Violência. Palavra simples, mas que reflete o cotidiano vivido hoje pelos brasileiros e, especialmente, os moradores das periferias. Não precisamos ir às grandes cidades consideradas os berços de facções, como Rio de Janeiro e São Paulo, para presenciar mortes entre guerras pelo controle do tráfico ou em ações policiais. Em Goiás também ocorre isso, principalmente em bairros mais afastados ou em desenvolvimento. 

Digo com clareza. Não é achismo, mas vivência. Cresci em um bairro humilde, que faz divisa entre Aparecida de Goiânia e Aragoiânia. Quando conto histórias da infância e adolescência, principalmente dos acontecimentos vivenciados por mim, muitas pessoas não acreditam e até caçoam: “vivia na guerra?”.

Não, meus amigos, mas a periferia é diferente dos setores de alto padrão. Drogas e criminalidade, querendo ou não, acabam se tornando comuns para pessoas que vivem nestas regiões, mesmo que “sejam pessoas de bem”. Isso, inclusive, pode influenciá-las. Como diz o trecho da música “A Vida é Desafio”, dos Racionais MC’s: “a atividade do mal influencia a minoria boa”. 

Quantos conhecidos, colegas e amigos de infância caíram na tentação do “dinheiro fácil” e se perderam no submundo do crime. De todas as pessoas da faixa etária da minha idade (23 anos), de que tenho conhecimento, com quem joguei bola, soltei pipa, apenas quatro ainda estão vivas. Dois, porém, se envolveram com drogas.

Eles foram mortos pela polícia ou por rivais (a grande maioria) ainda muito novos, menores de idade ou no início na maior idade. Porém, quem pode julgá-los? Famílias desestruturadas e ausência do Estado deram o tom da realidade para todos eles.

O primeiro a ser morto, Júnior ou Juninho (me chamava de astronauta), além de não conhecer o pai, vinha de uma família de bandidos. A mãe, que era prostituta, foi estuprada e depois morta por estrangulamento por um cliente. O corpo dela foi achado dias depois do desaparecimento, em uma cisterna desativada na rua debaixo de ontem morávamos.

Sem pai ou mãe, e com o irmão preso. Qual destino aguardava o finado Juninho, que foi morto a tiros enquanto soltava pipa em um acampamento abandonado do setor? Existem “vários Goiás”, vários Brasis, e definitivamente o sol não brilha com a mesma intensidade para todos.