Jornalista Eliezer Penna morre aos 92 anos

03 fevereiro 2018 às 21h55

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Ele trabalhou nos jornais “Folha de Goiaz”, “O Popular” e “Diário da Manhã”
Iúri Rincon Godinho
Morreu hoje no final da tarde Eliezer Penna. Falando assim, ninguém sabe direito quem ele foi. Aos 92 anos, estava afastado da agitadíssima vida que levou.
Eliezer foi um dos jornalistas da geração de ouro dos anos 50 que tirou a imprensa goiana do século 19. Ler jornal naquela época exigia um exercício de paciência. Os textos eram, para dizer uma palavra usada na época, sorumbáticos, quase herméticos e laudatórios. Elogiosos para os amigos, cacete nos desafetos. Eliezer implantou em “O Popular”, sob a direção paternal e complacente de Jaime Câmara, um jornalismo de palavras simples, aquele que todo mundo entendia. Logo nas primeiras linhas o leitor ficava sabendo quem, como, onde e quando. Nada de enrolação. Aproximou a redação das causas populares sem perder a elegância do texto. Foi professor de todo mundo que foi alguém na imprensa goiano nos últimos 50 anos. Era amado e reconhecido em vida como um mestre.
Chegou a Goiás vindo de São Paulo, estado onde nasceu em 8 de agosto de 1925, na cidade de Taquirituba. Na juventude envolveu-se com o Partido Comunista e chegou a Goiânia em 1949 como jornalista da “Folha da Manhã” (em 2018, “Folha de S. Paulo”), desiludido com a vida na metrópole paulista e com os desafetos que fizera lá. Encantou-se com a nova capital e com Araci Taveira, sua futura mulher, que conheceu em uma festa no Jóquei Clube. Foi amor à primeira vista. Tiveram quatro filhos.
Em um Dia dos Mortos de 1956 ele fez sua mais viva e melhor reportagem. Foi o primeiro a entrevistar Juscelino Kubitschek no local onde seria construída a nova capital do Brasil. Eliezer não se intimidada entre os poderosos. Nasceu destemido, um mundo a conquistar pela frente. Manso, de gestos curtos e um sorriso no canto dos lábios, mirava o interlocutor meio de lado com olhos espertos e irônicos.
Com pouco tempo em Goiânia já era querido e admirado. Foi secretário do Interior e Justiça do governador José Feliciano no final dos anos 50 e chefe do Gabinete Civil do governador Mauro Borges no início dos anos 60. Com menos de 10 anos por aqui, já tinha conquistado tudo mas iria além. Chegou a coordenador da campanha para senador do ex-presidente Juscelino Kubitschek e deputado estadual.
Sua habilidade e inteligência o levaram ainda a secretário de Imprensa do governador Otávio Lage e assessor parlamentar do governador Leonino Caiado. Aquele garoto que começou no Partido Comunista era tão bom de serviço que servia também ao regime civil-militar. Não, Eliezer não mudara de lado. Ele simplesmente estava acima dos conceitos de esquerda e direita.
Há alguns anos Eliezer sentia o peso da idade. Com Alzheimer, não saía de casa e muitas vezes não reconhecia as pessoas. Não tem problema. Você pode até não saber quem foi Eliezer Penna. Mas a história não se esquecerá dele.
Perfil biográfico de Eliezer José Penna
Estudos: Curso de Direito, Universidade Católica de Goiás, 1971.
Profissão: Jornalista e advogado.
Nascimento: 8 de agosto de 1925, Taquirituba-SP.
Residência: Goiânia.
Filiação: José Penna e Virgília Penna.
Cônjuge: Araci (Ceci) Taveira Penna (neta do ‘coronel’ Vinício J. Taveira, chefe político de Niquelândia).
Filhos: Divina (advogada), Eliezer Penna (engenheiro), Eliara e Valéria (empresária).
Vida Política e Parlamentar
Secretário do Interior e Justiça, governo José Feliciano, 1959-1961.
Chefe do Gabinete Civil, governo Mauro Borges.
Deputado estadual, PSD, 5.ª Legislatura, 1963-1967. Afasta-se em janeiro de 1965 para assumir Secretaria de Estado.
Secretário de Indústria e Comércio, governo Ribas Jr, 1965-1967.
