Empresário usou ou tentou usar ex-marido da presidente Dilma Rousseff como lobista, diz “Época”
16 janeiro 2016 às 05h24
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José Antunes Sobrinho procurou Carlos Franklin Paixão de Araújo para tentar “destravar as barreiras dos empréstimos oficiais”. Pagamento de 200 mil reais está sendo investigado
A última capa da revista “Época”, que estará nas bancas de Goiânia no domingo, 17, contém uma informação explosiva: “há três anos”, o empresário José Antunes Sobrinho, um dos sócios da Engevix — grupo que atua nas áreas de óleo e gás, petroquímica, siderurgia, mineração e infraestrutura —, alegando crise provocada pela desaceleração da economia, decidiu procurar, para atuar como lobista, o ex-marido da presidente Dilma Rousseff, Carlos Franklin Paixão de Araújo, que, nos tempos da ditadura, foi tão guerrilheiro quanto a petista, na organização VAR-Palmares (eles usavam os codinomes Max e Estela). O objetivo de José Antunes, ao procurar Carlos Araújo, até hoje amigo de Dilma Rousseff — eles conversam e se visitam —, era “destravar as barreiras dos empréstimos oficiais”. O encontro teria sido intermediado por Paulo Roberto Fraga Zuch, ex-presidente da Desenvix, empresa de energia da Engevix. A reportagem é de Ana Clara Costa e Thiago Bronzatto.
Não se sabe a extensão do envolvimento do marido da ex-presidente Dilma Rousseff, mas os jornalistas de “Época” descobriram “que, ao menos, a estratégia” articulada por José Antunes “foi posta em marcha. Houve uma reunião secreta entre executivos da Engevix e Carlos Araújo”. Um ex-vice-presidente da empresa aceitou falar a respeito. “Emergem” da investigação dos repórteres “evidências de que Carlos Araújo prometeu ajudar a Engevix junto ao governo Dilma. Descobre-se que, no mesmo período, a empreiteira pagara ao menos R$ 200 mil, por meio de um intermediário, a um casal amigo de Dilma [Eunice Ribas e Nilton Belsarena] e seu ex-marido”, anota a revista. A publicação do Grupo Globo faz uma ressalva: “Não há indício de que a presidente saiba o que transcorreu”.
Acusados de “participar do cartel do petrolão”, os empreiteiros da Engevix vivem dias difíceis. “Seus executivos, como Antunes, estão encalacrados junto à Justiça. Antunes e Gerson Almada, outro sócio da Engevix, negociam acordos de delação premiada — e a empresa, quase quebrada a esta altura, negocia um acordo de leniência junto ao Ministério Público Federal. Antunes está preso em Curitiba e Almada cumpre prisão domiciliar”, escrevem Ana Clara Costa e Thiago Bronzatto.
Os procuradores da República estão investigando as relações entre a Engevix e Carlos Araújo. José Antunes “já revelou aos procuradores a existência da abordagem” ao ex-marido de Dilma Rousseff. Ele disse à “Época”: “Estou proibido de falar sobre o assunto”.
Procurado pela equipe da revista, Carlos Araújo negou de maneira peremptória qualquer envolvimento em falcatruas e lobbies: “Não tem nada disso. Isso é um desrespeito à minha pessoa”. Mas não quis esclarecer por quais motivos conversou com alguém da Engevix. A presidente Dilma Rousseff, pelo contrário, apresentou sua versão por intermédio de uma nota: “(A presidente) desconhece qualquer reunião entre Carlos Araújo e representantes da Engevix, assim como qualquer pleito que tenha sido feito ao governo. Informa ainda que não tem relação com as pessoas citadas pela revista”.
Ao final do texto publicado na internet, a “Época” demonstra cautela — que é, fato, necessária, porque, até onde se sabe, Carlos Araújo é tido como um homem de vida relativamente espartana e que, apesar de ouvido pela presidente, não teria envolvimento nos negócios do governo. “Seria precipitado, neste momento, afirmar que Araújo foi cooptado e remunerado pelo petrolão — ou mesmo que tenha migrado da promessa de ajuda a Antunes à ação”, sublinha a revista.