por Abilio Wolney Aires Neto*

As pesquisas sobre os fundamentos históricos de Anápolis remontam ao século XIX. A mais antiga de que se tem registro é do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire quando fez o trajeto de Meia Ponte (Pirenópolis) para Bonfim (Silvânia). Era o ano de 1819 e, em seu diário de viagem, ele escreveu:

“A três léguas de Forquilha, apeei-me na Fazenda das Antas, situada acima do rio do mesmo nome, ainda um dos afluentes do Rio Corumbá. Essa fazenda era um engenho de açúcar que me pareceu em péssimo estado, mas da qual dependia um rancho muito limpo e bastante grande, no qual nos alojamos. Essa era a Fazenda das Antas.”

Em 1824, o marechal português Raimundo José da Cunha Matos deixou registrado: “Rio das Antas nasce na serra ao sul do arraial de Meia Ponte e banha a fazenda de seu nome; tem ponte e mete-se no Rio Corumbá com o curso de mais de oito léguas: consta de muitos braços.

De outro viajante francês, Francis Castelnau, quando excursionava de Bonfim para Meia Ponte, em março de 1844, temos a seguinte descrição: ‘Saindo da fazenda, atravessa-se o bonito ribeirão chamado das Antas, nome também da localidade. Lança-se este ribeirão no Rio Corumbá’.

O primeiro documento oficial sobre Anápolis foi firmado em 25 de abril de 1870: alguns moradores locais, entre eles Camilo Mendes de Morais, Pedro Roiz, José Inácio de Souza e Manoel Rodrigues dos Santos cederam parte de suas terras para a formação do que passaria a ser o Patrimônio de Nossa Senhora de Santana, na propriedade denominada Sítio do Monjolo.

Foi nesse lugar que, no ano seguinte, Gomes de Souza Ramos construiu a Capela de Santana. Conta a tradição religiosa que a mãe de Gomes de Souza Ramos, em 1859, passava pelo lugar e perdeu uma de suas alimárias.

Ao ser encontrado, o esforço dos tropeiros não conseguiu que o animal retomasse a caminhada. Era justamente a montaria que conduzia a imagem de Nossa Senhora de Santana. A fazendeira prometeu que doaria a imagem à primeira capela que ali viesse a ser construída, o que foi feito onze anos depois, pelo seu filho.

Gomes Souza Ramos | Foto: Arquivo Pessoal

O pernambucano Oscar Leal anotaria em 1887:

Antas!… Sepultada no meio do deserto, longe das grandes estradas que ligam a capital goiana às principais praças do sul do Estado a vila ou povoação das Antas, surge à vista do forasteiro, depois que se desce à chapada, em extenso vale, cercado de um mutismo tão belo e sedutor que seria o bastante para ali fundarem um estado os poetas da antiga Babilônia. Na vila das Antas há meia dúzia de pessoas com as quais se pode travar conversação e uma destas é o Sr. José Batista… Consta de duas ruas paralelas que atravessam o largo da matriz, a qual fica situada bem no centro da povoação…

Sua população, segundo os meus cálculos na falta de estatística, orça por uns 800 habitantes… Tem umas seis lojas de fazendas mal sortidas e algumas tabernas que vendem fumo, cachaça e mantimentos. O clima é saudável e as águas magníficas. No município há excelentes terras, que produzem o que se planta e onde existem boas plantações.

Nesse período de transição entre a Freguesia e a Vila, ainda na época do Império, o mesmo Oscar Leal escreve no início de junho de 1889, quando já se tinha criado a Vila de Santana das Antas (1887), porém, não instalada (1892), o seguinte:

[…] A vila das Antas que passou a denominar-se Campos Ricos (!) pela lei provincial nº 675 de 19 de julho de 1884, consta de duas ruas paralelas que atravessam o lago da matriz na parte alta e na baixa, o qual fica situado bem ao centro da povoação. […] Sua população, segundo os meus cálculos na falta de estatística, orça por uns oitocentos a mil habitantes. Tem umas seis lojas de fazendas mal sortidas encaminhadas, ou com pequenos sortimentos. O clima é saudável e as águas magníficas. No município há excelentes terras que produzem o que se planta e onde existem bem boas plantações. [3]

Com a construção da capela, o lugarejo floresceu rapidamente, sendo, em 6 de agosto de 1873, elevado a Freguesia, pela lei 514, tendo o seu território se constituído de patês dos municípios de Pirenópolis (Meia Ponte), mudou-se para Antas, o professor José da Silva Batista que exerceu a liderança de um movimento para a elevação do lugarejo, que contava então com cerca de 3.000 habitantes, à categoria de vila o que se concretizou a 15 de dezembro de 1887, pela Resolução Provincial 811, com a instalação oficial ocorrendo a 10 de março de 1892.

