Goiânia foi a capital brasileira de basquetebol e seus jogadores brilharam na Seleção Brasileira

Chico Kleber

In memoriam a Robertinho, Luis Caiani, Macalé, Ricardo Andrauss e outros que partiram jovens demais

Anos 1970: era de ouro do basquetebol goiano. Quem viveu jamais se esquecerá…

Time de basquete em Goiânia

O Estado de Goiás, durante toda a década de setenta e início dos oitenta, foi palco e celeiro vivo do basquete do país. Possuía clubes que se rivalizavam, atraindo grande público, e possuíam jogadores espetaculares, muitos dos quais integraram a Seleção Brasileira. Houve época, inclusive, que a maioria dos titulares e reservas da Seleção era do Cerrado goiano.

Vila Nova, Jaó, Jóquei, Ajax eram clubes tradicionais no basquete goiano e lotavam os ginásios, em especial a velha Esefego.

Tive a honra de ter vivido e presenciado essa onda. Fui infantil do basquetebol do Vila Nova, tendo como professor o querido e super gente boa e saudoso jogador Robertinho (morreu jovem demais), que inclusive se encontra nas fotos (segurando a taça) que compartilho, com sua farta cabeleira, simpatia de paizão da meninada, com seu velho Dodge, cheio de bolas de basquete, farto bigodão, que alimentava nossos sonhos, com muita leveza, afeto, união e alegria.

Naquela época, a efervescência do basquete era contagiante em Goiás, mesmo tendo o país de então o melhor futebol do mundo e times que enchiam os nossos olhos dos torcedores de paixão.

A molecada de minha geração jogava futebol nos campinhos de terra. Só no meu bairro, o Setor Marista, existiam cerca de oito campinhos de pelada. As poucas quadras de cimento eram utilizadas por nós, jogando basquete. Nos natais, sonhávamos ganhar uma bola de basquete para as peladas nas quadras, pois bolas de capotão, as de futebol, como chamávamos, a maioria de nós já possuía.

Recortávamos fotos de nossos ídolos do basquete, dos clubes e da Seleção Brasileira. Sabíamos as regras, o nome dos jogadores. Era o maior barato.

Infelizmente, nos dias de hoje, a prática do basquete praticamente foi dizimada. O poder público, a iniciativa privada e os clubes não mais incentivam a garotada, quase não se observa a presença de jovens batendo uma bola nas quadras.

Estrelas do basquete em Goiás, como César Sebba

Só para se ter noção da pujança passada do basquete em Goiás, o time do Vila Nova foi campeão sul-americano em 1974, campeão da Taça Brasil, em 1973, e a maior conquista: terceiro lugar no Mundial da Basquete de 1974. É mole? Vilaaaaaaaaa!

Saí do infantil do basquetebol do Vila Nova para iniciar o infanto-juvenil no Clube Jaó, treinado pelo rigoroso e famoso técnico Carlos Barone Neto, o excelente e vencedor de títulos brasileiros. Barone era exigente.

Mas, no segundo treino, Barone me chamou a atenção para a marcação, tipo assim: “Cabeludinho, presta atenção; desse jeito tá brabo”. Acostumado com o estilo paizão do Robertinho, meu técnico do Vila Nova, eu não quis aceitar o pito (coisa de menino) e, de mansinho, me desliguei do esporte e virei o cabeludo galego corredor dos campinhos de terra do Setor Marista (o Fúria). Era ruim pacas, mas muito esforçado e ninguém me acompanhava na correria, a não ser o amigo e vizinho Ricardo Dias Baptista (o Metralha), só que, além de correr, jogava bem, mas era muito mascarado.

Naquela década de ouro do basquete goiano, até os famosos jogadores americanos do Harlem Globetrotters, que misturavam entretenimento e habilidade performáticas (tinha até desenho animado), estiveram em Goiânia. A cidade respirava o esporte, além do futebol, que se rivalizavam em ótimos times do Vila Nova, do Goiás, do Atlético Goianiense e do Galo Carijó, o Goiânia Esporte Clube.

Infelizmente, hoje não há mais clubes ou nas quadras de cimento garotos batendo uma bola. O esporte foi olvidado por aqui, tal como se apaga facilmente uma página escrita a lápis.

Quem viveu sabe da emoção e da fantasia (ainda que real) que vivíamos.

Goiânia foi, por uma época dourada, a capital brasileira do basquete.

Oxalá que o poder público, a iniciativa privada e os clubes façam renascer essa chama na garotada dos dias de hoje, magia atualmente restrita somente aos mais afortunados, que possuem tv a cabo e assistem a NBA americana.

Uma excelente segundona e uma semana abençoada a todos amigos e amigas.

Chico Kleber é procurador do Estado.