Os recentes desdobramentos da crise na saúde de Goiânia trouxeram à tona uma realidade alarmante: a população da capital de Goiás enfrenta um sistema de saúde público desestruturado e incapaz de atender às suas necessidades básicas. A situação é tão grave que levou o Ministério Público de Goiás (MP-GO) a solicitar a intervenção estadual, após seis mortes em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) decorrentes da falta de leitos de UTI. Esse cenário representa não apenas uma falha administrativa, mas também um atentado aos direitos fundamentais dos goianienses.

As falhas no sistema são amplamente documentadas. Em inspeções realizadas pelo MP-GO, foram constatadas superlotação, condições insalubres e falta de profissionais nas unidades de saúde. O desabastecimento de medicamentos e insumos é tão grave que pacientes são obrigados a custear exames básicos, enquanto leitos hospitalares permanecem ociosos por problemas administrativos. 

A intervenção estadual solicitada pelo procurador-geral de Justiça, Cyro Terra Peres, é vista como uma medida extrema, mas necessária. Se aprovada, o estado assumiria a gestão da saúde na capital, nomeando um interventor para coordenar recursos financeiros e operacionais. Essa ação reflete o esgotamento das tentativas de remediar a situação por vias regulares e expõe a profunda crise de confiança na administração municipal.

A crise também revela um preocupante desprezo pela vida humana. Mortes de pacientes à espera de atendimento não podem ser consideradas eventos isolados, mas sim sintomas de um sistema em colapso. Dados mostram que, entre 2022 e 2024, o número de leitos de UTI em Goiânia caiu de 186 para 118. A superlotção das unidades de emergência é agravada pela falta de alternativas na atenção primária, o que transforma problemas tratáveis em casos graves e onera ainda mais o sistema.

Enquanto isso, a Prefeitura de Goiânia afirma estar trabalhando para superar as dificuldades com medidas administrativas e financeiras. No entanto, essa narrativa contrasta com a realidade de uma dívida acumulada de R$ 300 milhões com hospitais contratualizados, atraso nos pagamentos de fornecedores e desrespeito a determinações judiciais. A administração também enfrenta acusações de desvio de recursos e nomeação de profissionais sem qualificação para cargos de liderança.

A população de Goiânia não pode continuar refém de um sistema que prioriza soluções paliativas em vez de um planejamento eficaz. Os goianienses merecem um sistema de saúde que respeite sua dignidade e direito à vida. O governo estadual, por sua vez, deve encarar essa intervenção como uma oportunidade de reestruturar não apenas o sistema de saúde, mas também de restaurar a confiança da população nas instituições públicas.

É imperativo que essa crise sirva de alerta para o impacto devastador de uma gestão negligente e para a urgência de medidas estruturais. Goiânia precisa de um sistema de saúde que seja acessível, eficiente e digno, onde a vida de cada cidadão seja valorizada acima de qualquer obstáculo burocrático ou financeiro.

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