Em 1892, surge o Relatório da Comissão Cruls, no deslocamento de Bonfim para Pirenópolis: “A 30 de julho, no Engenho de Antas, descobrimos no horizonte, o cume de uma cadeia de montanhas, ao depois, soubemos ser o Pireneus. Ficamos então distantes 60 quilômetros (de Pirenópolis)”.

Em 1893, narra uma Carta de Leopoldo de Bulhões a Capistrano de Abreu: “Aqui cheguei bem, tendo percorrido todo o sul do Estado que me impressionou grandemente. Ricos municípios, populosos e de largo futuro. As Antas serão o Ribeirão Preto de Goiás em breves dias […]”.

Em 1910, o professor Joaquim Ferreira dos Santos Azevedo anota: “O município (Anápolis) produz café excelente, fumo e gêneros do país. Situado em grande parte na feracíssima mata denominada Mato Grosso, encerra elementos para num futuro não remoto, ocupar lugar de destaque entre os seus irmãos do estado de Goiás”.

A Revista Imagem Atual, igualmente trazia verdadeira pesquisa sobre as origens da Vila de Santana das Antas:

A movimentação de tropeiros que demandavam de inúmeras capitanias em direção às lavras de ouro de Vila Boa, Corumbá de Goiás, Meia Ponte, Jaraguá, Bonfim e Santa Cruz foi a responsável pelos princípios da povoação de Anápolis, nos idos do século XVIII. Os cursos d’água como o João Cezário, o Góis e o Antas tinham dupla importância no translado desses viajantes: eram sítios de descanso, e seus cursos serviam como referência e orientação. Às margens do Antas, sobretudo, muito desses viajores decidiram estabelecer moradia, explorar a terra.

O escritor e prof. Juscelino Polonial [5] observa que, desde o início do século XIX, a região, onde hoje está o município de Anápolis, já era de fato povoada por pequenos números de fazendeiros e que recebiam, para pousada: viajantes, comerciantes e religiosos.

Diz mais que, sobre essas atividades iniciais, assim se expressou o mesmo Augusto de Saint-Hilaire [6], por volta de 1819, quando percorria o interior da província de Goiás:

[…] parei na Fazenda das Antas, situada acima do rio do mesmo nome e um dos afluentes do Corumbá. A fazenda era um engenho–de-açúcar que me pareceu em péssimo estado de conservação, mas o rancho que fazia parte dela era espaçoso e limpo, e foi aí que nos instalamos.

[…] esse rancho era cercado por grossos paus da altura de um homem, que formavam a paliçada e protegiam os viajantes contra a indesejável visita dos cães e dos porcos.

Foi nesse galpão que encontrei os mercadores de Araxá… Eles percorriam as fazendas levando cobertores, chumbo para caça e outros artigos, que trocavam por bois. O gado assim adquirido era posto a engordar nas excelentes pastagens de sua terra e depois vendidos aos mercadores da Comarca de S. João del Rei, os quais, como já foi explicado em outro relato, vão todos os anos comprar bois no Distrito de Araxá.

O proprietário da fazenda das Antas falou-me demoradamente sobre o missionário capuchinho que era então motivo de todas as conversas. Alguns sacerdotes protestavam contra a pressa exagerada com que o povo se dispôs a seguir o Padre Joseph, a se confessar com ele, mas seria necessário que tivessem também a mesma conduta. A comparação entre eles e o missionário tinha feito, desse digno sacerdote, um profeta, um santo, capaz de fazer milagres. Afirmava-se ter ele predito que ia chover em agosto, o mês que estávamos, e me foi impossível convencer o meu hospedeiro que eu conhecia suficientemente o missionário, com quem passara alguns dias, para ter certeza de que não poderia ter dito semelhante coisa.

