Os paradoxos que o Centraliza terá de encarar

01 maio 2024 às 08h49

COMPARTILHAR
O programa Centraliza, capitaneado pela prefeitura de Goiânia, corre o risco de colocar seu nome no sarcófago das iniciativas de requalificação do Centro da capital que marcam, ao menos, os últimos trinta anos. Mas a tampa do sepulcro ainda está aberta, e há muita luz no fim do túnel. Este não é um artigo pessimista.
É preciso, antes de tudo, vislumbrar qual modelo de urbanidade se pretende naquela região. Busca-se um retrofit social, uma versão repaginada do Centro que os vetustos conheceram, com gente nas calçadas, comércio de rua e vida pulsante, ou apenas um adensamento a qualquer custo?
Nenhum dos dois. Sem saudosismos nem apocalipsismos, o projeto possui propostas que seguem para os dois lados. Isenções de tributos para a requalificação imóveis, preservando suas características originais, andam ao lado de artigos que abrem mão de relatórios de impacto de vizinhança ou de trânsito para novas construções (esta derrubada na CCJ da Câmara, amém).
Iniciativas de fechamento de avenidas aos fins de semana, como já estão ocorrendo, contrapõem-se a imensos prazos de isenção de IPTU para novos estacionamentos; incentivos à cultura popular não ecoam nos bares e espaços culturais sob o constante jugo das forças de segurança; quem frequenta, sabe.
Ou seja: ocupem as ruas, mas só nos finais de semana. Preservem a arquitetura Art Déco, mas construam elefantes de aço e vidro, como o Nexus, Orion e quaisquer outros business centers que queiram nomear. No projeto, há participação de entidades como o CAU e emendas de vereadores que buscam o equilíbrio entre preservação, desenvolvimento e urbanidade, resta ver para onde a banda vai tocar.
A paisagem muda com o tempo. É certo que as casas de muros baixos não devem ressurgir tão cedo, mas também não é motivo para descaracterizar o Centro com tanto empenho, a exemplo do que o BRT fez na avenida Goiás.
O programa Centraliza traz uma série de iniciativas que podem melhorar a região, atrair empresas e públicos diversificados. A estratégia de redução do IPTU e do ISS é válida. Os benefícios a quem possui imóveis tombados devem ser garantidos, as vias devem estar próprias, seguras, limpas, iluminadas e arborizadas, o trânsito deve estar ordenado e fluir.
De toda forma, esta é apenas a primeira etapa. Caso aprovado e sancionado, chegará a hora de ver o resultado na prática. Então, o sucesso do Centraliza dependerá de outras iniciativas que deverão ser desenvolvidas, pois os desafios do Centro de Goiânia não são apenas de ordem econômica ou de infraestrutura urbana; são sociais e culturais, carregam expectativas e preconceitos, e levam tempo para mudar.