Natal: Jesus nasceu em 25 de dezembro? Historiadores explicam

25 dezembro 2023 às 17h54

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Apesar das muitas teorias, a resposta para a pergunta do título desta matéria é, muito provavelmente, não. Segundo historiadores, é impossível precisar a data correta em que Jesus nasceu. Sua história vem de segunda, terceira ou quinta mão, narrada por cristãos de primeira geração interessados, segundo historiadores, na morte e ressurreição de Jesus, não tanto em seu nascimento.
A única fonte existente para reconstruir sua vida são os evangelhos, escritos décadas depois de sua morte por pessoas que nunca o conheceram em vida e que eram propagandistas da fé em Jesus como messias. Os textos, no entanto, fornecem pistas para situar Jesus, sobre cuja existência como personagem histórico há amplo consenso entre os pesquisadores, em um momento específico da história.
Em uma entrevista concedida à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, o historiador espanhol Javier Alonso explica que os Evangelhos de Mateus e Lucas, escritos aproximadamente por volta dos anos 80-90 d.C., são as principais fontes.
Enquanto os textos mais antigos do Novo Testamento, como o Evangelho de Marcos e as sete cartas do Apóstolo Paulo de Tarso consideradas autênticas, não fazem menção de sua juventude, os Evangelhos de Mateus e Lucas incluem o que é conhecido como a “relatos da infância” de Jesus.
Alonso, que também é filólogo bíblico e semítico, diz que, “o problema é que, do ponto de vista cronológico, eles são incompatíveis.” Marcos afirma que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, o Grande, pouco antes de sua morte.
Para o historiador, há uma incoerência, já que Herodes morreu em 4 a.C, e conforme o livro de Mateus, Jesus nasceu em 4,5,6 ou 7 a.C. ou seja, ele não poderia ter nascido antes dele mesmo.
Lucas, porém, não fala de Herodes, mas relaciona o nascimento de Jesus ao censo de Quirino. Segundo seu relato, Maria e José, os pais de Jesus, tiveram que viajar da Galileia a Belém para poderem se registrar no censo.
O evangelista assegura que se trata do relato feito por Públio Sulpício Quirino, governador romano da Síria, que naquela época incluía a Judéia, e que o casal teve que viajar para lá, apesar do avançado estado de gravidez de Maria, porque era o lugar de nascimento de José. O historiador Flavio Josefo afirma que o censo realmente existiu, o que possibilita atribuir uma data mais próxima, possivelmente o ano 6 d.C. “Isto é, há uma diferença de pelo menos dez anos entre Mateo e Lucas”, argumenta Alonso.
Já Antonio Piñero, professor emérito de Filologia Grega da Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, cujo estudo se concentrou na língua e na literatura do cristianismo primitivo, esclareceu à BBC News Mundo que a tudo isso devemos acrescentar mais uma circunstância: a possibilidade de que esses capítulos, Mateus 1 e 2, e Lucas 1 e 2, tenham sido acrescentados aos respectivos evangelhos uma vez que já estavam circulando.
“Sabemos que foram adicionados porque os personagens do evangelho posterior, de Mateus 3 e Lucas 3, não fazem ideia do que aconteceu nos capítulos anteriores, e até há dados contraditórios”, argumenta Piñero, que garante que os historiadores situam a redação desses relatos no início do século 2.
Portanto, é possível que, quando o nascimento e a infância de Jesus foram escritos, mais de 60 anos tenham se passado desde sua morte.
Até então, aponta Piñero, estima-se que havia cerca de 3 mil cristãos no mundo, espalhados, aliás, em diferentes comunidades.
Então, qual relato está mais próximo da realidade, Mateus ou Lucas?
Para tentar elucidar esse caso, entra na história aquele que pode ser o personagem principal, Pôncio Pilatos. Sabe-se que Jesus morreu durante o seu governo, ocorrido de 26 a 36 d.C., e que começou a pregar no 15º ano do imperador Tibério, explica Alonso. “Se prestarmos atenção em Mateus, e Jesus nascer no ano 4 a.C., faz sentido. Ele morreria no ano 30 e teria, talvez, 34 anos. No entanto, se ouvirmos Lucas, a conta não fecha.”
Para Javier Alonso, por data, o que faz mais sentido é o que está escrito em Mateus, que Jesus nasceu em 4 a.c., nos últimos anos de Herodes, o Grande. “Por outro lado, o censo de Quirino não faz sentido, e entende-se que Lucas o usou como desculpa para deslocar algumas pessoas que são de Nazaré, no norte de Israel, para Belém, que é onde o messias tem que nascer, mas nada mais. É um artifício literário”, diz Javier.
Piñero concorda que se trata de um recurso profético: “Uma vez que se acredita que Jesus é o messias, concorda-se com a profecia de Miquéias, capítulo 5:1, a de que o messias virá de Belém, cidade onde nasceu Davi”.
A profecia, que estava no Antigo Testamento, é então cumprida se Jesus nascer em Belém.
De acordo com Piñero, não existem outras fontes com dados que possam situar quando Jesus nasceu. Flavio Josefo, por exemplo, o historiador judeu-romano do século 1, “menciona Jesus em sua ‘História dos Judeus’, que escreveu por volta do ano 95, mas o faz de maneira geral, não menciona seu nascimento.
“Você poderia saber o dia em que o imperador Augusto nasceu, mas não o de um pregador galileu, ninguém saberia. E, na realidade, as fontes que temos não foram escritas até muito mais tarde”, acrescenta Alonso.
E o 25 de dezembro?
O 25 de dezembro não passa de uma invenção Cristã, afirma Piñero. Nessa data o império celebrava o festival do “sol invicto”, o dia em que Zeus, o sol, derrotou a escuridão. Nem mais nem menos que o solstício de inverno, momento em que os dias começam a ficar mais longos.
O solstício é no dia 21, “mas os antigos o celebravam no dia 25 porque era a data em que já se notava que o “sol invencível”, ou seja, Zeus, estava vencendo as trevas. E quem era o sol invencível? Bem, Jesus. É por isso que essa data é cristianizada e está determinado que o nascimento de Jesus foi em 25 de dezembro”, explica Piñero.
Nesse mês também os romanos celebravam a Saturnália, festa dedicada ao deus Saturno em que se penduravam guirlandas, se distribuíam presentes e até havia árvores como a nossa no Natal. “Assim, copiam-se datas, substituem-se datas e muitas vezes costumes”, acrescenta Alonso. Então, o nascimento de Jesus começa a ser celebrado a partir do século 4.
Para Piñero, como Lucas e Mateus parecem falar de duas pessoas diferentes, presumivelmente poderíamos considerar no que coincide como um suposto fato histórico. Resumindo, basicamente em que seus pais se chamavam Maria e José, que era uma família muito religiosa, e que Jesus era galileu. Entretanto, Alonso discorda: “Parecem dois textos quase mitológico.
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