E conclui Juscelino Polonial:

Do início desses relatos, em 1819 até 1870, quando fazendeiros das Antas doaram uma gleba de terras para Santana com objetivo de construir uma capela em sua homenagem, para que os moradores da região fizessem as suas orações, decorreram cinquenta e um anos, ou seja, meio século com movimentação desses sujeitos históricos e com suas atividades econômicas e religiosas. No entanto, é um período pouco conhecido pelos pesquisadores e pela população local, tanto pela falta de documentação necessária para pesquisa, quanto pela ausência de obras escritas que pudessem minimizar esse problema.

O que podemos deduzir desses dados é que o povoado não teve início com a capela, nem com a homenagem a Santana, embora esses eventos façam parte da formação da história de Anápolis. Fazendeiros e comerciantes começaram as suas atividades econômicas na região, bem como a prática da sua religiosidade, isso antes da construção da capela. Portanto, não foi a Santa que trouxe o povo, mas o contrário é verdadeiro, o que não tira o mérito da aglutinação dessas pessoas com as festas em devoção a Santana. Tanto é verdade, que os fazendeiros da região das Antas desde 1833, festejavam o dia consagrado a Nossa Senhora Santana, 26 de julho, em casa de Manoel Rodrigues da Silva (FRANÇA 1974, p. 637-638).

No entanto, foi só em 1871 que teve início a construção da capela em homenagem a Santana, embora já existisse o povoado com pelo menos sete casas, além de inúmeros habitantes nas fazendas da região, vendo que esse contingente populacional já fazia orações em homenagem a Santana, cinco fazendeiros da região fizeram a seguinte doação:

Dizemos nós abaixo assinados que entre os bens que possuímos livres i dizimbargados como bem uma parte de terras que temos na beira do rio das Antas que divide pelo veio da água acima com os Nunes, po.estra, digo para baixo pela estrada para o campo com o catingueiro. Damos de nossa livre vontade para Nossa Senhora Santa’Ana e havermos dado passar este título que ficara pertencendo de hoje em diante a essa Santa e por havermos dado mandamos esta. Sitio do Monjolo, 25 de abril de 1870. (aa) A rogo de Joaquim Rodrigues dos Santos – Elias Gomes da paixão. A rogo de Inácio José de Suosa – João Gomes de Moares. A rogo de Manoesl Roriz dos Santos – Damião Alves Peixoto. Camilo Mendes de Moraes. A rogo de Pedro Roriz dos Santos – Joaquim Inácio de Godoy (BORGES, 1975, p. 25). [7]

A localidade em que está hoje Anápolis, teve os seguintes nomes, até 1870: Cabeceira do Rio das Antas, Sítio das Antas, Bairro das Antas, Góis, Bairro dos Rodrigues e Antas.

Em 1871, chamou-se Capela de Santana das Antas; em 1873, Freguesia de Santana das Antas; em 1884, Freguesia de Santana dos Campos Ricos, ainda Vila e pertencente ao município de Pirenópolis, sendo uma alusão ao solo da região, favorável para as atividades agrícolas, que seriam importantes para a economia anapolina no século seguinte.

O largo de Santana em 1888, com o rego d’água.

O Largo de Santana em 1888 | Foto: Acervo Pessoal

Em 1886, por força da lei estadual nº 778 de 13 de novembro do mesmo ano, foi restabelecido o nome Freguesia de Santana das Antas, o qual foi preservado até a elevação da Freguesia à condição de Vila, o que se deu em 1887, quando passou a se chamar Vila de Santana das Antas, sendo a grafia do nome da padroeira variável: Sant’Ana, Santana ou Santa Ana.

