Reservas de lítio podem ter ajudado a incentivar nova tentativa de golpe na Bolívia

27 junho 2024 às 15h30

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Uma tentativa de golpe de Estado ocorreu no fim da tarde da última quarta-feira, 26, na Bolívia. O país, que já passa por uma democracia instável, esteve próximo de ter seu presidente destituído quando militares invadiram o palácio presidencial, em La Paz. O motim foi liderado pelo general Juan José Zuñiga, que comandava o Exército até a última segunda-feira, 24.
A instabilidade política no país ocorre por muitos fatores. Entre eles está a influência do ex-presidente Evo Morales e os problemas de governabilidade do atual presidente Luis Arce. Mas, o fator mais importante, é a reserva de lítio que o país possui.
Atualmente, a Bolívia possui a maior reserva de lítio do mundo. O elemento é utilizado para produzir baterias para carros elétricos, e se tornou um material extremamente desejado por grandes potências nos últimos anos.
O país tem uma população de 12 milhões de pessoas e um PIB de US$ 46 bilhões. A exploração do lítio pode estar por trás dos interesses de desestabilização do país. A Bolívia possui capacidade limitada de processamento do metal. Porém, parcerias firmadas com a China, em 2023, podem mudar essa realidade. Os acordos abriram um novo horizonte para a economia boliviana.
Especialista avaliam que o país, que produziu apenas 635,5 toneladas de lítio entre janeiro e novembro de 2022, pode passar a produzir 100 mil toneladas no mesmo período em 2025, acelerando o processo de industrialização e se apropriando de uma fatia da riqueza do mineral.
A instabilidade política, causada pelos militares, podem ter essas raízes por esse grupo defender os interesses econômicos da região de Santa Cruz de la Sierra, que é a mais rica da Bolívia. A região tem interesses distintos do resto do país, defendendo menos impostos para atrair mais investimentos.
Em 2023, a chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson, disse que o triângulo do lítio é tratado como uma questão de “segurança nacional sobre o nosso quintal dos fundos”. Os EUA tentam, desde então, controlar a produção no país para evitar concorrência da China e Rússia na região.
Nos últimos anos, o governo boliviano adotou estratégias para manter o recurso sob produção estatal e fazer parcerias estratégicas com outros países que têm tecnologia para explorar o mineral. A ideia do governo é que, ao longo do tempo, o próprio país tenha capacidade de produzir as ferramentas necessárias para a extração do lítio.
Por conta desse plano, nasceu a parceria com a China para ampliar a capacidade de produção do metal, o que pode ter causado certo desconforto na relação do governo do país e os Estados Unidos. Então sim, é possível acreditar que os EUA tramaram, mais uma vez, contra um governo democraticamente eleito para seu benefício econômico.
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