Levantamentos científicos iniciais mostram aumento da temperatura no centro do Brasil, onde se encontra o Cerrado. Nas últimas décadas este ecossistema ambiental foi o mais degradado, com substituição da vegetação nativa, por meio da conversão do solo para a expansão da fronteira agropecuária. O que pode ter alterado toda a dinâmica de chuva, além do aumento da insolação solar, uma vez que há suspeitas da ausência de condensação e, consequentemente, prejudica a formação das nuvens.

Conhecido como ‘cumeeira do continente’ ou de ‘berços das águas’, as mudanças na composição do Cerrado têm provocado, dentre diversos problemas ambientais, “a morte de rios”. Isso é apenas um simplório exemplo para ficar mais claro, dado a complexidade desta região, que o pesquisador Altair Sales Barbosa melhor conceituou como sistema biogeográfico, não apenas ele, mas todas as demais matrizes ambientais brasileiras, que estão interconectadas.

Neste sentido, embora não haja um empenho dos governos, universidades e sociedade voltado para a pesquisa e, com isso, apontar alternativas para o desenvolvimento econômico do Brasil com a vegetação nativa de pé. Uma vez que se avançou pouco a inovação com crédito de carbono e o programa de “produtores de água” da Agência Nacional de Água (ANA). Assim, tudo culmina para “os últimos suspiros” do Cerrado, que pode ser a peça que contribui para o desastre registrado no Rio Grande do Sul.

O climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, explicou, em reportagem do jornal Folha de S.Paulo, que com o “cenário de aquecimento global, as previsões futuras para a região Sul são de aumento de 10% a 20% da chuva anual”. Mas por outro lado, todo o resto do Brasil — no Sudeste, Centro-Oeste, na Amazônia e em grande parte do Nordeste—a previsão é de diminuição da chuva.

Este fenômeno, segundo o cientista, ocorre devido ao calor, que gera uma massa de ar quente sobre o continente. Isso significa que um planeta mais quente resulta em maior incidência de chuvas intensas e períodos de seca prolongados. À medida que os oceanos se aquecem, ocorre uma maior evaporação da água e leva a um aumento das precipitações. Além disso, uma atmosfera mais quente pode reter mais vapor d’água sem que ele se condense, o que resulta na concentração de umidade e na ocorrência de eventos climáticos extremos.

O cientista doutor em matemática aplicada, José Aluízio Ferreira, vice-presidente do Instituto Altair Sales, desenvolve um estudo preliminar que, se nada for feito, o Cerrado irá acabar como sistema ambiental conhecido até 2064. “Vai sobrar apenas os parques, no ritmo que está”, calcula. Ele faz a estimativa da destruição total do Cerrado com base em coletas de dados do MapBiomas e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Estatísticas (INPE). O marco histórico das informações é o ano de 1985.

Neste contexto catastrófico, o desaparecimento gradual do Cerrado, como importante sistema biogeográfico, ameaça não apenas a biodiversidade, mas também a estabilidade climática em todo o continente. O cenário de aquecimento global agrava ainda mais essa situação e aumenta a complexidade dos desafios ambientais. É preciso colocar o Cerrado na pauta nacional.  Se não forem tomadas medidas eficazes, o ritmo atual de destruição prevê um futuro sombrio, com implicações devastadoras para o equilíbrio ambiental e climático. Como diz o professor Altair Sales: “O Cerrado chegou ao seu clímax evolutivo”, ou seja, uma vez degradado, não há como recuperá-lo “na sua plenitude sistêmica.

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