A malha ferroviária brasileira é um patrimônio histórico e estratégico para o desenvolvimento do país. Desde a primeira estrada de ferro construída em 1854, no Rio de Janeiro, até os dias atuais, as ferrovias desempenharam um papel fundamental na integração territorial, na movimentação de cargas e passageiros, na geração de empregos e na preservação ambiental.

No entanto, a malha ferroviária brasileira também enfrentou períodos de estagnação, sucateamento, desinvestimento e desarticulação. A criação da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em 1957, que unificou as diversas empresas estatais e privadas que operavam as ferrovias, não foi suficiente para evitar a perda de competitividade do modal frente ao rodoviário, que recebeu incentivos governamentais nas décadas seguintes. A extinção da RFFSA em 1999 e a concessão de trechos da malha para a iniciativa privada também não resolveram os problemas estruturais do setor, como a falta de planejamento, regulação, fiscalização e integração.

Cenário atual

Atualmente, o Brasil possui cerca de 30 mil quilômetros de extensão de vias férreas, sendo que aproximadamente 24 mil quilômetros pertencem à malha antiga, com infraestruturas projetadas, construídas e remodeladas ao longo dos últimos 150 anos, e 5 mil quilômetros pertencem à malha nova, com infraestruturas mais modernas e padronizadas. Essa extensão é considerada pequena em relação ao tamanho do território e às necessidades de transporte do país, principalmente se comparada com a de outros países que apresentaram mais desenvolvimento econômico e social.

Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em 2020 o Brasil transportou cerca de 538 milhões de toneladas úteis (TU) de cargas por ferrovias, o que representa apenas 15% da matriz de transporte nacional. A maior parte das cargas transportadas por ferrovias são produtos agrícolas, minerais e siderúrgicos. Já o transporte de passageiros por ferrovias é praticamente inexistente no Brasil, com exceção de alguns serviços metropolitanos e turísticos. Em outros países, como China, Estados Unidos, Rússia e Índia, o transporte ferroviário é muito mais expressivo, tanto em termos de carga quanto de passageiros.

O transporte ferroviário apresenta diversas vantagens em relação aos demais modais, como maior capacidade de carga, menor custo operacional, menor consumo de combustível, menor emissão de poluentes, maior segurança e menor impacto no trânsito urbano. Por isso, é fundamental que o Brasil invista na expansão e na modernização da sua malha ferroviária, buscando aumentar a participação do modal na matriz de transporte nacional e oferecer melhores serviços à população e ao setor produtivo.

Projetos em andamento

Nesse sentido, existem alguns projetos em andamento ou em estudo para ampliar a malha ferroviária brasileira. Um deles é o Programa Nacional de Segurança Ferroviária em Áreas Urbanas (PROSEFER), que visa eliminar os conflitos entre ferrovias e vias urbanas por meio da construção de viadutos, passarelas, passagens inferiores e superiores. Outro projeto é o Programa de Investimentos em Logística (PIL), que prevê a construção ou a concessão de novas ferrovias para integrar as regiões produtoras aos portos e aos mercados consumidores. Alguns exemplos são as ferrovias Norte-Sul, Transnordestina, Oeste-Leste e Bioceânica.

Além disso, há também projetos para implantar ou revitalizar serviços de transporte de passageiros por ferrovias no Brasil. Um exemplo é o Trem de Alta Velocidade (TAV), que pretende ligar as cidades de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, com velocidade média de 250 km/h. Outro exemplo é o Trem Intercidades (TIC), que pretende conectar as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Sorocaba, Santos, Vale do Paraíba e Baixada Santista, com velocidade média de 160 km/h. Há também projetos para recuperar ou implantar serviços ferroviários regionais e turísticos em diversos estados, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Bahia.

Em conclusão, a malha ferroviária brasileira é um ativo estratégico para o desenvolvimento do país, que precisa ser valorizado, ampliado e modernizado. Para isso, é necessário que haja uma política pública de longo prazo, que envolva os diversos atores do setor ferroviário, como governo, concessionárias, operadoras, usuários, trabalhadores e sociedade civil. Somente assim será possível aproveitar todo o potencial do transporte ferroviário no Brasil, contribuindo para a melhoria da mobilidade, da logística, da economia e da qualidade de vida da população.