Ao contrário de Ióssif Stálin, Vladimir Lênin usou o exílio — esteve na Inglaterra e na França — para estudar detidamente tanto a economia europeia quanto, especificamente, a economia da Rússia.

Num estudo clássico, Lênin percebeu que, contrariando as ideias de Karl Marx, era possível articular uma revolução na Rússia. O país era menos atrasado do que parecia. Era capitalista, e não, como parecia a alguns, feudal.

Lênin e Stálin: artífices de um dos sistemas repressivos mais brutais do século 20 | Foto: Reprodução

Lênin estudou também a economia dos Estados Unidos e ficou surpreso de que, num país continental, parte significativa da produção agrícola se dava em pequenas propriedades. Arguto, percebeu que eram pequenas propriedades mas, graças ao uso de tecnologia, de grande exploração.

Quando Lênin morreu em 1924, aos 53 anos, Stálin se tornou o mandachuva. No poder, o ditador promoveu um grande e brutal expurgo das velhas lideranças bolcheviques — Kamenev, Zinoviev e Bukhárin foram executados; em 1940, Liev Trótski foi assassinado no México por um de seus sicários, Ramón Mercader — e fez uma reforma agrária à força. A coletivização das terras provocou milhares de mortes e reduziu a produção agrícola da União Soviética.

Há, portanto, uma reforma agrária comunista, como a feita por Stálin, a ferro e fogo — com matança de milhares de pessoas —, e há, também, uma reforma agrária capitalista.

 Feita sob a égide do capitalismo, a reforma agrária nada tem a ver com socialista ou comunismo. Pode ser uma medida capitalista — tanto que seu pressuposto básico é criar proprietários, novos proprietários. Portanto, deve-se respeitar a propriedade. Uma terra cultivada por membros do MST — quando têm terra deixam, na prática, de pertencer ao MST? — pode ser invadida por possíveis organizações rivais? Não. Provavelmente, não.

Há terras cultivadas por membros do MST — ou ex-membros — que são produtivas. Por vezes, produzem a chamada agricultura familiar (mais variada) que alimentam feiras e supermercados, por exemplo, e são tremendamente uteis. O que prova que é positivo o Estado desapropriar algumas terras para acolhê-los.

A cova que o MST pode abrir para o PT em 2026

Mas deve o MST invadir terras produtivas para forçar o governo federal a desapropriá-las? Não. Quando desrespeita as leis, mesmo que haja um problema social, o MST está cometendo um crime.

Para a segurança e a estabilidade de todos, as leis devem ser cumpridas. Porém, se não são adequadas, precisam ser atualizadas ou, então, refeitas integralmente. Porém, enquanto o Congresso não faz isto, é imperativo cumpri-las.

Aqueles que querem invadir terras produtivas, à revelia das leis, devem pressionar o Congresso para mudar as leis. O presidente Lula da Silva, um político experiente e realista, se uniria aos que supostamente defendem isto? Não, certamente. Porque, se o fizer, não se elege mais e afunda o PT como partido político.

Governadores, como Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Elmano de Freitas (PT), do Ceará, têm de cumprir as leis — assim como o presidente Lula da Silva, do PT. Como outros governadores, Ronaldo Caiado e Elmano de Freitas são os comandantes-chefes das polícias de seus Estados e, como tal, têm de usá-las para cumprir as leis. Se a invasão de terras é ilegal, porque contraria a legislação, os governantes, inclusive os do PT, não podem assistir inermes à ação dos membros do MST ou de qualquer outro movimento.

Então, ao cumprir a lei, Ronaldo Caiado — assim com os governadores de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul — está agindo de maneira correta. Claro, no momento de se evitar as invasões ou de se retirar invasores das terras, é preciso ter cuidados especiais — para evitar possíveis atos de violência.

A fala firme e incisiva do governador Ronaldo Caiado, político cioso de sua autoridade — e autoridade não é sinônimo de autoritarismo —, “esconde”, por vezes, o homem de Estado, o estadista.

Os assentamentos de Goiás, articulados ou não pelo MST, recebem o apoio do governo de Ronaldo Caiado. Os motivos são prosaicos. Primeiro, o governador é preocupado com a questão social, inclusive com a inclusão, e não apenas com a assistência — o que aproxima o liberal do socialdemocrata europeu (Ronaldo Caiado, por sinal, estudou na França). Segundo, como homem de Estado, sabe que o governo deve servir à sociedade — a todas as pessoas — e não a determinada ideologia. Por isso, os assentamentos de Goiás são beneficiados pelo governo.

A “cova” do PT em 2026, na sucessão do presidente Lula da Silva, pode ser “aberta” pelo MST nos próximos anos. As invasões, se persistirem — se forem usadas como instrumento de pressão política —, longe de agradar ao eleitorado de centro, pode afastá-lo, em definitivo, do petismo responsável e sério.

Portanto, será mais inteligente, para o PT e para Lula da Silva, ouvir Ronaldo Caiado e outros governadores. Antes que seja, digamos, tarde.