Com seus tanques, Bolsonaro mostra que tem medo da democracia e… de Lula

10 agosto 2021 às 11h58

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Não há tanques capazes de esconder que, na atual guerra, morreram quase 600 mil brasileiros e há milhares de outros doentes
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Voto impresso, Lula e CPI da pandemia
Jair Bolsonaro, sem partido, sabe que não dá para esconder um gigante — a apuração da CPI da pandemia — com algo mignon, o voto impresso. Pode-se manipular incautos, com a ação eficaz dos mictórios do ódio, mas o presidente sabe que as urnas eletrônicas, ao contrário do que diz, evitam fraudes.
O fato — a questão objetiva — é que o chefe do governo federal não apresentou provas, sequer uma, de que as urnas eletrônicas possam ser fraudadas.

Se um presidente, com toda a estrutura ao seu dispor, não tem como provar quer as urnas são devassáveis, fraudáveis, quem poderia? Ninguém, claro.
O que, verdadeiramente, Bolsonaro teme? Tudo indica que o presidente está preocupado com a possibilidade de Lula da Silva ser eleito presidente no primeiro turno. Uma vitória do petista libera a Polícia Federal e o Ministério Público Federal — hoje, às portas de fazer advocacia para Bolsonaro e sua família — para investigarem tanto o presidente quanto seu filho Flávio Bolsonaro e alguns aliados.
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Tanques são ameaça à democracia

Democratas não ameaçam a democracia com o fim das eleições. Não há democracia sem eleições. Portanto, Bolsonaro está ameaçando a democracia, sugerindo que planeja contorná-la para continuar no poder.
A pior democracia é melhor do que qualquer ditadura. Não há ditadura benigna. Quando perguntado por qual motivo havia decidido acabar com a ditadura civil-militar, produzindo a distensão — que levou à Abertura —, o presidente e general Ernesto Geisel disse: porque havia se tornado uma bagunça.
Os tanques das Forças Armadas, na porta dos poderes — Judiciário, Legislativo e Executivo —, é uma exibição de força de Bolsonaro. O presidente está dizendo, com os tanques, que pode, a qualquer momento, dar um golpe de Estado e acabar com a democracia.

Não há nenhuma coincidência entre o desfile militar e a votação da PEC do voto impresso, auditável. Não dá para esconder um elefante. Só o senador Jorginho Mello parece acreditar em coincidências, como se não conhecesse a história do Brasil.
Jorginho Mello e o senador Luis Carlos Heinze falam de corrupção ocorrida no passado, mas esquecem de informar que o Centrão, que “contaminou” o governo de Lula da Silva e Dilma Rousseff, ocupa cargos de alto mando no governo de Bolsonaro. Cadê a “santidade”?
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Corrupção no governo de Bolsonaro
Há indícios fortes de corrupção no Ministério da Saúde. As denúncias devem ser investigadas. O presidente Jair Bolsonaro, se nada teme, deveria incentivar a CPI da Pandemia. Deveria exigir uma investigação a fundo. Porque, se não houver contaminação sistêmica, poderá sair, ao fim da CPI, com um atestado de idoneidade.
Mas o marketing do voto auditável não tem como esconder a CPI da Pandemia e seus resultados.
Não dá para esconder que 564 mil brasileiros morreram devido à Covid-19. Não há tanques que possam esconder que há uma guerra em curso. Além dos mortos, mais de meio milhão, há milhares de brasileiros internados e vários outros com sequelas físicas e mentais — às vezes sem a assistência adequada. Adiante, muitos tendem a morrer em decorrência de complicações derivadas da Covid-19, mas nos atestados de óbito devem figurar “AVC”, “tromboembolias” etc.
No caminho com Maiakóvski, de Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita — MENTIRA!