Deputado estadual, suplente da Arena, 6.ª Legislatura, 1967-1971. Assume, temporariamente, em 13.08.1968. Renuncia para assumir Secretaria de Estado.
Secretário de Imprensa, governo Otávio Lage, 1967-1971.
Assessor Parlamentar, governo Leonino Caiado.
O jornalista
Iniciou-se no jornalismo em Avaré, SP. Na capital paulista, trabalhou na “Folha da Manhã” (Folha de S. Paulo), no “Jornal Hoje” e no jornal “O Dia”.
Transfere-se para Goiânia em 1949, trabalha na “Folha de Goiaz” e em “O Popular” na chefia da redação, sendo responsável pela transformação em jornal diário. E, posteriormente, trabalha no “Diário da Manhã”.
Membro da Associação Goiana de Imprensa, de que foi presidente.
Membro da Academia Goiana de Letras..
Em 02.10.1956, entrevistou o presidente Juscelino Kubstechek na sua primeira visita ao sítio onde seria implantada a nova capital.
Chefiou a campanha política de JK, quando ele se candidatou para o Senado por Goiás, em 961.
Poema sobre Brasília
Eliezer José Penna, jornalista de primeira linha, foi o primeiro presidente a entrevistar o presidente Juscelino Kubitschek na área onde seria construída Brasília, no chamado “Quadrilátero de Cruls”. Ele é autor do poema “Brasília”.
Brasília
Eliezer Penna
I
Brasília – sonho arrojado!
De brasileiros viris
Marco de fé já plantado
No coração do país.
Vais surgindo no planalto
Mãos erguidas para o alto
Suave prece de luz!
Simbolizas um tesouro:
Um porvir de paz e de ouro
A Terra de Santa Cruz!
II
Sim, creio em ti, Brasília.
Cidade monumental!
Tu és a angélica filha
Do mais límpido ideal.
Sim, eu creio em ti, cidade,
Que surge na imensidade
Do planalto de Goiás
E que afirma ao mundo inteiro
Sim, que diz: “O brasileiro
É um povo forte e capaz”!
III
Maravilhosa promessa
Êsse teu alvorecer
Vais surgindo com a pressa
De quem muito quer crescer.
Tu já mudaste a paisagem
Do planalto, onde a coragem
Do pioneiro agora está.
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Onde o soturno marasmo
Deu lugar ao entusiasmo
De quem trabalha hoje lá.
IV
Ontem, tristeza completa,
Um abandono sem par.
Aqui a siriema inquieta
Monótona a soluçar.
Ao longe, a grande cachoeira
Nas tardes de soalheira
Entoava a sua canção.
E o carro de boi cansado
Gemia no descampado
Voltando rumo ao sertão.
V
Ontem, as tristes veredas
Do chapadão a dormir.
Hoje, o malho, as picaretas
Noite e dia a retinir.
E a máquina gigantesca
Revolvendo a terra fresca
Abrindo sulcos no chão
Neles lança uma semente
Brasília – a flor resplandente
A esperança da nação”
VI
Hoje, a plácida campina
Tomou aspecto febril
E a grandiosa oficina
Do futuro do Brasil.
Mil homens fortes, suados,
Trabalham entusiasmados
Nessa obra de Titâ.
Sofrem na batalha estoica.
Enfrentam a luta heroica.
Têm confiança no amanhã!
VII
São João Bosco viu em sonho
Correndo ali leite e mel;
Um Eldorado risonho.
Um esplêndido vergel.
Essa santa profecia
Será realidade um dia
Na cidade sem igual
Que o Brasil terá no centro.
Grande por fora e por dentro.
Nossa nova capital!
VIII
Saudemos, pois, o futuro
O Brasil está de pé
Aplaudindo o fruto puro
Da força, do amor, da fé.
Cantemos todos um hino
A fibra de Juscelino
Nosso chefe sempre ovante
Oh! Moderno bandeirante
Da grandeza do Brasil!
IX
Brasília, Brasília amada!
Grande e rediosa hás de ser.
Criança meiga e mimada
Que eu vi um dia nascer.
Goiânia, a irmã carinhosa
Que te embala cuidadosa
Te quer muito, muito mais!
Todo o Brasil te deseja,
Mas Goiânia é quem te beija
Porque nasceste em Goiás!