Em um ranking com 29 concessionárias de grande porte no Brasil, a Equatorial Goiás se destaca como a 3° pior do país. Ela só perde para ela mesma, ficando atrás da Equatorial Maranhão, que ocupou a 2° posição, seguida pela Equatorial do Rio Grande do Sul, que levou a coroação de pior distribuição de energia elétrica do Brasil. Os dados foram divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mas, afinal, os goianos voltaram a sofrer com a Equatorial o que sofriam com a Enel?

Nesta sexta-feira, 25, os goianienses ficaram sem luz em pelo menos 12 bairros da capital. O apagão provocou a inoperância de vários semáforos em importantes avenidas, provocando confusão no trânsito que já é confuso por si só. Dez dias atrás, em 15 de agosto, foi o Brasil inteiro que amanheceu sem energia elétrica. A linha de transmissão de energia no Ceará, que sofreu uma sobrecarga e gerou o apagão, é da Eletrobras, privatizada em 2022.

Mas por que a iniciativa privada não se preocupa com a qualidade do serviço prestado à população? Anterior à Equatorial, a Enel Goiás foi considerada pela Aneel como a empresa do setor com pior desempenho do país por várias vezes consecutivas. O índice de terceirização dos serviços da companhia italiana chegava a mais de 80%. Se a fiscalização estatal é ruim, é pior ainda em uma empresa privada terceirizada pela iniciativa privada, fiscalizada por ela mesma.

No gráfico abaixo, percebe-se os valores gastos com o fornecimento de energia elétrica em Goiás desde 2018, um ano após a privatização da antiga Companhia Energética de Goiás (CELG). Em rosa claro, aparecem os subsídios chamados universais, seguidos pela cor azul, que representa a tarifa social. De laranja, estão os subsídios para a área rural. Em seguida, na tonalidade rosa escuro, são os valores destinados à agricultura e irrigação. Em marrom, aparecem os subsídios de geração distribuída. Um pouco mais abaixo, a cor verde representa a fonte incentivada, seguida pelo azul escuro, que representa os recursos para água\esgoto\saneamento.

Histórico dos subsídios no Setor de Energia Elétrica desde 2018. | Fonte: Aneel

Quem é a Equatorial Goiás?

A Equatorial Energia é a empresa brasileira que comprou a distribuição de energia em Goiás por R$ 1,6 bilhão em setembro de 2022, com a crise da Enel, e começou a operar em janeiro de 2023. A concessionária também atua em outros seis estados: Maranhão, Piauí, Pará, Rio Grande do Sul, Alagoas e Amapá. Além de suas distribuidoras aparecerem no ranking da Aneel como piores do país, a empresa já foi denunciada pelo Ministério Público Federal por crime ambiental e está entre as companhias com maior lucro do país.

A Equatorial foi fundada em 1999 e é o terceiro maior grupo de distribuição de energia do país. Ao todo, atende cerca de 10 milhões de consumidores e também atua no setor de transmissão, energia renovável e saneamento. Segundo levantamento da empresa Economatica, a Equatorial esteve entre as 30 maiores empresas em receita líquida no ano de 2021, com R$ 24,2 bilhões. Em 2020, a receita foi de R$ 17,9 bilhões. A companhia também está entre as 30 com maiores lucros do país, com R$ 3,7 bilhões em 2021 e R$ 3 bilhões em 2020.

Em junho de 2022, o Ministério Público Federal no Pará denunciou a Equatorial por crime ambiental e fraude após a empresa ter construído três redes de distribuição de energia ilegais dentro de uma terra indígena. O órgão pediu que a empresa de distruibuição pagasse R$ 1,6 milhão como reparação. Além disso, a companhia também já foi multada em R$ 800 milhões pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) devido a instalação de redes de energia sem autorização dos órgãos competentes.

O Ministério Público de Goiás também intimou os representantes goianos da empresa em março deste ano para prestarem esclarecimento sobre as constantes interrupções de fornecimento elétrico. Antiga conhecida do MP, a empresa também já foi denunciada e responsabilizada pela morte de pessoas eletrocutadas no país.

Augusto Miranda da Paz Junior preside a Equatorial Energia desde 2015. É também diretor presidente da Equatorial Maranhão desde 2010. Anteriormente, Miranda exerceu diversos cargos nas áreas de gestão da manutenção do sistema elétrico na Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA). Miranda já foi envolvido em 11 processos judiciais nos tribunais de Justiça do Maranhão, do Pará, de Alagoas, do Espírito Santo e da Bahia.

Ranking divulgado pela Aneel sobre prestação de serviços em 2022. | Fonte: Aneel

O fiasco também levanta outro questionamento: a geração mais barata por meio de hidrelétricas têm valido o desgaste social, ambiental e econômico? Até quando o Brasil vai continuar insistindo nos modelos tradicionais e não investindo em fontes alternativas de energia?

Representantes do serviço de geração compartilhada afirmam que o maior obstáculo para o crescimento da energia solar no país são as dificuldades impostas pelas concessionárias. A concessionária tem o interesse de privilegiar determinadas usinas de energia em detrimento das formas de energia produzidas por terceiros.

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