Falamos de mudanças climáticas todo dia… só não percebemos

09 setembro 2023 às 16h03

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Dia desses, saía do mercado enquanto uma mulher de meia-idade entrava acompanhada de um homem. Ambos encharcados e formando uma poça d’água na entrada do estabelecimento. “Uma chuva dessas no meio de agosto, gente! Como pode?”, comentou ela, mais para seus botões do que para o homem ao seu lado. Sob risco de cair em estereótipos, posso dizer que a mulher não tinha jeito de quem possuía, como hábito, travar longos debates sobre as alterações climáticas e os riscos que elas implicam. E mesmo assim, lá estava ela, falando sobre isso.
Alagamentos e chuvas fora de época, por exemplo, são fenômenos que afetam a população há incontáveis anos. No entanto, tem causado alarde nas autoridades justamente a intensidade e frequência assustadoras com o que essas coisas estão sendo registradas – e não é por acaso.
De acordo com um relatório organizado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) e que conta com a participação de 345 pesquisadores, o planeta entrou em aquecimento graças à emissão de gases de efeito estufa por atividades como geração de energia, transporte e desmatamento, e uma das principais mudanças fruto desse fenômeno é a alteração nos padrões das chuvas.
Ainda conforme o relatório da PMBC, nas regiões Sul e Sudeste – áreas que mais sofrem com enchentes e deslizamentos (leia-se a catástrofe que atinge, neste exato momento, o Estado do Rio Grande do Sul) – as chuvas se tornarão mais fortes e mais frequentes, o que pode propiciar, ainda mais e infelizmente, tragédias como as que estamos assistindo incrédulos e aterrorizados.
Já na região Nordeste, a tendência é exatamente oposta. A região mais castigada pela seca deve (continuar a) enfrentar de forma gradativa uma grande redução da quantidade de chuvas. As secas, que já são comuns e assolam essa região do Brasil, ficarão mais frequentes e intensas.
E é necessário destacar: Não é que as chuvas estão acima da média. O problema é que há uma maior ocorrência de tempestades, e isso é algo que é apontado dentro das mudanças climáticas.
Acontece que a questão dos efeitos das alterações climáticas deixou de ser, há décadas, um alerta do que pode acontecer, para virar uma realidade que estamos experimentando em nossa própria época. E é claro: essa “transição” ocorreu sob uma contínua narrativa de negacionistas que insistem em tratar o tema como algo distante, inflado e quase distópico.
Após tanto negarmos e postergarmos, finalmente chegamos aos tempos em que, para debatermos as alterações climáticas e seus efeitos, não precisamos ir a uma roda de conversa sobre algum filme do Al Gore: basta trocarmos comentários casuais, na fila de um supermercado, sobre o tempo que faz, naquele momento, lá fora.
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