiam ao seu talento, mas, depois de um jogo contra o Vasco, em que Riva só não fez chover, todos se tornaram seus súditos. O relato de Zé Roberto, então um de seus críticos: “Num gesto inusitado, Riva conduziu a bola pela parte externa do seu tornozelo em direção à esquerda e, num movimento rápido, com a ponta dos pés, trouxe a bola de volta. Esta, caprichosamente, encontrou um espaço entre as pernas do Alcir”. E, claro, o drible elástico levou ao gol.

Logo no primeiro ano, em 1975, Rivellino foi campeão com o Fluminense, deixando o Botafogo como vice. Depois do jogo, “Rivellino ajoelhou-se no meio do gramado e desandou a chorar”, relata Maurício Noriega. “Não fui campeão em São Paulo, mas fui no Rio. Saiu a pressão.” Ele conquistou os torcedores de todos os times. Era apontado como Príncipe das Laranjeiras, mas, na verdade, era o Rei do Rio.

Rivellino conta uma história acontecida em Goiânia. O técnico do Fluminense era Didi, o ex-jogador da seleção. “Falava para a gente não ter pressa e tocar a bola. O Didi dizia que o futebol não é pressa, que o gol tem que sair naturalmente. Uma vez fomos fazer um amistoso em Goiânia contra o Atlético Goianiense. Quinze minutos de jogo e estava 3 a 0 pra gente; os caras não tinham tocado na bola. Eles pediam pelo amor de Deus para a gente parar de tocar.”
Em 1976, o Fluminense foi o primeiro campeão da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. O Real Madri ofereceu 1 milhão de dólares — uma fortuna para a época — pelo passe de Rivellino, mas Francisco Horta não quis vendê-lo.

Na Arábia Saudita
Rivellino e Maradona: o maior jogador da história do futebol da Argentina admira mais o meia-esquerda do que Pelé
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No fim da década de 1970, convidado pelo príncipe Khalen bin Al Saud, Rivellino foi jogar futebol no Al Halal, time da Arábia Saudita. O atleta assinou um contrato no valor de 700 mil dólares, uma ninharia se comparado aos contratos de Messi e Neymar e mesmo de jogadores de menor expressão. Fez um sucesso tremendo, mas os times eram fracos. Zagallo era o técnico.

Ficou três anos na Arábia Saudita, ganhou dinheiro, mas cansou-se. “Eu simplesmente não queria mais jogar bola. Até tinha condição de jogar, mas não queria mais.” Abílio, irmão de Riva, conta que “o príncipe ofereceu o que o Roberto quisesse para ficar, até poço de petróleo”. Espalharam dois boatos: um garantia que o príncipe queria comprar a mulher do jogador e outro assegurava que Riva havia dado em cima da mulher do saudita. “Boatos”, sustenta o quase-Rei, espalhados por alguns pessoas, como o jornalista João Saldanha.

Em 1978, jogou um amistoso pelo Cosmos, dos Estados Unidos. Aos 36 anos, em 1981, o São Paulo quis contratá-lo, porque ainda jogava bem. Mas Riva não quis. Chegou a fazer uma partida amistosa pelo São Paulo.

Observador privilegiado do futebol brasileiro — trabalhou como comentarista da TV Bandeirantes —, Rivellino não se mostra animado com a atual geração de jogadores que atua no Brasil. “Fico puto ao perceber que enxerguei a jogada e o cara não. Vejo jogo sozinho, é como eu gosto. Tem quem faz direito ainda, o Zé Roberto, o Ganso. Hoje o futebol está chato. Não pode nada. Não pode driblar. Essa história de botar o cara que sabe jogar para marcar é um saco. Você contrata o Neymar para ele marcar ou para jogar?”

De que Rivellino mais tem medo? De sapo. “Uma vez, em Brasília, ele se apresentou à seleção dizendo que estava com o tornozelo machucado. Aí colocamos um sapo no corredor do quarto dele e quando ele viu o bicho, deu um pique de 50 metros espetacular”, conta Zico. Do que mais gosta, depois de futebol? De Passarinhos.

Riva tem três filhos, está no segundo casamento, tem escolinha de futebol e completa 70 anos daqui a 19 dias — 1º de janeiro de 2016. Ele nasceu em 1946.