Finalmente, a 31 de julho de 1907, pela lei 320, a Vila de Antas foi elevada à categoria de cidade, com a denominação de Anápolis”, cujo nome foi sugerido pelo deputado Abilio Wolney. Após a 1ª legislatura em Goiás e candidato a uma cadeira na Câmara Federal em 1900, de passagem pelo vilarejo e chegando a Pirenópolis, município ao qual pertencia o povoado de Antas, sugeriu a mudança do nome local. O historiador Zoroastro Artiaga, relatou a respeito, verbum ad verbum:

Em 1904, num artigo publicado no jornal LAVOURA & COMÉRCIO, de Uberaba, Minas Gerais, o jornalista Moisés Augusto de Santana, usou pela primeira vez, carinhosamente, a palavra Cidade de Ana – ANÁPOLIS – nome que lhe foi sugerido e a outros ANTENSES, inclusive no Plenário da Câmara na cidade de Goyaz, pelo então Deputado Estadual Abilio Wolney, quando de sua passagem por Santana das Antas, na campanha para Deputado Federal, em 1900. O nome agradou de tal forma que a Lei nº 320, de 31 de julho de 1907, assinada pelo Presidente do Estado de Goiás, Miguel da Rocha Lima, rezou em seu único artigo: “A Vila de Santana de Antas fica elevada à categoria de cidade, com a denominação de Anápolis, revogadas as disposições em contrário” (História de Goyaz, Goiânia, 1945).

A ressalva do texto supra, quando diz que o nome ANÁPOLIS foi sugerido “inclusive no Plenário da Câmara na cidade de Goyaz, pelo então Deputado Estadual Abilio Wolney”, diz respeito ao seu primeiro mandato legislativo, iniciado em 1894. [8]

Haydée Jayme, no livro Anápolis, Sua Vida, Seu Povo transcreve o mesmo texto citado quando relata, verbum ad verbum que “em 1904, em artigo publicado no LAVOURA & COMÉRCIO, de Uberaba, Moisés Augusto de Santana chamara a vila, carinhosamente, de Anápolis, cidade de Ana”.

Deveras, a escritora menciona exatamente a mesma matéria jornalística e a transcreve em pelo menos três linhas, deixando o restante do texto jornalístico, que Zoroastro Artiaga já havia trazido integralmente à colação desde o seu livro História de Goyaz de 1945.

Humberto Crispim Borges, no livro História de Anápolis, igualmente transcreve o mesmo artigo do jornal LAVOURA & COMÉRCIO:

ANÁPOLIS – cidade de Ana –, é uma homenagem à padroeira do município: Santa Ana – Sant’Ana – Santana. Surgiu o topônimo, anos antes da elevação da vila à categoria de cidade, da pena de Moisés Augusto de Santana, então residente na localidade: “[…] Santana de Antas, a bela e encantadora Anápolis, cujo nome é sempre ouvido com simpatia por quantos se interessam pelos negócios de além Paranaíba […]” (LAVOURA & COMÉRCIO, 23 nov. 1904).

De fato, como visto acima, foi a pena fulgurante do jornalista Moisés Augusto de Santana que escreveu na referida edição de 23.11.1904, ipsis verbis:

[…] Cidade de Ana – ANÁPOLIS – nome que lhe foi sugerido e a outros ANTENSES, inclusive no Plenário da Câmara na cidade de Goyaz, pelo então Deputado Estadual Abilio Wolney, quando de sua passagem por Santana das Antas, na campanha para Deputado Federal, em 1900 […].

Nos Dicionários Biobibliográficos de Goiás e do Tocantins, do escritor e acadêmico Mário Ribeiro Martins, consta a mesma referência e transcrição, e ainda hoje circula em Minas Gerais o jornal LAVOURA & COMÉRCIO. [9]

Braz de Pina, em seu livro Goiás, História da Imprensa, Departamento Estadual de Cultura, Goiânia, também fez essa observação.

Ainda sobre Anápolis, historiadores goianos contam que, no início do século XIX, viajantes percorriam o vale do Araguaia e o roteiro de Vianópolis/Corumbá de Goiás, entre eles, a cabeceira do Ribeirão das Antas, conhecido também por Campos Ricos, graças excelência de seu solo e à abundância e variedade de caças existentes no local. Enfatiza-se a contribuição do Sr. Manoel Rodrigues dos Santos, que fazia realizar em sua fazenda, novenas e orações, aglomerando já em 1859 um total de 15 casas e uma escola. Conta a tradição que, por esta época D. Ana das Dores, quando trafegava pela região, viajando de Jaraguá para Bonfim, viu se desgarrar da Comitiva, no Sítio das Antas, um de seus animais, o que conduzia, entre outros pertences, uma imagem de Nossa Senhora de Santana.

