A política goiana dentro do armário

07 junho 2023 às 14h26

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No mês do orgulho LGBTQIAP+, o pastor André Valadão “lacrou” na internet com o discurso de ódio em defesa da família tradicional brasileira. “Deus odeia o orgulho”. Essa foi a frase publicada em uma imagem compartilhada pelo líder da Igreja Batista Lagoinha nas redes sociais.
Não demorou para que surgissem figuras públicas repudiando a mensagem, como foi o caso da cantora Claudia Leitte e da deputada federal Erika Hilton (Psol – SP). No entanto, infelizmente, a fala de André representa o que pensa uma parcela significativa da sociedade – cada vez menor, quero crer. E isso é algo que sempre me intrigou: como uma pessoa que acredita que Deus é amor e reproduz tanto ódio?
É fato: a Igreja – e não só a evangélica – tem sua parcela de culpa na opressão da comunidade LGBTQIAP+. Quando alguém se assume gay, lésbica, bi – ou toma pra si qualquer outra letra dessa sigla – enfrenta o preconceito. Olhares tortos, piadinhas de mau gosto e violências – de todos os tipos – são rotina na vida dessas pessoas até mesmo antes de se assumirem. E isso contribui para que muita gente se tranque no armário e jogue a chave fora.
Quer um exemplo? A política. Vamos pensar no contexto de Goiás. Hoje não há, nem no Legislativo nem no Executivo, nenhum político assumidamente gay (ou lésbica, ou trans, ou bi etc). Mas isso não significa que eles não estejam por aí.
Nos bastidores, muito se comenta sobre a orientação desse ou daquele político. Comentários muitas vezes infundados, é claro. E isso torna ainda mais difícil alguém com cargo público se assumir. Políticos precisam de apoio de todos os lados para serem eleitos. Poderia um gay ter o apoio da Igreja, por exemplo? Muito pouco provável.
Nas últimas eleições, dois candidatos assumidamente gays bateram na trave: Matheus Ribeiro (PSDB) saiu das urnas como suplente de deputado federal e Fabrício Rosa (PT) está na suplência na Assembleia. Se não fossem assumidos, teriam mais votos e estariam eleitos? É algo pra refletir.
Ambos não se elegeram por pouco, mas ambos têm motivos para comemorar. Cada voto que tiveram representa menos um eleitor preconceituoso. Matheus, inclusive, que já aparece como um possível candidato a prefeito Goiânia, é a prova viva de que há espaço para políticos que falam abertamente sobre homossexualidade nos partidos. Pode – quem sabe – vir a se tornar o Eduardo Leite da política goiana.
E a intenção desse texto não é arrombar nenhum armário. Longe disso. Não há nada mais homofóbico do que revelar a orientação sexual de alguém à força. O objetivo aqui é a reflexão. Até porque a comunidade LGBTQIAP+ na política em Goiás é muito maior do que se possa imaginar. Ocupam cargos no Legislativo e no Executivo, do primeiro até o último escalão.
Não acredita? Tire a prova: abra um aplicativo de paquera gay em algum prédio público e espere para ver quantos “matchs” você terá. Aposto que irá se surpreender. É tanta gente no armário que já daria pra chamar de “closet”.