A dinastia Assad: Hafez al-Assad, o Partido Baath e a Síria na Guerra Fria
11 dezembro 2024 às 16h27
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O regime de Hafez al-Assad na Síria marcou um período de profunda transformação política e estratégica no Oriente Médio. Ao assumir a presidência em 1971, Assad centralizou o poder, alinhou-se à União Soviética e posicionou a Síria como um pilar do pan-arabismo. Durante a Guerra Fria, a Síria tornou-se um campo de disputa ideológica entre as duas superpotências, influenciando conflitos regionais e destacando a importância estratégica do país. Esta análise busca compreender como o regime de Assad moldou o panorama geopolítico e estabeleceu as bases para o autoritarismo no país.
Hafez al-Assad, um militar de origem alauíta, subiu ao poder em meio a um cenário de instabilidade política na Síria. Após uma série de golpes militares, ele consolidou sua liderança como presidente, transformando o partido Baath na base ideológica de seu governo. O partido, com raízes no pan-arabismo, defendia a unidade e o socialismo árabe, mas sua aplicação na Síria refletiu uma abordagem pragmática e autoritária.
Assad garantiu sua posição no poder ao estabelecer um sistema político altamente centralizado, com um aparato de segurança dedicado à repressão de dissidências. Ele implementou reformas econômicas para beneficiar aliados e recompensar a elite militar, ao mesmo tempo em que marginalizava opositores. Sob sua liderança, o partido Baath tornou-se sinônimo do regime, eliminando qualquer separação entre a política e o Estado.
Além disso, Assad explorou sua herança alauíta para consolidar alianças com minorias e fragmentar possíveis opositores entre a maioria sunita, reforçando um regime sectário. Sua liderança transformou a Síria em um estado policial, onde a vigilância e a repressão eram parte da vida cotidiana.
Durante a Guerra Fria, a Síria tornou-se um dos aliados mais próximos da União Soviética no Oriente Médio. Moscou forneceu à Síria armas, assistência econômica e suporte político em troca de acesso estratégico à região. Esse alinhamento fortaleceu a posição de Assad em conflitos regionais, como as guerras árabe-israelenses, e consolidou sua influência no Oriente Médio.
O pan-arabismo de Assad, embora amplamente propagado, era repleto de contradições. Ele enfrentou rivalidades com outros líderes pan-arabistas, como Gamal Abdel Nasser no Egito e Saddam Hussein no Iraque. Essas disputas frequentemente resultavam em uma abordagem isolacionista, com Assad priorizando os interesses da Síria acima da causa árabe mais ampla.
O alinhamento com a União Soviética também trouxe desafios. Embora tenha fortalecido o regime internamente, ele isolou a Síria de aliados árabes mais próximos do Ocidente, como a Arábia Saudita e o Egito. Isso limitou o papel da Síria em coalizões regionais, apesar de sua retórica pan-arabista.
A hostilidade entre Síria e Israel foi uma constante no regime de Assad. Ele participou ativamente da Guerra do Yom Kippur em 1973, buscando recuperar os territórios perdidos na Guerra dos Seis Dias de 1967, incluindo as Colinas de Golã. Embora o conflito tenha terminado sem grandes mudanças territoriais, reforçou a percepção da Síria como um estado beligerante contra Israel.
Além das guerras convencionais, Assad apoiou movimentos armados que lutavam contra Israel, incluindo o Hezbollah no Líbano. Essa estratégia visava manter a pressão sobre Israel enquanto consolidava a influência síria no Líbano, que Assad considerava parte de sua esfera de controle. O apoio a esses grupos também foi uma forma de garantir lealdade entre facções árabes, embora tenha contribuído para a instabilidade regional.
Os Estados Unidos viam o regime de Assad como um obstáculo à estabilidade no Oriente Médio. Durante a Guerra Fria, a política americana focava em conter a influência soviética e proteger aliados estratégicos, como Israel. O alinhamento da Síria com Moscou fez dela uma prioridade na agenda de contenção dos EUA.
Ao mesmo tempo, os EUA buscaram engajar a Síria em negociações de paz, como as discussões de Camp David e os esforços posteriores para resolver o conflito árabe-israelense. No entanto, Assad manteve uma postura intransigente, rejeitando acordos que envolvessem concessões territoriais ou reconhecimento de Israel.
A política americana em relação à Síria também foi influenciada por considerações econômicas e estratégicas, especialmente no que diz respeito ao controle de rotas energéticas e à estabilidade das monarquias do Golfo. A Síria representava uma ameaça potencial a esses interesses, tornando o regime de Assad um foco constante de atenção.
O regime de Hafez al-Assad deixou um legado de autoritarismo e alianças estratégicas que moldaram a política síria e regional por décadas. Sua liderança destacou as complexidades do pan-arabismo, a dependência da União Soviética e a rivalidade com Israel. No contexto da Guerra Fria, a Síria emergiu como um campo de batalha simbólico entre as superpotências, enquanto buscava afirmar sua identidade e influência no Oriente Médio.
Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 102º Batalhão de Operações de Informação como Primeiro Sargento (1SG), liderando grupos de soldados em busca de informações que possam facilitar as estratetgias militares americanas em solo estrangeiro.