Efetuadas as buscas e localizada a alimária, deitada com a carga, não conseguiram os camaradas levantar a canastra que transportava a imagem da santa. Interpretando assim a ocorrência como um desejo de Santana de ali permanecer, prometeu Dona Ana então, ofertar a primeira igreja que se erigisse no local. Aos 17 de maio do mesmo ano, foi redigida a licença para a construção de uma capela com a invocação de Santana. Construiu-se, então, a capela sob a orientação do Sr. Gomes de Souza Ramos, filho de Dona Ana das Dores e nela foi entronizada a imagem da Santa.

Uma homenagem a Santa Ana, mãe de Nossa Senhora, avó de Nosso Senhor Jesus Cristo e padroeira do lugar, de quem era devota Ana das Dores, mulher de Gomes de Souza Ramos, que estava na origem histórica do lugar – foi assim que surgiu a ideia de se renomear a vetusta Santana das Antas para Cidade de Ana – Anápolis que, ultrapassando os 100 anos de emancipação política, é o segundo maior potencial econômico e tributário do Estado de Goiás e um berço de religiosidade cristã de diversas denominações. [10]

Em 1907, com a intervenção do então deputado Zeca Batista [11], a Vila de Santana das Antas foi elevada à categoria de cidade e passou a se chamar Anápolis, o nome sugerido por Abilio Wolney, conforme mencionado no jornal LAVOURA & COMÉRCIO de 1904.

Anna de Souza Ramos, filha mais nova de Gomes de Souza Ramos, presente na festa do cinquentenário de Anápolis. Aqui ladeada pelo então governador José Ludovico de Almeida e pelo então prefeito Carlos de Pina, em 31.07.57

Anna de Souza Ramos, filha mais nova de Gomes Ramos, e mfesta do conquentenário de Anápolis. À esquerda, o governador José Ludovico de Almeirda e, à direita, o prefeito Carlos de Pina, em 1957 | Foto: Acervo Pessoal

Inaugura-se nova era na economia do novel município, uma agricultura comercial, bem como o embrião do comércio urbano. Em 1908, foi instalada a primeira agência postal teleférica.

Em 1920, foi inaugurada a rodovia Anápolis-Roncador.

No ano de 1921, Francisco Silvério de Faria construiu a primeira casa de tijolos em Anápolis. Para isso, mandou vir de Ribeirão Preto (SP), dois construtores – Jacob Machiavelli e Antônio Vento. Para fabricar os tijolos que iria utilizar na obra, montou a primeira olaria da cidade. A casa por ele construída ficava na atual Praça das Mães e era dotada de água encanada, vasos sanitários e pia na cozinha, melhoramentos e confortos que a comunidade daqui não conhecia. O povo comentava que, à falta de esteios, “a casa iria desabar”.

Em 1924, no governo de Graciano Antônio da Silva, o mesmo Francisco Silvério instalou a energia elétrica em Anápolis, cuja inauguração oficial se deu no dia 9 de janeiro daquele ano. Para tal empreendimento, associou-se a Ralf Colemann.

Em 1926, deu-se a inauguração do primeiro grupo escolar, onde hoje está o Colégio Estadual Antesina Santana.

Em 1927, foi fundado o Hospital Evangélico Goiano.

Verdade é que o intendente Graciano Antônio da Silva (1923-27) fez o trânsito do aspecto da vila de Antas para a cidade, pavimentando as ruas irregulares, fazendo calçadas junto às residências, em cujo período construiu o Cemitério e trouxe o mencionado fornecimento de luz elétrica.

O médico James Fanstone construiu, em 1927, o HEG – Hospital Evangélico Goiano e foi ele o precursor das cirurgias na cidade, mas o primeiro médico a estabelecer-se em Anápolis foi Genserico Gonzaga Jayme.

Já no ano de 1932, circulavam pela cidade vários automóveis. As primeiras pessoas em Anápolis a adquirirem as “machinas” ou “autos”, como eram denominados na época, foram: James Fanstone, Genserico Gonzaga Jayme, José Lourenço Dias, Odorico Silva Leão, Alberico Borges de Carvalho, Adalberto Pereira da Silva e Zequinha da Rocha.

