Uma das características que fazem o discurso bolsonarista ser “comprado” facilmente por quem ter tendência a aderir a ele é o paralelismo que estabelece entre situações. Para quem não quer se aprofundar em nada e tem já seu posicionamento ideológico firmado, é só o que precisam.

O caso do vazamento de imagens do sistema de segurança do Palácio do Planalto é algo bem típico e exemplar. Logo após sua divulgação pela CNN, militantes de extrema direita foram às redes sociais – sempre elas – para pressionar pela prisão do general Marco Edson Gonçalves Dias, que até a quinta-feira, 19, era o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), nos atos golpistas de 8 de janeiro. Não teve jeito: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “inaugurou”, com ele, as defecções de seu primeiro escalão.

Gonçalves Dias – ou G. Dias, como é conhecido – teve de sair por conta de trechos da invasão do Palácio do Planalto vazados do sistema de segurança, em que aparece andando pelos corredores em cenas apáticas para alguém que tinha de deter o comando da repressão naquelas instalações.

Aí vem a analogia simplória e conveniente: ora, se o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) Anderson Torres está preso por conta do 8 de Janeiro, por que o STF não vai prender agora o “general do Lula”?, questionam os bolsonaristas.

É fácil responder – como quase sempre é: Anderson Torres era o principal responsável pelo que ocorreu aos prédios dos três Poderes, como secretário de Segurança Pública nomeado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Não cabe ao GSI o planejamento do esquema de contenção de uma manifestação golpista daquele porte. E, importante, foi na casa de Torres que encontraram uma minuta detalhando um plano de golpe de Estado para Bolsonaro ficar no poder, é bom lembrar.

No caso do general (que precisava mesmo deixar o governo), não há nenhuma cena clara em que apareça em conluio com os vândalos – nem aquela em que encaminha alguns deles para deixar uma dependência mostra um contexto óbvio. De qualquer forma, o fato de ele não ter sido transparente com as informações sobre seu papel naquele dia já significam quebra de confiança.

O general precisa ser investigado, obviamente, mas exigir desde já sua prisão – tendo, por trás disso, a ideia de que ele atuava numa operação de supostos infiltrados a mando do governo federal recém-iniciado – não faz o menor sentido. A não ser nos paralelismos bolsonaristas que um dia já serviram para equivaler (é bom nunca esquecer) vacina a cloroquina.