ACM, Sarney, Marco Maciel e Aureliano Chaves deixaram a ditadura quando já não era mais interessante defendê-la. O Graciliano Ramos da política passou a defender a democracia quando era difícil enfrentar a ditadura

A Editora Record lança em maio o livro “Senhor República — A Vida Aventurosa de Teotônio Vilela, um Político Honesto”, do jornalista Carlos Marchi (autor de uma biografia decente do jornalista Carlos Castelo Branco).

Teotônio Vilela é (reluto em dizer era) um político raro. Antônio Carlos Magalhães, Aureliano Chaves, José Sarney e Marco Maciel abandonaram a ditadura civil-militar no momento em que já não era positivo e produtivo defendê-la. São filhos das mudanças de 1982, 1984 e 1985. São homens do poder, qualquer que seja. São homens de transições e, alguns deles (consta que Aureliano e Maciel permaneceram íntegros), de transações. Mas há indivíduos que deixaram o regime militar no momento “errado”, ou seja, quando ainda era positivo defendê-lo para extrair benesses. Pois Teotônio Vilela abandonou a ditadura, quando ela ainda era boa para seus aliados, e migrou para a oposição, aliando-se ao MDB-PMDB. Porém, quando a democracia começou a ser retomada, morreu de câncer.

O livro ainda não está circulando. Mas Teotônio Vilela, embora seja periférico em comparação a Tancredo Neves e Ulysses Guimarães e às vezes seja visto como uma espécie de dom Quixote, era mesmo um grande homem e, por isso, vale muito que sua biografia seja publicada. Pode um indivíduo permanecer inteiramente íntegro sob uma ditadura? Parece que sim. O político alagoano, espécie de Graciliano Ramos da política, talvez seja o exemplo mais cabal. Há outros, como Petrônio Portella, que merece ser biografado (o historiador Luis Mir diz que está pesquisando sua vida).