A primeira agência de revenda de automóveis a se instalar na cidade foi de iniciativa de Antônio Graciano da Silva. A primeira empresa de transportes surgiu em janeiro de 1940 – a “Irmãos Pinto”, fazendo percurso até Goiânia e vice-versa, cuja viagem nunca durava menos de três horas.

O Clube Recreativo Anapolino – CRA surgiu de iniciativa conjunta. O engenheiro agrícola Luiz Caiado de Godoy teve a ideia e passou-a a Orlando Motta e Manuel Gonçalves da Cruz. A ata da fundação é de 29 de abril de 1934, com a denominação inicial de Club Lítero Recrativo Anapolino.

Devido à presença da Base Aérea no seu território, Anápolis foi declarada de interesse da segurança nacional através do decreto-lei nº 1.284, 37 de 28 de agosto de 1973. As eleições majoritárias foram suspensas a partir de então, sendo os prefeitos nomeados de acordo com o artigo 15, § 1º, letra “B” e Capítulo VII, Seção II, artigo 81, item VII, da Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de janeiro de 1967. A autonomia política foi restaurada com a Lei de nº 7.303, de 1º de abril de 1985, assinada pelo presidente José Sarney. [12]

Anápolis situa-se na parte sul do Estado de Goiás, na denominada Zona fisiográfica do Mato Grosso goiano, onde se inicia o Planalto Central.

A área do Município é de 1.263 quilômetros quadrados. Limita-se ao norte, com o município de Pirenópolis; a leste, com os municípios de Gameleira de Goiás e Abadiânia; ao sudoeste, com o município de Silvânia; ao sul, com os municípios de Leopoldo de Bulhões, Terezópolis de Goiás e Goianápolis; e a oeste com os municípios de Nerópolis, Campo Limpo de Goiás e Ouro Verde de Goiás.

Pelo seu território, passam os ribeirões João Leite, Ribeirão das Antas, Piancó e Padre Sousa, dentre outros.

No Estado, é um dos municípios de maior altitude, somente superado pelos da região do Distrito Federal. A cota média do território de Anápolis é de 1.000 metros, sendo a sede do município situada a exatamente 1.017 metros de altitude. Está localizada a 16º19’21” de latitude e 48º58’03” de longitude.

O clima do município relaciona-se com a sua situação nos primeiros contrafortes do Planalto Central Goiano, classificado como clima tropical de altitude. A sua temperatura, conforme dados do posto do Ministério da Agricultura, varia de 13 a 26 graus centígrados. O dado oficial do IBGE condiciona a média anual de 22 graus centígrados. As temperaturas mais baixas ocorrem em junho/julho, em torno de 10 graus. Os meses mais quentes correspondem a setembro/novembro, com média de 29 a 32 graus centígrados.

A precipitação pluviométrica atinge, em média, 1.611,80 milímetros anuais, sendo a máxima concentração de chuvas, ocorrente entre novembro a março.

As riquezas naturais do Município de Anápolis não evidenciam grande potencialidade. A indústria extrativa encontra na natureza pequenos recursos como madeira para construção, areia e argila. As quedas de água que podem ser enumeradas são apenas duas: a do Ribeirão Padre Souza, com 32 metros de altura, e a do Antas. A primeira tem um potencial de 25 HP, e a segunda, 100 HP.

Os cursos fluviais são em número de seis, todos pertinentes às duas bacias hidrográficas de maior porte no Brasil – a Platina e a Amazônica. Delas, a mais importante por área e desenvolvimento de seu curso é a do João Leite, com direção norte-sul, irrigando uma zona que se destaca pela sua prosperidade econômica e por sua fertilidade na produção agrícola. Os ribeirões Gonçalves e João Leite, são tributários do rio Meia ponte. O Anta e o Piancó deságuam no Piracanjuba e pertencem à bacia do Paraná.

O município tem reduzida quantidade de florestas: cerca de 80 mil hectares. A flora está em devastação e somente a partir da segunda metade da década de 80 é que se desenhou uma política de preservação ambiental.

