Jornais apreciam publicar notícias escandalosas sobre pessoas famosas, porque o assunto aumenta a audiência e provoca polêmica

José Mayer e Susllem Meneguzzi Tonani, de 28 anos; no destaque, atrizes que apoiaram denúncia da figurinista

A “Folha de S. Paulo” cometeu dois erros editoriais na semana passada. Primeiro, no blog #AgoraÉqueSãoElas”, publicou que o ator José Mayer, que faz o personagem Tião Bezerra na novela “A Lei do Amor”, assediou a figurinista Susllem Meneguzzi Tonani, de 28 anos, mas não ouviu a versão do “acusado”. Depois, corrigiu-se e ouviu tanto José Mayer quanto a TV Globo.

Segundo, o jornal, ao menos na reportagem “Figurinista acusa José Mayer de assédio sexual; ator nega”, não menciona que requentou uma notícia antiga, publicada na coluna de Leo Dias, do jornal “O Dia”, do Rio de Janeiro.

De matiz sensacionalista, a coluna de Leo Dias publicou em primeira mão, na edição de 3 de março deste ano — há quase um mês —, a notícia de que José Mayer havia assediado Susllem Meneguzzi Tonani. Como o repórter responde a processos, por supostos excessos — nas suas mãos, quase tudo vira novela —, os jornais sérios, ou sisudos, não deram a notícia imediatamente.

A única diferença é que Leo Dias, na coluna do início de março, não deu o nome da figurinista nem publicou sua fotografia. Mas deixar de mencionar o autor do furo, ainda que o repórter misture notícia e entretenimento, não é a prática jornalística correta. A “Folha”, que mantém uma ombudsman para corrigir seus equívocos, cometeu um erro, que, até agora, não admitiu, ao omitir a fonte primeva da informação.

Se não é adepta de fofoca, mesmo quando se trata de alta fofoca — na verdade, o assédio, se houve (Susllem Meneguzzi Tonani pareceu-me convicta e verdadeira, apesar da negativa peremptória de José Mayer), é de uma gravidade ímpar —, por que a “Folha” correu atrás da notícia divulgada por Leo Dias? Provavelmente, como os demais jornais e sites que repercutiram a denúncia, em busca de mais audiência e, claro, polêmica.

Entretanto, ao publicar a história do assédio com quase um mês de atraso em relação ao jornal “O Dia”, a “Folha” deixa patente que seu jornalismo dito investigativo está perdendo terreno para sites mais atentos. O editor-executivo Sérgio Dávila certamente dirá que, ao contrário de Leo Dias, documentou, de maneira mais qualificada, sua reportagem-denúncia. Procede, se se entender por “documentar” ouvir todos os lados da questão. A “Folha” ouviu as partes interessadas — a jovem assediada, ou supostamente assediada, o ator e a Globo. Deste modo, pôde fechar a reportagem, dando-lhe consistência e seriedade.

Jornais, sobretudo os de grande porte, tendem a sugerir que não apreciam fofoca, mesmo quando envolvendo gente da alta sociedade ou do meio artístico. Nada mais enganador. Todos os jornais, uns menos e outros mais, apreciam publicar notícias do mundo cão, sobretudo quando envolvem famosos. A razão mais prosaica é que tais assuntos rendem audiência. Outro motivo é que os seres humanos — e jornalistas são, claro, humanos — adoram escarafunchar a vida alheia, especialmente quando há uma história sexual picante ou abusiva, como parece ser o caso.