Dados do IVC mostram como os maiores veículos do País dependem cada vez mais da “circulação” digital para manterem o negócio

Texto do Globo (no alto) e Folha: ambos se dizem líderes

Os dois jornais de maior circulação do País, Folha de S. Paulo e O Globo, começaram o ano reivindicando o topo do ranking de vendas. Tanto o veículo paulista, quanto o fluminense, usaram dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), entidade que monitora dados dos principais jornais brasileiros, e, ironicamente, ambos comprovam a tese de que os números, quando torturados, confessam o que se quer ouvir.

O diabo está nos detalhes. A Folha divulga a média de circulação mensal durante todo o ano. Assim, fechou 2019 com 328.438 “exemplares” pagos diariamente. As aspas se justificam porque a conta inclui tanto o jornal impresso quanto as assinaturas digitais. Nesse cálculo, O Globo concluiu o ano com 323.172 exemplares pagos por dia. O Estado de S. Paulo é o terceiro, com 242.373.

Já O Globo usa outra metodologia para afirmar ser o maior jornal do Brasil. A veículo da família Marinho anuncia ter encerrado dezembro de 2019 com média de 333.772 exemplares pagos diários. A Folha, nesse recorte, ficou com 329.394 e o Estadão, com 245.482.

Independentemente da fórmula de cálculo, nota-se que, cada vez mais, os grandes jornais dependem da assinatura digital. O acesso pela internet deixou o papel para trás, graças à agilidade, comodidade, portabilidade e economicidade. A Folha é a campeã, com 236.059 assinaturas digitais e 92.379 exemplares do impresso por dia (incluindo vendas avulsas e assinaturas). O Globo, 213.352 e 109.820 (respectivamente) e o Estadão, 141.536 e 100.838.

Nota-se, portanto, que o leitor da Folha é mais conectado que os demais. Para cada leitor do impresso, há 2,5 assinantes do digital. No Globo, a proporção é de 1 por 1,9. No Estado de S. Paulo, é de 1 por 1,4.

A boa notícia é que, impulsionados pelos leitores on-line, os jornais têm ampliado a circulação. Desde 2017, o número de leitores diários do Globo aumentou 38%; da Folha, 4,4% e do Estadão, 18,5%. Esse crescimento significativo do jornal da família Marinho fez com que ele ultrapassasse o da família Frias, que liderava o ranking há três anos.

A notícia ruim é que o modelo de negócio ficou mais complexo. Uma assinatura digital da Folha custa de R$ 9,90 (para estudantes universitários) a R$ 29,90, enquanto uma anual do impresso, que também dá acesso ao conteúdo do site, equivale a R$ 107,60. Ou seja, é preciso vender 3,6 assinaturas on-line para compensar uma do papel.

No Globo, a proporção é ainda mais desfavorável ao digital, cuja assinatura custa R$ 19,90 e a do impresso, R$ 119,90 por mês. Portanto, para cobrir um assinante do jornal físico, são necessários seis da versão on-line. No Estadão, a proporção é de sete por um: R$ 9,90 no digital e R$ 76,90 no impresso.

O cenário mostra que as empresas estão conseguindo se adequar, mesmo que aos trancos e barrancos. O sistema de paywall, em que o leitor tem direito a um número limitado de textos gratuitos, tem sido o modelo mais buscado em grande parte dos jornais pelo mundo. Outros, como o Jornal Opção, mantêm a política de serem 100% abertos.

Nos próximos anos, o mercado vai definir qual modelo prevalecerá (como na guerra do VHS com o Betamax), se ambos conviverão juntos (como no mercado de livros) ou se um novo paradigma os substituirá (como ocorreu com o mercado fonográfico).