A preservação do meio ambiente e o ecossistema da fauna e da flora e do Município é regulamentada por resoluções de órgãos oficiais através de leis e decretos, entre elas a da Constituição Municipal. Na prática essas medidas têm se revelado sem efeito. Há esforços isolados de entidades oficiais do Município, como a Semma – Secretária Municipal do Meio Ambiente, e de entidades privadas, como a OAB, Associação Anapolina de proteção ao Meio Ambiente, Gudma – Grupo de Defesa ao Meio Ambiente e Associação de Proteção do Vale das Antas. O desflorestamento persiste, e o cerrado que predomina na região vem sofrendo perdas consideráveis, devastando-se sobremodo, frutíferas típicas como o caju do campo, a gabiroba, o araçá, a mangaba e outras espécies. Quanto às florestas, o único projeto que se conhece de plantio no Município é mantido pelo frigorífico Armour (antigo Bordon), com eucalipto na densidade de 1.200.000 árvores.

As nascentes e as cabeceiras dos rios não são suficientemente preservadas quanto às suas características de florestas ciliares. Um exemplo é o principal curso d’água – o Antas – hoje com sua vegetação devastada, índice de poluição de 100% e sem uma política recondicionadora. A fauna é reduzidíssima, comprometendo todo o ecossistema. A biota e os córregos que formam o recurso hídrico do município de Anápolis pedem socorro.

O município de Anápolis é um conglomerado urbano composto da sede e de mais cinco distritos administrativos: Interlândia, Souzânia, Rodrigues Nascimento, Goialândia e Joanápolis. Há também os povoados de Igrejinha e de Miranápolis. Dessas aglomerações urbanas, algumas são datadas do século XIX, como os antigos povoados de Bela Vista dos Farias, que recebeu mais tarde a denominação de Aracati (atual Souzânia) e de Campo Alegre que depois se chamou Cerrado, desmembrando-se de Anápolis, tornando-se o atual Município de Nerópolis, os quais foram elevados à categoria de distrito respectivamente em 1903 e 1904. Ao lado de Nerópolis, surgiram outros, que também foram desmembrados de Anápolis: Goianápolis, Brazabrantes, Nova Veneza, Damolândia e Ouro Verde.

Foi realizado plebiscito em Rodrigues Nascimento com o objetivo de consultar a população sobre sua elevação à categoria de Município. Situado a 22 quilômetros de Anápolis e pertencente aos limites do Distrito de Joanápolis, a Vila Brahmápolis pretende se transformar em Distrito administrativo.

Um projeto de lei foi apresentado e aprovado na Câmara Municipal de Anápolis, tendo como autor o vereador José Sarney, mas o Poder Executivo vetou a proposta.

A lei nº 320, que criou o município em 31 de julho de 1907, estabeleceu o seu conteúdo geográfico numa extensão inicial de 2.622km².

Viu-se, todavia, que desde a sua criação até a década de 1990, o município perdeu boa parte do seu território. Basta constatar que Nerópolis foi emancipado em 1948; Nova Veneza, Damolândia, Goianápolis e Brazabrantes, em 1958; Ouro Verde de Goiás, em 1963; e, já em 2001, veio a última fragmentação territorial, com a emancipação de Campo Limpo de Goiás, de modo que hoje Anápolis tem apenas 1.075km², menos da metade da sua extensão original.

No campo político, observa o Prof. Juscelino Polonial que:

Desde 1893, a população da Vila elegia o seu representante, mesmo com todos os vícios do coronelismo típicos da República Velha (1889-1930). Apenas o primeiro administrador foi nomeado, o Sr. José da Silva (Zeca) Batista, que administrou entre 1892 e 1893. Daí, até 1930, foram 11 administradores, passando a fase da Vila, para a Cidade, e, aos poucos, o município foi se desenvolvendo.

No campo político, tivemos a Revolução de 1930 e, por conta desse fato, Anápolis, entre 1930 e 1947, elegeu apenas um prefeito pelo voto direto, o Sr. José Fernandes Valente (1934-1940), embora também viesse a ser nomeado por Vargas com o golpe do Estado Novo.

