Demétrio Magnoli diz que PT é partido de direita e que Dilma não deve sofrer impeachment
28 abril 2015 às 16h23
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O doutor em geografia e especialista em política internacional disse no “Roda Viva”, da TV Cultura, que a sigla da presidente tem cooptado políticos considerados conservadores
Frederico Vitor
Doutor em geografia humana e especialista em política internacional, Demétrio Magnoli foi o entrevistado do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, que foi ao ar na noite de segunda-feira, 27, e causou polêmica ao acusar o PT de ser um partido de direita ao patrocinar a política dos campeões (JBS-Friboi, por exemplo). Ele explica que a liberação de bilhões de reais em créditos do Tesouro Nacional a um seleto grupo de empresários escolhidos a dedo pelo governo petista jogou uma pá de cal sobre o discurso ideológico de esquerda até então sustentada pela sigla.
Demétrio Magnoli cita as presenças da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) e do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), ambos de direita, no primeiro escalão do governo federal, como o mais claro exemplo da esquizofrenia política vivida atualmente no país. O pesquisador, que escreve artigos para “Folha de S. Paulo” e “O Globo” e comenta política internacional no canal Globo News, afirma que a esquerda democrática no Brasil atualmente é representada pelo PSDB, PPS e PSB. Porém, diz não apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff por não existir provas contundentes de que a chefe do Executivo federal tenha consumado ações nada republicanas.
Demétrio Magnoli elencou as diferenças entre a esquerda e a direita latino-americana da europeia. Segundo o especialista, as esquerdas que governam boa parte dos países do subcontinente americano têm DNA autoritário, viés nacionalista e discurso antiamericano. Além disso, tal corrente não fez uma reflexão do desastre do regime soviético e teima em apoiar o regime cubano dos irmãos Castro, o que classificou como “deplorável”.
Já a esquerda europeia, segundo Demétrio Magnoli, fez uma reflexão do fracasso soviético e segue modelos de governo de linha socialdemocrata e internacionalista. Sobre a direita, o analista diz que diferentemente do que ocorre na Europa, cujos partidos advogam o Estado mínimo, a livre iniciativa e a liberdade econômica, no Brasil os liberais dependem da máquina pública para sobreviver politicamente. “A direita no Brasil adora o Estado”, sublinha.
Bolivarianismo petista
Perguntado se o PT é um partido de linhagem bolivariana, ou seja, nos moldes do movimento venezuelano fundando pelo falecido presidente Hugo Chávez e secundado pelo atual, Nicolás Maduro, Demétrio Magnoli afirma que tal corrente é minoritária dentro da sigla que governa o Brasil. Ele explica que o bolivarianismo nasceu de uma tentativa frustrada de golpe e se institucionalizou quando Chávez ascendeu ao poder por vias democráticas. Já o PT nasceu dos movimentos sindicais do ABC Paulista em um contexto em que se reivindicava abertura política e o fim da ditadura civil-militar no Brasil.
Porém, o especialista esqueceu-se de dizer que o bolivarianismo também nutre forte inclinação ao militarismo. Na Venezuela, por exemplo, Chávez fomentou a criação de uma ampla milícia armada, além de ter cooptado a cúpula das Forças Armadas venezuelanas a seu projeto de poder por meio de aumento de salários e aquisições bilionários de equipamentos bélicos de procedência russa para escapar dos vetos de Washington.
Sobre os rumos da política exterior Demétrio Magnoli disse que o Itamaraty foi privatizado por uma ala stalinista do PT liderada pelo assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, o gaúcho Marco Aurélio Garcia. “É a área mais preocupante e desastrosa deste governo”, afirma.
Apesar de considerar que o PT não somou na melhoria da democracia brasileira, Demétrio Magnoli considera a legenda de Lula e Dilma como democráticas e importantes para a construção da democracia brasileira. Ele critica o Movimento Brasil Livre, que organizou os protestos do dia 5 de março, por ainda não ter organizado um partido político. “Fora da organização dos partidos não se faz política”, diz.
Apesar de dispensar rótulos, Demétrio Magnoli, que foi militante trotskista na década de 1980, afirma que é de esquerda e simpatiza com os pensamento dos partidos esquerdistas democráticos europeus. “Quero escolas, universidades, saúde e transporte verdadeiramente públicos e de qualidade, algo que o governo brasileiro tem falhado em fazer.”