COMPARTILHAR

Se aprovada, a empresa não pode ser executada pelos credores nos próximos meses. Bancos não querem fazer novos empréstimos

Jornais e revistas do Brasil, com ligeiras exceções, passam por uma fase financeiramente complicada. A revista “IstoÉ”, da Editora 3, está tentando sobreviver a uma recuperação judicial. Depois de extinguir publicações e demitir funcionários — cerca de 800 (150 deles são jornalistas) —, com uma dívida de 1,6 bilhão de reais (o prejuízo de 2017 chegou a 331 milhões de reais), o Grupo Abril pediu recuperação judicial na quarta-feira, 15. A gestão da empresa já está sob controle da Alvarez & Marsal, empresa especializada em prestar consultoria de reestruturação.

Num comunicado (leia abaixo), o Grupo Abril afirma que, com a recuperação judicial, tenta buscar “proteção judicial para a repactuação do seu passivo junto a bancos e fornecedores e, dessa forma, garantir sua continuidade operacional”. A empresa planeja renegociar seus débitos com bancos e fornecedores.

A missão de Marcos Haaland, que está no comando dos negócios, será, afirma-se no mercado, reestruturar e vender os principais produtos da Editora Abril. O que não será fácil, dada a crise geral do mercado. É possível, o que não é o mesmo que factível, que o único grupo capitalizado, em termos de Brasil, com capacidade para comprar revistas da Abril, como “Veja” (a melhor revista de informação semanal do país), “Exame” e “Quatro Rodas” — as galinhas de ovos de ouro do grupo — é o Grupo Globo. Porém, para ter uma “Veja”, teria de extinguir a “Época” (cujo novo modelo aparentemente não está funcionando bem; fica-se com a impressão de que é uma “Piauí” piorada).

“Um evento precipitou a entrada com o pedido de recuperação: de uma forma abrupta, os bancos decidiram restringir o acesso da Abril a capital”, afirma Haaland. Bancos, cuja racionalidade é fria — Lênin chegou a escrever “o que é um assalto perto de um banco” (frase atribuída a Brecht) — por certo não apostam na recuperação do Grupo Abril. Daí a resistência tanto a novos empréstimos quanto a alongar a dívida. (Curiosamente, embora exponha a crise das grandes empresas, a revista “Exame” ainda não fez nenhuma reportagem de fundo explicando a crise do Grupo Abril.)

O novo executivo diz que o Grupo Abril vai priorizar a internet. Haaland espera que a Vara de Recuperação Judicial e Falências de São Paulo aceite o pedido de recuperação judicial. Em seis meses, os credores não poderão executar o Grupo Abril. Como não se paga 1,6 bilhão em seis meses, sobretudo com o mercado publicitário em recessão, o que a Abril pretende, na verdade, é mais fôlego para renegociar as dívidas. Entre nada e alguma coisa, os bancos ficarão, racionalmente, com o segundo “caminho”.

Giancarlo Civita e Victor Civita Neto: os filhos de Roberto Civita podem sair do mercado de revistas? Não se sabe. Mas a negociação com os bancos vai ser dura. Mas não é a primeira vez que o Grupo Abril negocia com o mercado financeiro

Comunicado do Grupo Abril

“Abril protocola pedido de recuperação judicial

“O Grupo Abril comunica que protocolou na data de hoje um pedido de recuperação judicial de suas empresas na vara de recuperação judicial e falências de São Paulo, conforme definido nos artigos 47 e 48 da Lei 11.101/2005. Esse pedido engloba todas as companhias operacionais do Grupo, incluindo a Abril Comunicações e as empresas de distribuição de publicações, agrupadas dentro da Dipar Participações, e de distribuição de encomendas Tex Courier. Esse movimento se deve à necessidade do grupo em buscar proteção judicial para a repactuação de seu passivo junto a bancos e fornecedores e, dessa forma, garantir sua continuidade operacional.

“Nos últimos anos, o setor vem passando por uma profunda transformação tecnológica que afetou fortemente as empresas de mídia, no Brasil e no mundo, com impacto na circulação de revistas e na receita de publicidade. A Abril vem se ajustando a essa nova realidade através de redução de custos e despesas. Recentemente, promoveu uma ampla adequação de seu portfólio de produtos buscando um equilíbrio econômico-financeiro.

“Porém, uma situação de instabilidade junto a seus credores e ações abruptas de restrição de seu capital de giro levaram o grupo a seguir pelo caminho da proteção judicial. A Abril reforça que continuará operando normalmente e fornecendo a seus leitores produtos de alta qualidade editorial, em compromisso com sua história na imprensa brasileira e em respeito aos seus públicos e parceiros.”