Wagner Bandeira
Especial para o Jornal Opção

Ao completar 15 anos de sua criação, o Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (Ciar) mantém-se como espaço de apoio e capacitação para o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) e na implementação da modalidade de Educação a Distância (EaD) na Universidade Federal de Goiás, sempre primando pela articulação entre a qualidade na educação e a inovação pedagógica e tecnológica em seus processos.

A despeito das diversas preocupações, por vezes justificadas, acerca das consequências negativas que essa modalidade pode trazer aos processos de gestão e práticas educacionais, a realidade da implementação dos cursos em EaD na UFG, seja em nível de graduação ou de pós-graduação e nas diversas formações continuadas, mostram como é possível obter bons resultados a partir do uso das tecnologias digitais de informação e comunicação e das metodologias adequadas, não somente para uma formação de qualidade, como também para a maior democratização no acesso à universidade.

Surgido em 2007, no contexto do lançamento do programa federal Universidade Aberta do Brasil (UAB), o Ciar tem acompanhado os diversos projetos de criação de cursos em EaD e dado apoio por meio de programas de capacitação para docentes, tutores e estudantes, suporte tecnológico e pedagógico para o ambiente virtual de aprendizagem institucional, desenvolvimento de materiais pedagógicos nos diversos suportes – impresso, digital e audiovisual –, apoio na gestão financeira dos recursos oriundos dos programas, além do apoio na publicidade e divulgação dos cursos.

Os primeiros movimentos no sentido de se implementar oficialmente as ações de EaD na universidade aconteceram, na verdade, no início dos anos 2000, com a criação do Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação a Distância, a UFG Virtual. Na época, o órgão estava vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFG, quando a universidade participou, por meio de algumas unidades acadêmicas, de diversos projetos de cursos, convênios e programas voltados ao uso das TDIC e na modalidade a distância.

Em 15 anos, a UFG já ofereceu mais de 40 cursos na modalidade a distância, tendo formado mais de 12 mil estudantes

Desde o princípio sintonizados com sua missão de “gerar, sistematizar e socializar o conhecimento e o saber, formando profissionais e indivíduos capazes de promover a transformação e o desenvolvimento da sociedade”, os projetos que atuaram no sentido de implementar a EaD na universidade sempre primaram pela qualidade na educação, viabilizando democratizar o acesso por meio da interiorização dos cursos, no sentido de  permitir a participação de estudantes das mais distantes localidades dentro, e algumas vezes fora, do estado de Goiás, atendendo às necessidades diversas dos estudantes.

Neste período de 15 anos, a UFG já ofereceu mais de 40 cursos na modalidade a distância, nos níveis de graduação, especialização e mestrado, além de cursos de aperfeiçoamento e extensão, tendo formado mais de 12 mil estudantes. Os dados detalhados sobre esses cursos podem ser encontrados no site do Ciar, assim como o registro da linha do tempo da EaD na UFG, com destaque para os diversos avanços no campo da educação.

Dos diversos impactos causados pela pandemia da Covid-19, particularmente nos seus dois anos iniciais, 2020 e 2021, os modos de se fazer educação escolar foram, sem dúvida, dos que mais deixaram sequelas em todos os seus membros. A implementação, na maioria das vezes forçada e sem um planejamento adequado, das TDIC nas escolas em seus diversos níveis de formação, resultou em uma série de desdobramentos, seja no modo de se pensar o uso dessas tecnologias, seja nas lacunas de formação por parte dos sujeitos aprendentes.

O chamado Ensino Remoto Emergencial (ERE), adotado como uma forma de atender à demanda pelo acesso à universidade durante o período de isolamento social causado pela pandemia, se constituiu basicamente de um transplante forçado das atividades presenciais de sala de aula para o ambiente online. Por acontecer em um contexto em que não se sabia quanto tempo ficaríamos isolados e pela necessidade urgente de evitar maiores prejuízos no cumprimento do fluxo curricular dos estudantes, o ERE se estabeleceu a partir de um planejamento limitado às condições disponíveis e pela falta de uma capacitação e infraestrutura adequadas para uma caracterização como modalidade a distância. O que era previsto para durar 6 meses, acabou se estendendo por 2 anos, quando, finalmente após o acesso à vacinação e às condições de controle da contaminação, pudemos retornar gradativamente aos espaços presenciais.