Outros 11 prefeitos foram nomeados para administrar Anápolis, entre 1930 e 1947, o que nos leva a concluir a pouca participação da população no processo político da cidade. Alguns chegavam a ficar alguns meses, comprometendo todo o planejamento que pudesse ter a prefeitura. Entre os anos de 1947 e 1973, a cidade recuperou a sua autonomia política, e o povo voltou a eleger os seus representantes pelo voto direto e secreto. Nessa fase, os anapolinos elegeram nove prefeitos, inclusive após o golpe militar de 1964. Na verdade, só em 1973 é que a cidade deixaria de eleger o seu chefe do Executivo, quando a cidade foi decretada área de segurança nacional com a construção da Base Aérea. Naquele ano, o prefeito eleito, José Batista Júnior, teve o seu mandato cassado com base no AI-5, e a cidade voltava a ter os interventores.

Essa fase política de Anápolis foi marcada pelo autoritarismo, como de resto acontecia no Brasil. Mais nove prefeitos foram indicados para administrar a cidade entre 1973 e 1985, quando foi restabelecida, novamente, a eleição direta e secreta para o Executivo. Nesse último momento político, entre 1986 e 2006, a cidade já elegeu cinco prefeitos, sendo que, em duas eleições, Adhemar Santillo foi o vitorioso, e tivemos um prefeito cassado no ano de 2003, o empresário Ernani de Paula. [13]

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[1] Importante pesquisa bibliográfica trazida pela edição do jornal O Contexto, por ocasião dos 98 anos de Anápolis, resume outros passos na gênese da cidade.

[2] Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (Orleans, 4 de outubro de 1779 – Orleães, 3 de setembro de 1853) foi um botânico, naturalista e viajante francês. O estudioso pertenceu aos primeiros grupos de cientistas, vindos da Europa, para realizarem suas pesquisas e explorações no Brasil Colônia, durante os anos de 1816 e 1822, período no qual a Corte portuguesa estava instalada no país, na cidade do Rio de Janeiro. O botânico colheu muitas amostras de plantas e espécies animais e escreveu livros.

[3] Oscar Leal (1862-?), carioca que, aos 20 anos de idade, resolveu viajar pelo interior do Brasil. Em 1882, publica os seus relatos, em Lisboa no ano de 1886, com o título Viagens ao Centro do Brasil; depois, em nova viagem, agora em 1889, faz novas revelações do interior do Brasil, inclusive sobre Goias e a região das Antas, tudo relatado no livro Viagem às Terras Goyanas (Brasil Central), publicado em 1892, também na capital portuguesa.

[4] Revista Imagem Atual, 1993, dirigida e editada pelo jornalista Castro Alves Ribeiro, cujos arquivos nos foram cedidos gentilmente.

[5] Juscelino Polonial é escritor e professor da UniEvangelica / mestre em História-UFG. Artigo publicado no livro Anápolis 100 anos, organizado pela Profa. Mirza Seabra.

[6] Auguste de Sanit-Hilaire (1779-1853), naturalista francês que percorreu o interior do Brasil no século XIX, entre os anos de 1816 e 1822, descrevendo o cotidiano da população e as riquezas da fauna e da flora do país.

[7] Idem

[8] O Escritor Mário Ribeiro Martins, então meu colega de Ministério Público em Anápolis, foi o primeiro a trazer ao meu conhecimento a informação de que o nome ANÁPOLIS fora uma sugestão do então deputado Abílio Wolney, repassada a Moisés Santana, conforme os anais do jornal LAVOURA & COMÉRCIO, de Uberaba, Minas Gerais.

[9] Mário Martins foi uma notoriedade no setor das letras. Escreveu dezenas de livros no segmento da biobibliografia e outros mais. A obra Letras Anapolinas traz deliciosa antologia entre poesia e prosa.

[10] O dia 26 de julho, Dia de Sant’Ana, é conhecido também como a data da mudança da Capital da Cidade de Goiás para Goiânia.

[11] Zeca Batista é bisavô de um bom cidadão anapolino: o companheiro de ideal Delnil Tadeu Cabral Batista, escritor e presidente do nosso Núcleo Espírita Casa de Jesus, que funciona há mais de 16 anos no Jardim Esperança em Anápolis e atende semanalmente mais de 150 famílias no setor de assistência social, a parte das tarefas doutrinárias, habitação de famílias carentes, em 10 pequenas casas dentro da Instituição, em regime de comodato. Oficinas de aprendizagem e cursos são realizados, na nave principal.

[12] Jornal O Contexto, edição do Centenário.

[13] Introdução à História de Anápolis, Juscelino Polonial, site da UniEVANGÉLICA.