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“Vau do mundo é a alegria!” (página 221); “Vau do mundo é a coragem” (página 221) e “Viver é muito perigoso” (página 42) — “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa

Desde que o mundo é mundo os seres humanos buscam aventuras, escapar, por minutos ou horas, da vida comum, por vezes insossa. Lugares que oferecem riscos são procurados e sempre serão. Então, as recomendações sensatas servem apenas para os indivíduos que se conformam com a vidinha de todos os dias. Os outros irão para o Everest, para o Mont Blanc, para o K2, para o Kilimanjaro e, sim, para a trilha do Monte Rinjani.

Por que isto ocorre? Porque há prazer na busca do risco, de superar obstáculos. O ser humano é, no geral, assim. Então, os bons conselhos serão ouvidos e não serão seguidos.

Quando ocorre um acidente, a prioridade — absoluta — é socorrer e salvar a vítima. Mas deve-se negar a responsabilidade individual? Não.

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João Bellotto e Juliana Marins: apesar de declaração infeliz, que revela falta de empatia, o cineasta e ator não é um monstro | Foto: Reprodução

Juliana Marins foi à Indonésia em busca não da morte, e sim da vida. A trilha do Monte Rinjani é tida como perigosa e, por isso mesmo, é um desafio para os praticantes de caminhadas e esportes.

Aos 24 anos, a publicitária Juliana Marins era inteligente, bonita, tinha uma alegria (e energia) forte no olhar e, como tantos jovens, buscava o que considerava o melhor da vida. Era, certamente, uma desbravadora, daí a viagem de risco para a Indonésia. Ou seja, a vida não a acomodava. O risco era um estímulo para seguir adiante.

Nesta semana, ao falar do acidente no qual morreu Juliana Marins — e tudo indica que houve negligência por parte de autoridades e não autoridades —, após cair na cratera de um vulcão, o ator e cineasta João Bellotto — filho da atriz Malu Mader e do cantor e escritor Tony Bellotto — fez uma declaração que mostra falta de empatia com a dor alheia.

A fala de João Bellotto: “Buscam tanto a morte trágica, que uma hora ela vem. Eu não tenho pena nenhuma”. A falta de empatia é total.

Juliana Marins foto Reprodução
Juliana Marins: sorrisão que mostra alegria e energia | Foto: Reprodução

A morte é uma possibilidade, mas as pessoas buscam aventura e prazer (não a “morte trágica). Juliana Marins não queria morrer. Queria viver. Para seguir em frente em busca de novos desafios.

Ante a manifestação de internautas, João Bellotto apagou seu comentário e acrescentou uma nova postagem: “Tem que proibir esses passeios, interditar. Por favor, não façam mais isso, falo pela segurança de quem vai numa coisa dessas. É muito perigoso, gente”.

Mas afinal, quem, gostando de superar obstáculos, não aprecia certos perigos? Criada a Lei João Bellotto, nenhuma pessoa poderá escalar montanhas “perigosas”, viajar pelos mares etc. Todos terão de se comportar como “anjos celestiais” e sair de casa só para cultos e missas.

Mas João Bellotto é um “monstro”? Não é. Seu objetivo foi mais o de recomendar cautela e alertar a respeito de se buscar mais segurança. Mas a falta de empatia é evidente.