Uma das consequências desse período foi o surgimento de dois modos de pensar o uso das TDICs e a EaD na comunidade universitária e na população em geral: o primeiro, resistente à EaD e preocupado com sua entrada na universidade, por não saber o que é EaD; e o segundo, deslumbrado com a modalidade, e sedento por implementá-la imediatamente nos cursos, também por não saber o que é EaD. De fato, se há algo em comum entre o Ensino Remoto Emergencial e a modalidade Educação a Distância, é o fato de ambos fazerem um uso intenso de algumas tecnologias que permitem o contato remoto entre os participantes no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, esse uso é significativamente distinto, a ponto de ser consenso entre acadêmicos e profissionais que trabalham na área o entendimento de que não se trata, absolutamente, de sinônimos.

Para que se tenha um curso na modalidade a distância, diversos fatores precisam ser minimamente considerados. Dentre eles, destaco: a adequação de metodologias e de estratégias didático-pedagógicas utilizadas, o acesso democrático às tecnologias e a capacitação dos atores envolvidos. No que tange à metodologia, pode-se ressaltar o fato de que uma das características da EaD é que, por distância, entende-se não somente o afastamento geográfico entre professores e alunos, mas também a dispersão no tempo, em que os acessos aos conteúdos e atividades na maioria das vezes acontece de forma assíncrona, ou seja, em momentos distintos. O estudante pode, por exemplo, acessar um conteúdo à noite, enquanto seu colega só trabalhará no mesmo material na manhã do dia seguinte. Isso, por si só, já demanda um modo específico de se pensar como será organizado o conteúdo, uma vez que reuniões síncronas, ou seja, ao mesmo tempo, podem não ser possíveis.

Ao contrário do que diz o senso comum, boa parte dos cursos na modalidade EaD, particularmente em nível de graduação, preveem encontros presenciais

Ao contrário do que diz o senso comum, boa parte dos cursos na modalidade EaD, particularmente em nível de graduação, preveem encontros presenciais, algumas vezes para avaliação, outras para práticas laboratoriais, estágios e atividades de campo. Esses momentos presenciais, no entanto, não desconfiguram a natureza da modalidade e constam do planejamento das disciplinas, acontecendo muitas vezes em polos espalhados pelo País, mantidos por meio de convênios firmados entre as universidades e instituições públicas de diversos níveis. Isso permite que estudantes possam não somente frequentar esses momentos presenciais em locais próximos às suas residências, como também ter acesso a recursos tecnológicos que não conseguiriam em suas casas, como computadores e conexão à Internet.

Por outro lado, o uso de um ambiente virtual de aprendizagem para disponibilizar textos para leitura nas disciplinas ou a realização de alguns encontros síncronos por meio de ferramentas de webconferência não são suficientes, por si só, para caracterizar um curso como sendo na modalidade a distância, tendo em vista que o uso de tecnologias não é o único e, nem tampouco, o principal paradigma definidor da modalidade. Há a exigência de uma adequação no material didático de acordo com a natureza do conteúdo apresentado. Na maioria das vezes, são exigidas soluções tecnológicas próprias, como a produção de vídeos no formato de animações, documentários, filmes ou no desenvolvimento de jogos multimídia, e-books responsivos, além do uso adequado de recursos dos ambientes virtuais de aprendizagem, como fóruns, wikis, ferramentas de avaliação, dentre outros.

Tudo isso para garantir ao estudante a participação ativa no processo de ensino-aprendizagem que, mesmo à distância, não dispensa as práticas colaborativas e de inclusão social que caracterizam o sentido amplo da Educação. Para que tudo isso seja possível, é imprescindível uma capacitação específica na área, principalmente para que seja compreendido que se tratam de práticas que diferem daquelas adotadas em aulas presenciais, com as quais a maioria dos docentes, habituados com a sala de aula tradicional, não possuem familiaridade.

Por tudo isso, urge à comunidade acadêmica e em geral entender que as experiências trazidas com o ERE não servem de parâmetro para críticas à EaD, nem tampouco para sua exaltação, pois se tratam de contextos e especificidades completamente distintas. O que se conclui é que, se podemos estar convictos que muita coisa se perdeu nesse caminho da implementação de uma modalidade emergencial de ensino, há de se observar que houve também avanços que precisam entrar nas próximas pautas que discutirão os rumos da educação daqui por diante. Neste sentido, a UFG trabalha incansavelmente no sentido de adequar essa modalidade às demandas da sociedade e da comunidade acadêmica, como já dito, primando pela qualidade, democratização da educação e inovação em suas variadas possibilidades.

Wagner Bandeira é diretor do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (Ciar/UFG).